Por Ana Claudia Marques
No Brasil e no mundo, avançam diariamente novas pesquisas sobre o uso da terapia com Cannabis em diversas patologias. Também no combate à malária, estão sendo feitos estudos sobre a atuação dos canabinóides THC e CBD sobre o mecanismo de transmissão da doença.
A malária é uma doença tropical, que afeta 500 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. São 1 milhão de mortes/ano. A doença pode se apresentar de forma aguda, na primeira infecção, ou crônica, quando o parasita causador, Plasmodium, volta a proliferar no organismo, causando acessos periódicos de calafrios e febre, devido à destruição das hemácias (glóbulos vermelhos).
A doença é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, quando o Plasmodium entra na corrente sanguínea e se dirige imediatamente ao fígado, onde acontece a sua proliferação rápida. Em seguida, já na corrente sanguínea, destroem os glóbulos vermelhos e continuam a se proliferar.
Além disso, a transmissão também pode ocorrer pelo contato direto com o sangue de uma pessoa infectada, seja por transfusão sanguínea ou compartilhamento de seringas.
Há registros do uso da Cannabis Medicinal para combater a malária em textos chineses datados de 2700 a.C. na farmacopeia do Imperador chinês Shen-Nung. Ainda hoje, em vários países da África, como na Nigéria, por exemplo, a população local faz uso da ingestão da planta, para o tratamento da malária.
Conheça agora um pouco mais sobre a doença e pesquisas que estudam a viabilidade do uso do CBD e THC no combate à malária, buscando validar este conhecimento tão antigo em várias culturas.
A malária
O Plasmodium, quando entra na corrente sanguínea, destrói as hemácias, para se alimentar de uma parte da célula (globina) e descarta um subproduto tóxico, em formato cristalizado, chamado hemozoína, que garante a sobrevivência do Plasmodium no organismo infectado.
A principal manifestação clínica em sua fase inicial é a febre, com ou sem calafrios, tremores, suores intensos, dor de cabeça e dores no corpo. Pode também apresentar vômitos, diarreia, dor abdominal, falta de apetite, tonturas e sensação de cansaço.
A doença ainda não tem cura, nem mesmo uma vacina, levando a milhares de mortes, anualmente. Por isso, a melhor saída ainda é a prevenção da contaminação, seja evitando a proliferação do mosquito Anopheles, com obras de saneamento que evitem águas paradas. Individualmente, os cuidados são desde usar roupas que evitem o ataque do mosquito, repelentes, inseticidas, uso de redes em portas/janelas e mosquiteiros protegendo o local de dormir.
Pesquisas sobre uso da Cannabis Medicinal na Malária
Atualmente muitos cientistas tentam facilitar para os pacientes o uso do coquetel de medicamentos tradicionais para a malária. A Fiocruz, por exemplo, está criando moléculas híbridas – ou seja, juntando o princípio ativo de medicamentos diferentes numa mesma estrutura. Isso diminuirá o número de medicamentos diários a serem ingeridos pelos pacientes, melhorando a adesão ao tratamento e evitando a manifestação crônica da doença nos infectados.
Em paralelo, há várias frentes de pesquisa sobre o uso da Cannabis Medicinal, seja para interromper o ciclo de vida do Plasmodium, para inibir seu crescimento dentro do organismo ou para menor manifestação de sintomas da malária nos infectados.
Como o ciclo de vida do Plasmodium passa por várias fases, seja no hospedeiro humano, seja no mosquito Anopheles, que o transmite, há inúmeros momentos oportunos para a interrupção do ciclo de contaminação, infecção e transmissão da Malária.
Compostos da Cannabis impedem o ciclo de crescimento do parasita
Em 2021, a Pubmed publicou uma pesquisa que demonstrou que o THC sintético – Dronabinol – inibiu a hemozoína sintética, e portanto, o crescimento do Plasmodium. Nesse estudo também testou-se o CBD, e ele também inibiu, de forma mais leve, a hemozoína sintética, porém com atividade antimalárica leve.
Neste estudo, portanto, se demonstra a necessidade de mais pesquisa sobre os efeitos contra a malária pelos compostos canabinóides. No caso do THC, para que os efeitos psicoativos, indesejados, sejam superados, e no caso do CBD, para aprofundar o entendimento de como se dá sua ação antimalárica.
Outra pesquisa realizada em 2018 na África testou a eficácia da ingestão da planta Cannabis Sativa contra a malária, conforme o relato de uso de várias culturas locais sobre seus efeitos benéficos. O estudo foi feito com camundongos que foram alimentados com rações incrementadas com a planta, em proporções de 40%, 20%, 10% e 1%, comparados com outros camundongos tratados com cloroquina e outro grupo controle, com alimentação padrão.
Os resultados demonstraram que a Cannabis sativa apresentou atividade antimalárica leve nos camundongos. “Houve redução evidente na manifestação sintomática da doença da malária, embora não relacionada aos níveis de parasitemia”.
Isto significa que, não importando a quantidade de parasitas no organismo, o indivíduo infectado não manifesta os quadros típicos da doença, como febres e calafrios, advindos da morte das hemácias. Se, por um lado, significa uma melhora na qualidade de vida do portador da Malária que faz uso da Cannabis sativa, por outro, do ponto de vista estritamente epidemiológico, o número de pessoas assintomáticas, mas que continuam a transmitir a doença, preocupa.
Ainda assim, é um grande avanço, pois a repetição de episódios febris da Malária termina com indivíduos apresentando anemia grave (devido à morte do glóbulos vermelhos), insuficiência hepática (por ser o local de reprodução do parasita), insuficiência renal (pelo acúmulo de complexos imunes na membrana dos rins, somado à perda de proteína pela urina). A somatória desses quadros leva ao coma e à morte. Portanto, se há uma estabilização no quadro da doença pelo uso da Cannabis Medicinal, isto é muito positivo.
É importante também considerar que, nos últimos anos, criou-se uma cepa mais resistente de Plasmodium. Esses parasitas tornaram-se resistentes à inúmeros dos tratamentos convencionais contra a malária, como as terapias combinadas à base de artemisina. Por este motivo, a pesquisa de novos medicamentos eficientes contra a doença é fundamental – e a Cannabis Medicinal tem um grande potencial para isso.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.