O uso da Cannabis medicinal pode ajudar na recuperação de pacientes que sofreram AVC, seja hemorrágico ou isquêmico, devido às suas propriedades terapêuticas anti-inflamatórias, antioxidantes, neuroprotetoras e neurogênicas. Com certeza é mais fácil verificar que o uso da terapia canabinóide acelera a recuperação de tecidos lesionados e ajuda a reversão de um processo inflamatório quando falamos de músculos e articulações, que podemos apalpar e ver.
Já no tecido nervoso, tudo ocorre dentro da caixa craniana e as evidências hoje são feitas através de exames não invasivos ou pesquisas in vitro ou em cobaias. Muitas pesquisas são recentes. Apresentaremos algumas dessas novas linhas de pesquisa que confirmam o papel neuroprotetor dos canabinóides nesse artigo.
O que acontece ao cérebro no AVC?
Um AVC (Acidente Vascular Cerebral) causa danos em áreas específicas do cérebro, podendo comprometer capacidades motoras, cognitivas, a fala e até o comportamento do paciente, Um AVC pode ocorrer de duas maneiras: hemorrágico e isquêmico.
A melhora do paciente depende, entre outros fatores, da velocidade de recuperação do tecido cerebral e seus neurônios. É exatamente aí que a Cannabis medicinal pode ajudar a melhorar o prognóstico de recuperação, por sua capacidade de neurogênese (estimular o corpo a produzir novos neurônios) e neuroproteção (proteger os neurônios de fatores agressores).
AVC hemorrágico
O AVC hemorrágico ocorre quando há um sangramento no cérebro devido ao rompimento de um vaso sanguíneo, geralmente devido a condições como hipertensão arterial (pressão alta) ou malformações vasculares. Isso pode resultar em danos ao tecido cerebral devido ao acúmulo de sangue na região do derrame ou nas áreas próximas.
O processo inflamatório causado por níveis elevados de pressão associados a outros fatores de risco (diabetes, colesterol elevado e tabagismo) deixa a parede do vaso cerebral fragilizada de tal forma que ela, literalmente, se rompe, gerando este hematoma dentro do cérebro.
Após o AVC hemorrágico, pode haver compressão das estruturas dentro da caixa craniana e a interrupção do funcionamento normal das células nervosas.
AVC isquêmico
Um AVC isquêmico ocorre devido à interrupção do fluxo sanguíneo para uma parte do cérebro. Isso resulta em uma redução parcial ou total da quantidade de oxigênio e nutrientes às células cerebrais na área afetada. Cerca de 80% a 85% dos casos de AVC são do tipo isquêmico.
Existem duas principais causas de AVC isquêmico:
-Trombose: Isso ocorre quando um coágulo de sangue (trombo) se forma dentro de uma artéria que fornece sangue ao cérebro. Esse coágulo pode se formar devido a condições como aterosclerose (acúmulo de placas nas paredes das artérias) ou outras doenças vasculares.
-Embolia:
Uma embolia é um evento no qual um material, como um coágulo sanguíneo ou uma placa de gordura (ateroma), se forma em uma outra parte do corpo e é transportada pelo fluxo sanguíneo até um local distante onde bloqueia um vaso sanguíneo menor. Quando um coágulo ou ateroma viajam para o cérebro e bloqueiam uma artéria, pode causar um AVC isquêmico.
No caso do AVC isquêmico, níveis elevados de pressão associados a outros fatores de risco (diabetes, colesterol elevado e tabagismo) levam à inflamação das artérias cerebrais, levando a formação de placas de colesterol ou espessamento da camada interna, até que obstrui completamente o vaso, seja pela trombose local, seja pela embolia.
Quais as sequelas que o AVC pode causar?
Segundo a Sociedade Brasileira de AVC (SBAVC), as principais sequelas causadas são:
- Fraqueza ou dificuldade com os movimentos (controle motor): seja por perda da sensibilidade, perda de força nos membros (hemiplegia ou hemiparesia), perda do controle dos movimentos dos corpo e/ou dificuldade na deglutição
- Rigidez muscular: a espasticidade leva a uma postura inadequada, maior dificuldade de movimentação e dor.
- Alterações de sensibilidade: envolvendo tato, percepção de dor, temperatura, noção de posição do corpo; sensação de dormência ou formigamento; dor crônica ocasionada por fraqueza muscular ou também dor neuropática.
- Problemas na fala: seja pelo comprometimento dos músculos utilizados na fala, seja pela lesão em áreas responsáveis pela comunicação.
- Problemas na memória e raciocínio: dependendo da área afetada, pode comprometer memória (curto ou longo prazo), raciocínio, aprendizagem, capacidades de atenção, planejamento e execução de tarefas. Também pode afetar o reconhecimento das partes afetadas do corpo e o seu uso, bem como inabilidade de executar movimentos específicos.
