E no começo era o Sistema Endocanabinóide. Sim, ele poderia ser o “Verbo” no início da vida na Terra. O Sistema Endocanabinóide está presente em praticamente todos os seres vivos (com exceção de protozoários e insetos) e regula funções básicas de manutenção à vida, como: fome, sono, reações de luta e fuga, temperatura corporal, defesa do organismo, fertilidade, gravidez, sensação de dor, humor e memória. E ele pode sim ser estimulado com a prática de atividades físicas.
O Sistema Endocanabinóide (SEC) produz as substâncias endocanabinóides, que “ligam” e “desligam” hormônios, processos inflamatórios e dolorosos em nosso organismo. Como o próprio nome já demonstra, o nosso corpo fabrica substâncias semelhantes aos compostos da planta Cannabis sativa, chamadas então de fitocanabinóides. Os mais estudados até o momento por suas propriedades medicinais, num universo de mais de cem fitocanabinóides, são o CBD e o THC.
Estes fitocanabinóides se ligam aos receptores do SEC – CB1 e CB2 – da mesma forma que os nossos endocanabinóides e, por este motivo, conseguem ser usados terapeuticamente para reequilibrar este Sistema, quando o corpo adoece.
Entretanto, podemos utilizar outros mecanismos para estimular o bom funcionamento do SEC, auxiliando, inclusive, durante o uso da terapia canabinóide.O exercício físico é um dos recursos disponíveis, e é disso que falaremos neste artigo.
Sistema Endocanabinóide, doenças metabólicas e exercícios físicos
Já sabemos que movimentar-se traz alterações no sistema cardiorrespiratório, no metabolismo de quebra de gordura e até no processo cognitivo.
A prática de exercícios – especialmente os que são prazerosos para a pessoa – produz um equilíbrio no funcionamento do Sistema Endocanabinóide e pode melhorar distúrbios metabólicos, segundo estudo da Universidade Médica de Bialystok,, na Polônia. Segundo esta pesquisa, entender como o sistema Endocanabinóide é afetado pela prática de exercícios físicos pode mudar a forma de tratar doenças metabólicas.
O SEC, segundo inúmeros estudos citados nessa pesquisa, pode estar amplamente envolvido na regulação do balanço energético e do comportamento alimentar através de mecanismos regulatórios centrais e periféricos no organismo. A regulação do equilíbrio do hipotálamo está intimamente ligada com os mecanismos de fome e ingestão de alimentos – e o hipotálamo é uma das áreas de ação principal do Sistema Endocanabinóide.
Ou seja, um SEC em bom funcionamento mantém o mecanismo saudável da fome e da absorção dos nutrientes, podendo ajudar no controle:
– da obesidade,
– da esteatose hepática não alcoólica (gordura no fígado),
– da resistência à insulina (que pode provocar diabetes tipo 2).
Os mecanismos de adoecimento, nestas doenças, têm relação com a atividade do receptor canabinóide CB1. Tentando simplificar ao máximo o entendimento, o desequilíbrio na atividade do CB1 pode provocar atividades inflamatórias em locais específicos do organismo, levando a uma reação em cadeia, com alteração das atividades metabólicas intracelulares, que culminam em mau funcionamento de órgãos e sistemas do corpo.
Exercícios físicos ativando o SEC
Fica claro pensar que podemos ajudar ainda mais no processo de recuperação se tivermos uma prática física constante, de curta duração e diária, quando sabemos que esta estimula a liberação de substâncias endocanabinóides, como visto em uma revisão de estudos na Libert Pub.
O corpo humano é maravilhoso. Quando a atividade física leva ao limite nosso sistema músculo esquelético e cardio respiratório, causando pequenas lesões e pontos inflamatórios no organismo, o Sistema Endocanabinóide é rapidamente ativado para “reparar os danos”. É neste momento que a Anandamida circulante traz a sensação de analgesia, bem-estar generalizado – o que é chamado tecnicamente de “alta do corredor”, pois muitos vivenciam essa sensação agradável de “superar os limites do corpo”, não ver o “tempo passar”, e, após o exercício, a euforia e bem-estar que o acompanha por horas.
O AG-2 também está presente, ativando o sistema imunológico, combatendo os “focos inflamatórios” e estimulando a recuperação de tecidos. Por ter uma forte atuação nos tecidos cerebrais, é o AG-2 que ajuda a diminuir a inflamação que também se apresenta no cérebro, em pessoas que sofrem com ansiedade e depressão.
