O canabidiol (CBD) é um dos fitocanabinóides presentes na Cannabis Medicinal com inúmeras propriedades terapêuticas, entre elas, seu potencial antidepressivo, podendo ser utilizado como adjuvante nos tratamentos convencionais, como afirmaram, em entrevista para o Jornal USP, autores de um estudo na mesma instituição. Eles estimam que o canabidiol possui este efeito antidepressivo por induzir uma resposta mais rápida do que os fármacos convencionais e que sua associação no tratamento é capaz de melhorar a resposta dos medicamentos utilizados atualmente.
Além disso, inúmeras pesquisas concluíram que a Deficiência Clínica de Endocanabinóides – um desequilíbrio de origem hereditária – pode explicar inúmeras síndromes que estão intimamente relacionadas com a depressão, como, por exemplo, a fibromialgia, intestino irritável e enxaqueca.
Neste artigo vamos trazer informações importantes para explicar como o CBD pode ajudar em transtornos depressivos, seja de origem interna, seja causada por exposição contínua a fatores estressantes que alteram o funcionamento do Sistema Endocanabinóide (SEC), embasadas em diversas pesquisas dos últimos anos.
Cannabis medicinal não é “maconha”
Durante muitos anos as pesquisas realizadas com o uso da Cannabis não focava no viés medicinal, mas em seu uso recreativo – o que pressupõe, imediatamente, o uso de espécies da Cannabis com alto teor de THC, o único fitocanabinóide com propriedades alucinógenas e que pode causar mal-estar, náuseas, vômito e, inclusive, dependência química. Muitas destas pesquisas tinham como foco o uso recreativo e associavam o uso da “maconha” ao início de episódios depressivos ou até surtos psiquiátricos nos seus consumidores – ligando o vício ao surgimento de outros transtornos.
Com a descoberta do CBD e, mais tarde também de outros fitocanabinóides com inúmeros potenciais terapêuticos, sem causar dependência, alucinações ou efeitos colaterais graves, as pesquisas começaram a mostrar:
- que o THC pode ter propriedades terapêuticas, em baixas concentrações (o que veio a beneficiar inúmeros pacientes com quadros neurológicos), e propriedades alucinógenas somente em altas concentrações;
- que o CBD e outros canabinóides presentes no óleo extraído da Cannabis são moduladores naturais dos efeitos alucinógenos do THC e também da sua capacidade de causar dependência;
- que indivíduos que buscam o uso recreativo da maconha possuem condições genéticas que predispõem a desenvolver não só a depressão, mas psicose e esquizofrenia também. Em resumo, a busca por uma droga de efeito calmante e relaxante já seria reflexo de uma inquietação interna que queriam deixar de sentir.
- que o uso do CBD, em uma única dose, pode fazer efeito por sete dias, estimulando a produção de uma neurotrofina importante para a sobrevivência neuronal e neurogênese, que é o processo de formação de novos neurônios no cérebro e implicada diretamente com o processo neuroquímico da depressão.
- Pesquisas bem embasadas demonstraram uma deficiência no Sistema Endocanabinóide (SEC) na regulação de neurotransmissores, presentes tanto em pacientes com sintomas depressivos, quanto naqueles que buscaram drogas de abuso antes das primeiras manifestações de sua doença.
Para compreender como o CBD auxilia nos transtornos depressivos, vamosapresentar agora a relação do SEC com a manifestação destes transtornos num indivíduo.
Sistema Endocanabinóide em desequilíbrio
Já está bem consolidado o conhecimento de que o Sistema Endocanabinóide é um regulador pré homeostático de todas as funções do organismo. É ele o responsável por produzir e catalisar os endocanabinóides em nosso organismo.
Sabe-se hoje que cada indivíduo possui um funcionamento particular do SEC, como uma impressão digital. Segundo uma teoria apresentada pela primeira vez em 2001, o “tom endocanabinóide” de cada indivíduo seria um reflexo dos níveis dos endocanabinóides, anandamida (araquidonil etanolamina) e 2-AG (2-araquidonoil glicerol), sua produção, metabolismo, abundância relativa e estado dos receptores canabinóides. Segundo esta mesma teoria, em certas condições, sejam congênitas ou adquiridas, o tônus endocanabinóide torna-se deficiente e gera diversos quadros patológicos.
É o caso da fibromialgia, um distúrbio com associações claras com a depressão e ansiedade, alterações no ciclo do sono e quadros inflamatórios no trato intestinal. Todos estes quadros patológicos têm maior prevalência em mulheres, relação direta com alterações hormonais, que, por sua vez, são controladas pelo sistema endocanabinóide.