- Alterações emocionais: é comum, devido ao quadro clínico, pacientes apresentarem alterações de comportamento ou sintomas de ansiedade, depressão e apatia.
Profissionais envolvidos no tratamento e reabilitação
Médicos fisiatras, neurologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, nutricionistas e neuropsicólogos podem fazer parte da equipe de profissionais envolvidos no acolhimento e reabilitação do paciente no pós-AVC, dependendo das sequelas a serem tratadas.
A reabilitação deve começar, se possível, ainda no ambiente hospitalar, para que o cérebro seja estimulado a se regenerar e o paciente possa alcançar o maior progresso possível. Cada AVC é um caso diferente e o prognóstico médico vai variar de um para outro.
A Cannabis medicinal, como adjuvante no tratamento, pode ajudar a diminuir o processo inflamatório e recuperação do tecido nervoso, acelerando o processo de reabilitação.
Foi isso o que aconteceu com Paulo Camargo, um empresário de Goiânia, de 62 anos. Em 2022 sofreu dois AVCs, ficando paralisado no lado esquerdo do corpo, dependente para receber cuidados da vida diária e necessitando de cadeira de rodas.
Após o início do tratamento com Cannabis medicinal, segundo ele, cada dia era uma surpresa. Após seis meses de tratamento, seus movimentos e autonomia foram recuperados. Bengala e cadeira de rodas encostadas, cuida de si, da casa, de sua vida financeira, atende seus clientes e tem planos para o futuro: terminar o curso de Direito.
O que dizem as novas pesquisas e estudos
Segundo Linda Parker professora emérita do Programa de Psicologia e Neurociência Colaborativa da Universidade de Guelph, em Ontário, e autora de Cannabinoids and the Brain, os efeitos anti-inflamatórios do CBD foram demostrados em modelos animais de AVC isquêmico. Sendo administrado dentro de 18 horas após o AVC, o tratamento com CBD pode reduzir danos ao tecido cerebral e a inflamação nos neurônios, restaurando a atividade no SNC.
A mesma pesquisadora cita que a aplicação tópica de CBD alivia a dor miofascial e a dor neuropática (que também podem estar presentes no pós-AVC)
Um novo artigo de março de 2023, publicado na Lieberpub, confirmou o potencial neuroprotetor do CBD. Os pesquisadores investigaram o potencial neuroprotetor e antioxidante à nível celular, mais especificamente mantendo a integridade do enovelamento de proteínas e evitando o estresse no retículo endoplasmático.
Os pesquisadores concluíram que o pré-tratamento, in vitro, com CBD foi neuroprotetor contra a morte celular induzida pelo agente indutor de estresse na célula.
Esta capacidade de proteger os neurônios de processos degenerativos explica a melhora obtida pelo avô do humorista Ivan Mesquita, que, além do Mal de Alzheimer sofreu um AVC, relatada em sua rede social, proporcionada pelo tratamento com Cannabis medicinal. “Há algum tempo ele quase não falava direito e nem se recordava muito bem das pessoas, inclusive de mim. Minha família decidiu iniciar um tratamento com Cannabis (CBD) e hoje, meu avô acordou querendo trabalhar”.
Voltar a conseguir se cuidar, falar, reconhecer os familiares, são alguns dos benefícios já comprovados em pesquisa brasileira, de 2022, com um paciente com Mal de Alzheimer.
Também vale citar um estudo do repositório Anima Educação, citando a redução de convulsões em pacientes com AVC hemorrágico: “AVC hemorrágico pode causar às vítimas inúmeras convulsões diárias devido à isquemia das células nervosas e pela hemorragia cerebral, como encontrado na literatura. Essas convulsões podem diminuir a qualidade de vida dos pacientes porque acontecem constantemente. O cannabidiol pode reduzir as convulsões”.
Por último, um estudo de Notcutt et al., de 2012, após a inserção do composto Sativex, derivado da maconha a pacientes que sofrem de espasticidade, foram identificadas melhorias nos movimentos involuntários. Após 12 meses de estudos, as amostras que receberam o insumo, apresentaram melhora “nas escalas objetivas de mensuração da espasticidade”, demonstrando positividade no tratamento de uma sequela do sistema nervoso.
Melhoral global da qualidade de vida
Pacientes que sofrem um AVC, como vimos, também convivem com comorbidades, como ansiedade, depressão, síndrome do intestino irritável, convulsões, dor neuropática etc. A Cannabis medicinal pode ajudar a amenizar ou controlar toda essa sintomatologia, com pouco ou nenhum efeito colateral.
É relevante ressaltar que, com o uso da terapia canabinóide, diminui-se o número de medicamentos prescritos para o paciente, e consequentemente, o mal estar com efeitos colaterais de vários medicamentos alopáticos, bem como interações medicamentosas que podem sobrecarregar o fígado e os rins.
Se você quer saber mais sobre o tratamento com Cannabis Medicinal, fale com nosso Acolhimento para obter mais informações.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.