Quando o assunto é o efeito da Cannabis Medicinal no organismo feminino, existe pouca bibliografia disponível, apesar de haver inúmeros relatos de mulheres que fazem o uso para diferentes quadros clínicos, que vão desde cólicas e enxaquecas relacionadas com o período menstrual até alterações fisiológicas e de humor que ocorrem na menopausa.
O potencial analgésico, anti-inflamatório e relaxante da Cannabis medicinal, por si só, já sugere inúmeros usos dentro desse universo feminino, totalmente controlado por oscilações mensais de hormônios. Estrógeno, progesterona, Hormônio Folículo Estimulante, Hormônio Luteinizante, testosterona…qualquer desequilíbrio nesse sistema delicado pode causar transtornos na vida da mulher.
Enxaqueca, cólica, ansiedade, maior sensibilidade e irritação; insônia, fogacho, sobrepeso, secura vaginal, dor durante o ato sexual, baixa libido… são variados os sintomas que as mulheres vivenciam durante sua vida reprodutiva e com o encerramento da mesma. A maior parte desses sintomas podem ser controlados através do reequilíbrio do Sistema Endocanabinóide, utilizando, para isso, a Cannabis Medicinal, acompanhada de hábitos saudáveis.
Vamos trazer neste artigo as informações disponíveis sobre o assunto
Cannabis medicinal durante o ciclo menstrual
Segundo diversos estudos, a Cannabis Medicinal pode ajudar a combater dores e desconforto no ciclo menstrual.
A dra. Pabon cita outro estudo, em que foram entrevistadas 192 mulheres de uma comunidade do Canadá, investigando o uso da Cannabis para o alívio de dores menstruais. Destas, 88% usavam a Cannabis para o alívio das dores.
No questionário, além de sofrerem com um índice de dor alto (8/10), as entrevistadas também relataram apresentar dores de cabeça, náuseas, diarreia, raiva, tristeza e fraqueza durante o período menstrual. Das 170 que usavam a Cannabis para o alívio destes sintomas, 90% disseram ter obtido o alívio esperado, podendo exercer suas atividades normais, sem serem prejudicadas nem pelo mal estar e nem pelo uso da Cannabis. Alguns depoimentos:
“Use quando tiver cólicas menstruais. Cannabis alivia quase instantaneamente.”
“Para mim, quando uso para controlar a dor, o objetivo não é ficar “alta”. Eu normalmente quero estar ativa (tal qual outras mulheres com períodos dolorosos). Você não pode ir trabalhar/estudar se estiver chapada, mas também não consegue ir com dor. Portanto , você precisa balancear a intoxicação e o efeito desejado.”
As propriedades analgésicas e anti-inflamatórias da Cannabis Medicinal também fez com que mais de 60% de mulheres entrevistadas numa pesquisa respondessem que a usariam para lidar com seus problemas ginecológicos.
Hormônios influenciam os efeitos da Cannabis Medicinal?
Numa pesquisa publicada na revista Liebert Pub, examinou-se os efeitos do THC em mulheres em duas fases do ciclo menstrual, quando há diferenças no nível de estrogênio circulante. A pesquisa partiu do pressuposto de que o estrogênio aumentaria a sensibilidade ao THC e outros canabinóides, podendo aumentar o risco para respostas adversas em mulheres. A conclusão do estudo foi que a diferença nos níveis sanguíneos de estrogênio não influenciaram fortemente na resposta ao THC.
Em uma palestra, a dra. Elisa Pabon,da UCLA, também apresentou o resultado de estudos sobre o efeito do THC nas mulheres, partindo do pressuposto que estas são mais suscetíveis a efeitos colaterais do THC, como alucinações, fuga da realidade e adicção.
A pesquisa trouxe os seguintes resultados:
- O nível de Estrogênio não aumenta a sensibilidade aos efeitos agudos do THC,
- Os efeitos agudos são similares entre a fase folicular alta e baixa;
- As respostas subjetivas parecem ocorrer mais cedo na fase folicular com baixo nível de estrogênio em mulheres que têm níveis menores de estrogênio.
É importante ressaltar que estas pesquisas vêm sendo feitas em países onde o uso da Cannabis para fins medicinais é regulamentado de forma diferente do Brasil, com a presença de dispensários locais que comercializam a Cannabis em diversas formas de uso, como em cigarros e vapes – e isso inclui também em diversas porcentagens de THC, de acordo com a cepa da planta escolhida para o tratamento.
