Conhecida por grande parte da população mundial, a Cannabis é alvo de discussão desde que a sua descoberta para fins medicinais foi reconhecida. Em função do preconceito, em diversas partes do planeta, a Cannabis ainda não é aceita para o tratamento de doenças, devido à disseminação do uso recreativo – como droga.
No Brasil, o acesso à Cannabis Medicinal é permitido desde 2015, quando famílias pressionaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para conseguirem a obtenção do medicamento de maneira legal para seus entes queridos, com quadros graves de convulsão, Alzheimer etc, que eram refratários aos tratamentos convencionais.
A Cannabis no mundo
Somente em 2019 a Organização Mundial da Saúde (OMS) manifestou sua posição reconhecendo o uso terapêutico da Cannabis, retirando a planta da lista de drogas mais perigosas.
Hoje encontramos um número crescente de países que permitem legalmente o tratamento com a Cannabis medicinal – além de outros usos, na indústria alimentícia, têxtil, de construção, etc…
Mas nem sempre foi assim. Apesar de, historicamente, a planta ser utilizada há mais de cinco mil anos para as mais diversas finalidades, tanto medicinais quanto em diferentes religiões, na indústria têxtil, de cordoaria e outras, no começo do século XX a substância foi criminalizada e proibida, entrando para o status de “droga”.
É interessante lembrar que até o final da última década do século XIX eram vendidos xaropes, cigarrilhas e outros medicamentos à base de Cannabis Medicinal, seguindo o que era preconizado em tratados milenares de medicina. Também o cânhamo – outra denominação para a planta da Cannabis – era largamente utilizado para a confecção de cordas, papéis e tecidos bastante resistentes, bem como na construção de edificações, para garantir sua durabilidade e boa estrutura. Com as sanções impostas ao uso da Cannabis em geral, toda essa herança cultural foi condenada ao esquecimento por um bom tempo.
Porém, a partir da década de 60, quando seu uso foi comprovado quimicamente na medicina, o preconceito acerca do tema começou a aparecer.
A comprovação do potencial medicinal
Essa nova fase na história da planta se iniciou quando, em 1963, o químico israelense, Raphael Mechoulam, descobriu a possibilidade da extração dos canabinóides na planta para uso na medicina moderna. A planta possui mais de 145 substâncias canabinóides, além de terpenos e outros compostos, que vêm sendo estudados pela ciência.
De maneira geral, os canabinóides são substâncias presentes na Cannabis e são os componentes medicinais presentes na estrutura da planta, usados para o tratamento de doenças. Os mais conhecidos e estudados hoje são o canabidiol (CBD) e o tetra-hidrocanabinol (THC).
Estas substâncias se ligam à receptores existentes no organismo, que fazem parte do Sistema Endocanabinóide – também descoberto por Mechoulam – que é responsável pelo equilíbrio na produção de inúmeras substâncias reguladoras de funções importantes do nosso corpo, como o sono, disposição, humor, imunidade, dor, entre outros. O próprio corpo, quando saudável, produz compostos canabinóides, que se ligam a receptores específicos, para aumentar ou diminuir a produção das substâncias reguladoras das funções corporais. Estes compostos canabinóides são produzidos somente por demanda e não ficam acumulados ou guardados em nenhuma parte do corpo.
Quando o corpo está doente, o Sistema Endocanabinóide entra em desequilíbrio. Se a produção de endocanabinóides não é suficiente para retomar o equilíbrio saudável, seja no âmbito físico, seja no psíquico, seja no metabólico, pode-se recorrer aos fitocanabinóides – como o CBD e o THC.
Cada uma dessas substâncias pode ser encontrada na planta em maior ou menor quantidade, dependendo de qual das três subespécies da Cannabis – definidas por estudos científicos – for feita a extração.