CBD: regulando o SEC auxiliando o tratamento da depressão
O canabidiol (CBD) é um fitocanabinóide que estimula o bom funcionamento do SEC, quando este apresenta algum desequilíbrio, como explicamos anteriormente, seja de causa genética, seja devido a condições adquiridas ao longo da vida, devido, por exemplo, a longos períodos de stress, má alimentação, sedentarismo, contato com elementos químicos que desestabilizam receptores canabinóides ou a produção e captação de endocanabinóides.
Por este motivo, ao se utilizar o CBD como adjuvante no tratamento da depressão, consideramos os efeitos terapêuticos como antidepressivo, anti inflamatório, regulador da microbiota intestinal, regulador do ciclo do sono e outras condições que podem estar associadas ao quadro depressivo.
O início do uso da Cannabis Medicinal em quadros depressivos se iniciou devido ao fato de que muitos pacientes não apresentam melhoras com os medicamentos tradicionais e/ou apresentam efeitos colaterais importantes, que inviabilizam a continuidade do tratamento.
O que dizem os estudos sobre o assunto?
As constatações de que o uso da Cannabis Medicinal poderia ajudar em quadros depressivos vieram de diferentes – e interessantes – pesquisas, como é o caso de uma citada no Project CBD, ligando a prática de exercícios com a produção do endocanabinóide anandamida (ananda, em sânscrito, significa felicidade).
Nesta pesquisa, mulheres diagnosticadas com transtorno depressivo maior foram designadas para uma rotina de exercícios moderados envolvendo apenas 30 minutos de ciclismo. Essa rotina aumentou os níveis de anandamida e diminuiu os sentimentos depressivos.
Fazendo exames de sangue antes e depois dos exercícios, constatou-se que os níveis de endocanabinóides são frequentemente diminuídos em pacientes com depressão.
O uso do CBD consegue equilibrar o Sistema Endocanabinóide e melhorar o nível de endocanabinóides, da mesma forma que os exercícios, mas com resultados mais duradouros para o paciente.
Uma pesquisa comprovou que o Sistema Endocanabinóide é o responsável pela resposta do organismo a situações de estresse social – aumentando a concentração de endocanabinóides, tanto em indivíduos saudáveis quanto em indivíduos com depressão. Entretanto, a mesma pesquisa mostrou que os indivíduos depressivos, mesmo em repouso, tinham níveis menores de endocanabinóides circulando no organismo, comparados com os saudáveis. Isso implica uma resposta pior a situações de stress social no dia a dia.
Outra pesquisa constatou uma variante genética ligada ao receptor canabinóide 1 (CB1), presente tanto em pacientes com depressão quanto com ansiedade.
Um terceiro estudo demonstrou que quanto menor era a quantidade do endocanabinóide 2-araquidonilglicerol (2-AG) no soro de pacientes femininas ambulatoriais, maior era a duração do episódio depressivo.
Um último estudo também deixa clara a relação entre nível de endocanabinóides circulantes e/ou de receptores CB1 ativos no organismo com a ansiedade e depressão. “ O aumento da sinalização endocanabinóide tem efeitos ansiolíticos, enquanto o bloqueio ou deleção genética dos receptores CB1 tem propriedades ansiogênicas. O aumento da sinalização endocanabinóide também parece ter ações antidepressivas e, em alguns ensaios, o bloqueio e a deleção genética dos receptores CB1 produzem fenótipos depressivos.”
CBD: um recurso promissor na depressão
O uso do CBD como adjuvante no tratamento de transtornos depressivos, portanto, é importante, visto que ele estimula o bom funcionamento do Sistema Endocanabinóide, independente do motivo pelo qual ele esteja produzindo menos endocanabinóides – seja genético, seja o contexto ambiental que o paciente esteja envolvido.
Certamente, nos próximos anos os profissionais de saúde precisarão englobar, no tratamento heterogêneo da depressão, a modulação do SEC e, consequentemente, dos endocanabinóides. Esta modulação com o CBD é promissora, pois com uma só substância temos a possibilidade de auxiliar o paciente em vários quadros coligados com a depressão, com efeitos rápidos e sustentados, principalmente por seu papel neurogênico, que culmina em recuperar circuitos neurais que estão prejudicados na depressão.Quer saber como iniciar um tratamento, encontrar um profissional prescritor ou, se for profissional, começar a prescrever? Fale com nosso Suporte para todas estas orientações.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.