Fertilidade e gestação: sinal vermelho para o uso de Cannabis
Estudos mostram que o uso de Cannabis afeta a fertilidade, pois diminui a produção de óvulos e dificulta a fecundação e fixação do óvulo fecundado na parede do útero.
Da mesma forma, o uso durante o período gestacional não é recomendado e pesquisas mostram a correlação entre o baixo peso de bebês de mães que fizeram uso (recreativo) da Cannabis neste período e, posteriormente, crianças com dificuldade de aprendizagem e concentração.
Como existem poucos estudos sobre o uso da Cannabis Medicinal nestes casos, e os existentes abordam somente o uso adulto e recreacional, evitar o uso para não correr o risco de afetar o bebê é a solução mais sensata, até que novas pesquisas tragam luz sobre este assunto.
Vale lembrar que a Cannabis Medicinal normalmente possui um alto nível de CBD e níveis baixos ou até inexistentes de THC, pois é este último fitocanabinóide que, em porcentagens acima de 5%, causa os efeitos psicotrópicos. Além disso, em formulações full spectrum, tanto o CBD quantos outros canabinóides, terpenos e flavonóides da Cannabis modulam naturalmente os efeitos do THC, fazendo que somente suas qualidades terapêuticas se apresentem.
Cannabis Medicinal na menopausa
A menopausa pode trazer para a mulher, junto com a diminuição dos hormônios femininos, uma série de sintomas: insônia, calores (fogacho), enxaqueca, perda de libido, secura vaginal, diminuição da produção de colágeno, perda da firmeza da pele, diminuição da massa muscular,óssea e aparecimento de dores articulares, além de alterações de humor, ansiedade e depressão.
Os fitocanabinóides extraídos da Cannabis regulam o Sistema endocanabinóide do corpo, combatendo processos inflamatórios e diminuindo a dor, funcionando com ansiolítico e regulando o ciclo do sono, reequilibrando os hormônios, melhorando a libido, diminuindo o fogacho e preservando os tecidos devido sua ação antioxidante.
Também é importante lembrar que a diminuição da lubrificação e a perda da elasticidade do tecido vaginal torna o sexo doloroso para muitas mulheres. O uso da Cannabis em forma de creme tópico diminui o desconforto e, por consequência, torna novamente prazeroso o exercício da sexualidade para a mulher madura.
Processos de dor durante a relação sexual também podem ocorrer em mulheres mais jovens, após procedimentos cirúrgicos, por exemplo. A Cannabis medicinal pode, portanto, ajudar a resgatar o exercício saudável da sexualidade das mulheres em todas as fases da vida.
CBD e outras formas de regular o SEC
Hoje se sabe que o Sistema Endocanabinóide (SEC) é responsável por regular todos os outros sistemas do corpo, como o imunológico, produção e liberação de hormônios, resposta inflamatória etc.
Os fitocanabinóides ajudam a regular o SEC, mas também é preciso que façamos a nossa parte, com atitudes mais saudáveis. Isso inclui fazer exercícios e ter uma dieta mais natural.
Pesquisas mostram que os exercícios físicos que ajudam a regular o SEC são aqueles que a pessoa gosta – e não necessariamente os exercícios “da moda”. Ou seja, se você gostar de fazer caminhada ou dançar mas foge de musculação e outros exercícios de academia, faça o que gosta, pois o SEC se equilibra com atividades prazerosas.
Quanto à alimentação, siga a máxima: “quanto menos embalado, melhor”. Produtos industrializados, com conservantes, estabilizantes, aromatizantes, espessantes, coloridos artificialmente atuam negativamente no SEC. Aposte em alimentação caseira, frutas, vegetais, legumes, alimentos ricos em ômega 3 e 6 – como peixes, abacate, azeite, vários tipos de semente (chia, nozes, amêndoas etc), para ajudar no funcionamento desse importante sistema. O chocolate também possui flavonóides que ajudam a ativar o SEC e quanto mais cacau, melhor!
Outras atividades prazerosas que reequilibram o SEC: música, dança, ioga, meditação, acupuntura, massagens terapêuticas e momentos de descontração e risos com quem se gosta, seja família ou amigos.
Pode-se, portanto, lançar mão do potencial medicinal da Cannabis e ajudar com mudanças de hábitos diárias, para a manutenção da qualidade de vida da mulher.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.