A diabetes está entre as patologias que podem ter seus sintomas ou manifestações – como a neuropatia diabética – tratados com Cannabis medicinal. Diabetes é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos. Dados da International Diabetes Federation, de 2014, apontavam 387 milhões de pessoas no mundo afetadas pela doença. Causada principalmente pelo excesso de peso, a previsão é que este número aumente para 592 milhões até 2035.
A diabetes causa problemas vasculares, como é o caso da neuropatia diabética, que pode levar, inclusive, a amputações dos membros inferiores quando não tratada.
A terapia canabinóide pode ser usada como adjuvante no tratamento, no alívio da dor neuropática, tanto na modulação da transmissão nervosa quanto por seu efeito anti-inflamatório.
Neuropatia diabética
Dentre as complicações da diabetes, principalmente em pacientes crônicos, a neuropatia é a de maior ocorrência, afetando os nervos periféricos dos membros superiores e inferiores, bilateralmente, por degeneração dos axônios.
Ela se manifesta com presença de dor, falta de sensibilidade local, sensações de formigamento, choque e falta de força, entre outros sintomas decorrentes das alterações no sistema nervoso somatossensorial.
Segundo artigo no Brazilian Journals: “O tratamento dessa dor neuropática inclui o controle da glicemia e uso de medicamentos para controlar os sintomas, desse modo, o uso médico de canabinóides demonstra inegáveis efeitos analgésicos para o tratamento de dor neuropática e inflamação, podendo melhorar a eficácia terapêutica.”
É importante uma abordagem preventiva em pacientes diabéticos, pois a dor neuropática crônica impede o indivíduo de exercer seu potencial produtivo, limitando sua mobilidade, aumentando sua dependência e contribuindo para o surgimento de depressão, ansiedade, distúrbios do sono e outras comorbidades.
Dor neuropática não é só diabética
A dor neuropática tem difícil tratamento, pois muitos analgésicos comumente usados ou não fazem efeito ou causam efeitos colaterais importantes, a depender da comorbidade do paciente.
A dor neuropática diabética é uma das modalidades dessa patologia, porém, falando mais amplamente, é causada por uma lesão no Sistema Nervoso – central ou periférico – com diferentes origens possíveis:
- lesão por trauma (quando há tumores ou hérnia discal comprimindo nervos);
- exposição à agentes tóxicos ( como no alcoolismo ou durante processo de quimioterapia);
- quadros infecciosos (herpes zoster e HIV);
- doenças autoimunes (como esclerose múltipla);
- problemas metabólicos (diabetes, deficiência de vitaminas).
A lesão nervosa causa um quadro inflamatório e consequente sensibilização local e também nos nervos dentro da medula óssea – motivo pelo qual é tão difícil o controle da dor.
Segundo artigo da Pebmed: “A dor neuropática é difícil de tratar e os efeitos adversos costumam limitar muitas opções farmacêuticas. Pesquisas conduzidas nas últimas duas décadas demonstraram eficácia da cannabis medicinal comparável às terapias atuais para o tratamento da dor neuropática.”.
Sistema endocanabinóide e diabetes
Mais e mais evidências sugerem que um Sistema Endocanabinóide hiperativo pode contribuir para o desenvolvimento da diabetes, ao promover o acúmulo de energia em forma de gordura corporal, aumentando o mecanismo dos lipídios e glucose, facilitando a inflamação tecidual.
Num círculo vicioso, o aumento da taxa de açúcar no sangue implica em maior desequilíbrio no funcionamento do Sistema Endocanabinóide, aumentando o stress oxidativo, inflamação, fibrose e danos aos tecidos de órgãos comumente afetados pela diabetes – como vasos sanguíneos, coração, pâncreas, retinas e sistema nervoso periférico, segundo artigo publicado na Pubmed.
Em outro artigo da Pubmed, fica bem descrito o papel do Sistema Endocanabinóide em desequilíbrio na patogênese da diabetes. Nele são citadas pesquisas que relatam níveis elevados de Endocanabinóides em pacientes diabéticos. Pacientes com diabetes tipo 2 apresentaram níveis séricos mais elevados de Anandamida e 2-AG (os dois endocanabinóides produzidos por nosso organismo) do que voluntários saudáveis.
Canabinóides na dor neuropática
É importante, primeiramente, ressaltar que os fitocanabinóides, retirados da Cannabis para fins medicinais, interagem com nosso Sistema Endocanabinóide através de receptores canabinóides (CB1 e CB2) e também por outras vias, modulando este Sistema para que ele volte a funcionar bem. Em outras palavras, os efeitos que veremos a seguir são decorrentes da normalização dos níveis séricos dos endocanabinóides Anandamida e 2-AG, após a benéfica intervenção da Cannabis medicinal.
Há inúmeros estudos experimentais que demonstraram os efeitos benéficos do CBD (canabidiol) no diabetes e suas intercorrências, incluindo a neuropatia. Isto se deve aos efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e de proteção aos tecidos, segundo estudo de Horvath e Pacher (HORVÁTH, Mukhopadhyay P, Haskó G, Pacher P. O sistema endocanabinóide e canabinóides derivados de plantas em diabetes e complicações diabéticas. Revista Americana de Patologia . 2012).
Outro estudo demonstrou que, além de melhorar a qualidade de vida destes pacientes, o tratamento com canabinóides reduziu o uso de analgésicos opióides para o controle da dor.
O estudo, feito com 2183 pacientes americanos que utilizavam a Cannabis medicinal em seus tratamentos, teve como base uma ampla pesquisa, a fim de avaliar a saúde antes e após o início do tratamento com canabinóides.
Segundo o estudo “A maioria dos pacientes classificou a cannabis medicinal como importante para sua qualidade de vida. Muitos (60,98%) relataram o uso de analgésicos antes da cannabis medicinal, 93,36% destes relataram uma mudança na medicação para a dor após a cannabis medicinal. A maioria dos participantes (79%) relatou cessação ou redução no uso de analgésicos após o início da cannabis medicinal e 11,47% descreveram melhora no funcionamento.”
No caso da diabetes autoimune, em estudo experimental publicado na Lipid World, o canabinóide THC atenuou a gravidade das respostas autoimunes, diminuindo o número de linfócitos infiltrantes, reduzindo o nível de interferon, interleucina e fator de necrose tumoral. concomitantemente, os níveis de glicose foram mais baixos e o conteúdo de insulina pancreática foi preservado.
Já o CBD, por sua vez, utilizado em um modelo de camundongos de diabetes tipo I (não obesos), reduziu a incidência de diabetes e, aplicado durante o desenvolvimento dos sintomas iniciais da doença, diminuindo o nível de substâncias indutoras dos quadros inflamatórios (interferon e fator de necrose tumoral, entre outros).
Estes resultados são relevantes pois previnem o aparecimento de comorbidades comuns no diabetes, como é o caso de doenças cardíacas, deficiências circulatórias e a neuropatia diabética.
Portanto, a terapia canabinóide pode ser utilizada em paralelo com o tratamento tradicional dos quadros diabéticos, para combater os quadros inflamatórios e degenerativos que a doença pode causar.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.