A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença autoimune, crônica, que afeta o sistema nervoso central. Em doenças autoimunes, as células imunológicas invertem seu papel e ao invés de protegerem o organismo do indivíduo, passam a agredi-lo, produzindo inflamações. No caso da EM, elas afetam a bainha de mielina – uma capa protetora que reveste os axônios, responsáveis por conduzir os impulsos elétricos do sistema nervoso central para o corpo e vice-versa.
Com a mielina e os axônios lesionados pelas inflamações, as funções coordenadas pelo cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal ficam comprometidas.
Os sintomas da EM podem variar amplamente, incluindo fadiga, dor, espasmos musculares, rigidez, dificuldade de equilíbrio e coordenação, problemas cognitivos, distúrbios do sono, alterações na visão, na sensibilidade do corpo, no controle esfincteriano e na força muscular dos membros, com consequentemente redução da mobilidade ou locomoção.
A Esclerose Múltipla se manifesta entre os 20 e 40 anos de idade, com predominância no sexo feminino – como é o caso da maioria das doenças autoimunes. O uso da Cannabis Medicinal como tratamento adjuvante à terapia convencional já é uma realidade, melhorando a sintomatologia e a qualidade de vida dos pacientes, como veremos a seguir.
Por que usar a Cannabis Medicinal?
A Cannabis medicinal tem sido estudada como uma opção de tratamento para pacientes com esclerose múltipla. A planta contém mais de 100 compostos químicos chamados de canabinóides, sendo os mais conhecidos o THC (tetra-hidrocanabinol) e o CBD (canabidiol). Estes compostos interagem com o Sistema Endocanabinóide do corpo, que regula várias funções fisiológicas, incluindo o controle da dor, inflamação, resposta imunológica, alterações de humor e ciclo do sono.
Como a Cannabis medicinal pode ajudar?
Acredita-se que a Cannabis medicinal pode ajudar os pacientes com Esclerose Múltipla no alívio da dor, redução da inflamação e dos espasmos musculares, além de desacelerar a progressão do processo degenerativo da doença. Além disso, também consegue tratar sintomas comórbidos, como ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Vamos falar mais especificamente sobre cada um destes aspectos.
Propriedades analgésicas
A Cannabis medicinal possui propriedades analgésicas bem documentadas – e não é de hoje. Pesquisadores encontraram referências ao seu uso em textos com mais de 3000 anos de idade. “… na medicina chinesa, a Cannabis sativa é descrita na mais antiga farmacopeia do mundo, chamada de Pen-ts´Chin, onde é utilizada no tratamento de diversas doenças como: patologias intestinais, dores reumáticas, patologias no sistema reprodutor feminino e malária.”
Estudos mostram a propriedade analgésica dos canabinóides, tanto sendo utilizados concomitante ao tratamento tradicional, quanto como opção terapêutica quando o paciente não tem resultados com estas medicações.
Outra vantagem do uso da terapia canabinóide é que não causa confusão mental nem dependência química, como ocorre com muitos analgésicos opiáceos. Some-se a isso uma incidência muito baixa de efeitos colaterais leves (como boca seca e tontura, por exemplo), que podem ser controlados com o ajuste da dose diária.
Propriedades neuroprotetoras
Vários estudos mostram que a Cannabis medicinal possui propriedades neuroprotetoras, o que significa que ela pode ajudar a proteger as células nervosas. Isso pode ser particularmente relevante para pacientes com Esclerose Múltipla (EM), uma vez que o curso da doença envolve a degeneração da bainha de mielina.
Pesquisas pré-clínicas sugerem que os canabinóides, por seus efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, combatem o estresse oxidativo e a inflamação no sistema nervoso. Além disso, eles podem reduzir a atividade do sistema imunológico, que ataca as células nervosas na EM.
Encontramos, na conclusão de um estudo sobre o uso da Cannabis medicinal na EM: “Diante disso, foi possível concluir na referida pesquisa que o uso do canabidiol para pacientes com esclerose múltipla tem mostrado diversos benefícios ao longo prazo no tratamento, como desaceleração do processo neurodegenerativo, a neurorregeneração e a limitação da progressão da doença”.
Redução de espasmos musculares
A Cannabis medicinal, mais especificamente o composto THC, tem propriedade relaxante muscular. A espasticidade é um sintoma comum da EM, caracterizada por compressão muscular e espasmos involuntários. Esses espasmos podem ser dolorosos e interferir na qualidade de vida dos pacientes. A interação dos canabinoides com o Sistema Endocanabinoide do corpo desempenha um papel importante na redução desses espasmos musculares.
Os canabinóides se ligam aos receptores canabinóides CB1 e CB2, presentes no sistema nervoso central e no sistema imunológico. A ativação desses receptores pode ajudar a modular a função muscular e reduzir a hiperexcitabilidade dos nervos responsáveis pelos espasmos.
É Importante destacar que cada paciente pode responder de maneira diferente à Cannabis medicinal e a dosagem e a forma de administração podem variar de acordo com as necessidades individuais. Por isso a importância de um profissional que prescreva, acompanhe e oriente o paciente.
Devolvendo a qualidade de vida
Ainda não existe evidência científica conclusiva de que a Cannabis medicinal possa impedir a progressão da esclerose múltipla (EM), apesar dos inúmeros relatos de pacientes. No entanto, estudos sugerem que suas propriedades terapêuticas ajudam a desacelerar a evolução da doença e devolver a qualidade de vida do indivíduo. Isso é um fator relevante para o paciente ,tanto quanto para seus familiares, envolvidos no cuidado diário. Por que?
A espasticidade, uma das características principais da esclerose múltipla, acarreta sintomas como tremor, ataxia e incontinência, que contribuem diretamente para a elevada incidência de depressão, ansiedade e distúrbios do sono nos pacientes.
Além disso, vendo o quadro como um todo, percebemos que, em plena idade produtiva, o indivíduo perde, muitas vezes, sua capacidade laboral, depende da família no aspecto financeiro, físico e emocional, além de diminuir seu convívio social devido a todos estes aspectos.
Todos estes fatores estressantes abalam o equilíbrio emocional do paciente. O emocional abalado, por sua vez, numa doença autoimune, tende a piorar o quadro clínico, num círculo vicioso.
Com a introdução da Cannabis Medicinal no tratamento, os pacientes relatam uma melhora generalizada, não só dos sintomas físicos, mas também psicológicos/emocionais, o que contribui também para que retomem o prazer de viver, a vida produtiva e as interações sociais, melhorando a sua qualidade de vida.
É importante ressaltar que pacientes que utilizam a Cannabis Medicinal tendem a diminuir o uso de outros medicamentos, como analgésicos, anti-inflamatórios, ansiolíticos, antidepressivos e reguladores do sono. Isso implica numa benéfica redução da chamada polifarmácia.
A Cannabis medicinal utilizada com o tratamento convencional, também ajuda a controlar os efeitos colaterais dos medicamentos, provenientes da sobrecarga do organismo para processar inúmeras substâncias químicas. Com menos efeitos colaterais, o nível de adesão ao tratamento e sua continuidade, pelos pacientes, é maior.
A terapia canabinóide é, portanto, mais uma opção terapêutica eficiente para o tratamento da Esclerose Múltipla. Quer saber como iniciar um tratamento? Fale com nosso Suporte.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.