Portanto fica claro o motivo pelo qual a prática física ajuda a melhorar os quadros ansiosos e depressivos. Afinal, os endocanabinóides agem no corpo como um todo: se existe inflamação, por exemplo, no bíceps do braço, na panturrilha da perna e no cérebro, todas estas áreas serão “tratadas” pelos endocanabinóides.
Estudos sobre a Alta do Corredor
A muitos anos atrás falava-se das endorfinas como responsáveis pela “alta do corredor”, porém estudos mais recentes mostraram que estas não conseguiam penetrar com facilidade no cérebro. Outros estudos, porém, mostram que os canabinóides, por serem moléculas lipofílicas, conseguem penetrar facilmente na barreira hematoencefálica, o que explica satisfatoriamente a “alta do corredor”.
Num ótimo artigo no Sage Journals, onde os autores trouxeram uma robusta revisão de literatura, verificaram que, em exercícios agudos, 82% dos artigos relataram aumento no nível de Anandamida e 52% dos artigos relataram o aumento do 2-AG.
Também nestes estudos foi verificado que após os exercícios agudos ou de longo prazo, eram observados efeitos positivos na ansiedade e no humor.
Endocanabinóides circulando, bem-estar voltando
Em muitas patologias já foi constatado que o número de endocanabinóides circulando no organismo é mais baixo – o que explicam quadros clínicos como inflamação que não cessa, quadros dolorosos, presença de ansiedade e/ou depressão, insônia etc.
Realizar exercícios (aeróbicos, como corrida, bicicleta, esteira, ou mesmo ioga, dança etc) aumenta o nível de endocanabinóides circulantes, como já foi demonstrado em alguns estudos. Além da pessoa se sentir mais disposta, menos ansiosa, sente menos dor, tem um sono melhor etc.
Temos dois endocanabinóides que são liberados pelo nosso corpo sob demanda e, assim que cumprem sua função, são metabolizados por enzimas específicas para esse fim. São eles: a Anandamida e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG).
A Anandamida pode ter efeitos analgésicos, ansiolíticos e antidepressivos. Já o 2-AG é um lipídio de sinalização no sistema nervoso central que age como um regulador chave da liberação de neurotransmissores.
Quando a Anandamida fica mais tempo em circulação no organismo, a sensação de bem-estar generalizado – menos dor, mais disposição etc – se mantém por mais tempo. Ela só fica circulando quando há um bloqueio da enzima que a degrada.
É aí que entram os fitocanabinóides. O CBD, por exemplo, bloqueia a enzima que degrada a Anandamida, e esta continua a agir no organismo.
CBD beneficiando atletas
Em um estudo controlado e randomizado com atletas conduzido pela Universidade de Sidney, Austrália, concluiu que o CBD parece alterar algumas das principais respostas fisiológicas e psicológicas ao exercício aeróbico sem prejudicar o desempenho. Estudos maiores são necessários para confirmar e entender melhor esses achados preliminares, mas estes já comprovam que o CBD pode ser usado com segurança pelos atletas.
Este mesmo estudo cita que 26% dos jogadores profissionais de rugby britânicos pesquisados em um estudo recente relataram usar ou já usaram CBD. As razões mais comuns para o uso foram para melhorar a recuperação (80%), melhorar o sono (78%), reduzir a ansiedade (32%) e para “outros” propósitos médicos (14%; por exemplo, concussão).
A Agência Mundial Antidoping (WADA) também tirou o CBD da lista de substâncias proibidas para os atletas, que hoje podem se beneficiar de seu uso, no pré e pós treino. Estes precisam utilizar o CBD isolado, pois qualquer traço de THC pode retirá-los de competições.
Entretanto, esportistas não profissionais podem utilizar as formulações com THC e outros canabinóides, como é o caso de vários produtos autorizados pela Anvisa, com teor controlado de THC, seja com o CBD isolado, seja no óleo Full ou Broad Spectrum.No princípio de nossa saúde, está o bom funcionamento do Sistema Endocanabinóide.
Se o estímulo por exercícios físicos diários não forem suficientes para alcançar o bem-estar que você precisa, e quiser implementar a terapia canabinóide em seus cuidados de saúde, fale com nosso Suporte, para receber todas as orientações necessárias.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.