A Cannabis medicinal já é reconhecida, hoje, pelo seu potencial analgésico, principalmente em casos de dor crônica, como adjuvante à terapia convencional. Neste artigo veremos o que os estudos trazem sobre o uso em dor aguda e no pós-operatório, mostrando seu uso na medicina e na odontologia.
Dor aguda e dor crônica
A dor aguda é aquela ativa em episódios isolados, por algum trauma ou ferimento e que não se prolonga além do período de recuperação. Já a dor crônica é aquela que acompanha o paciente por mais de três meses.
A dor crônica pode ser causada por degeneração de algum tecido (como cartilagens e ossos, na artrose, por exemplo), lesão de inervações nervosas, por compressão ou agentes nocivos (como em hérnias discais e em dores neuropáticas) ou doenças de caráter inflamatório contínuo (como em doenças autoimunes) ou em estágios avançados de câncer.
A maior parte dos estudos registra uma eficácia maior da Cannabis medicinal na dor crônica e o interesse neste campo vem do fato de que são casos de difícil manejo, com remédios que, a médio e longo prazo podem lesionar órgãos vitais, como fígado e rins, além de poder causar dependência química (como é o caso dos analgésicos opióides). Some-se a isso a porcentagem de pacientes que não respondem à muitos destes medicamentos alopáticos e que precisam de alternativas para lidar diariamente com a dor e temos a terapia canabinóide como uma opção promissora tanto como analgésico como antiinflamatório.
Por que tentar a terapia com canabinóides?
Porque, em primeiro lugar, não é uma terapia nova. Compêndios médicos chineses e da medicina Ayurvédica já citavam a Cannabis e suas inúmeras propriedades medicinais – hoje comprovadas cientificamente, após um breve período histórico de caça às bruxas.
Em segundo lugar, porque os estudos vêm demonstrando que a Cannabis medicinal é uma boa alternativa para uso como adjuvante ao tratamento da dor. Os motivos:
- ajuda a reduzir a quantidade de opióides ou outros analgésicos no manejo da dor
- muitos pacientes conseguem substituir analgésicos opióides pela Cannabis medicinal
- seus efeitos colaterais são leves, toleráveis e controláveis – e isso, quando ocorrem.
- diminui a polifarmácia (uso de vários remédios ao mesmo tempo) porque além das propriedades analgésicas, possui inúmeras outras, como antiinflamatório, ansiolítico, antidepressivo, modulador do humor, modulador do sistema nervoso, neuroprotetor e neurogênico, além de acelerar a recuperação de tecidos lesionados. Desta forma, diminui bastante a ocorrência de interações medicamentosas nocivas ao organismo do paciente.
- Uma vez acertada a dose de Cannabis medicinal para o paciente, não há mais necessidade de aumentá-la para obter sempre o mesmo efeito terapêutico desejado.
- A ligação química dos fitocanabinóides da Cannabis é feita naturalmente com o nosso organismo através do nosso Sistema Endocanabinóide (que, inclusive, produz canabinóides próprios).
Como a Cannabis medicinal funciona no organismo?
A Cannabis medicinal consegue regular o nosso Sistema Endocanabinóide, responsável por controlar funções básicas do nosso corpo. Hoje se sabe que o desequilíbrio ou mal funcionamento do Sistema Endocanabinóide pode estar envolvido em inúmeros quadros clínicos, como em quadros convulsivos, predisposição para depressão e ansiedade, doenças autoimunes e seus quadros inflamatórios específicos, por exemplo.
Nestes casos, para explicar de maneira simples, a introdução da Cannabis medicinal supre a necessidade de endocanabinóides que o organismo não dá conta de produzir, produzindo os efeitos terapêuticos já mencionados.
Cannabis medicinal no tratamento da dor
Numa revisão de 2023, intitulada Relação entre uso de canabidiol e dor analisou-se o efeito do CBD (canabidiol, um dos fitocanabinóides da Cannabis) em indivíduos com dor crônica e aguda. Os resultados foram “predominantemente positivos em relação ao uso do CBD para manejo da dor”, com boa eficácia na diminuição da sensação de dor pelos indivíduos estudados.
Um ensaio clínico com 26 pacientes idosos analisou a eficácia do uso tópico do óleo de CBD no alívio da dor na neuropatia periférica nas pernas. Seus uso “demonstrou ação eficaz como agente terapêutico na redução da dor intensa, dor aguda, sensações de firo e prurido em comparação ao grupo placebo”, segundo os pesquisadores.
Em um estudo com cobaias animais, onde se reproduziu um quadro de neuropatia periférica, os animais apresentaram diminuição da atividade de disparo de 5-HT (o receptor da serotonina, que induz ao bem-estar), alodinia mecânica (alteração na forma de sentir dor, iniciada por qualquer estímulo, como o toque, por exemplo) e aumento do comportamento semelhante à ansiedade. Após uma semana de uso do CBD, reduziram a alodinia mecânica, diminuíram o comportamento semelhante à ansiedade e normalizaram a atividade do receptor de serotonina. Traduzindo, a pesquisa observou-se ação analgésica, anti-inflamatória, anti-nociceptiva e ansiolítica.
Um outro estudo testou o efeito do CBD em dor neuropática pós-mastectomia. A paciente mastectomizada começou a apresentar dor neuropática pós-cirúrgica no membro superior esquerdo. Como fatores associados apresentou alterações de sono, humor e apetite. Após 7 meses de uso do óleo caseiro feito com extrato de cannabis, houve melhora significativa do estado geral, com melhora total da dor.
Cefaléia e enxaqueca
A dor de cabeça pode ser causada por vários fatores e a Cannabis medicinal pode ser utilizada para analgesia e também para lidar com a causa primária deste tipo de dor aguda.
Em odontologia, por exemplo, muitos pacientes com bruxismo e neuralgia de trigêmeo apresentam dor de cabeça frequentes. A causa da dor de cabeça é mecânica, pelo tensionamento da musculatura da face e mandíbulas. Porém o motivo inicial normalmente encontrado é ansiedade e estresse vivenciados pelo paciente,. Nestes casos a Cannabis medicinal é uma escolha terapêutica interessante, por ser analgésica e também ansiolítica.
Também há inúmeras pesquisas mostrando que as mulheres utilizam a Cannabis medicinal durante o ciclo menstrual, para diminuir cefaléia e cólicas, além de melhorar a labilidade emocional.
Uso na dor pós-operatória
O uso da Cannabis medicinal nem pós-operatório é benéfico para diminuir a dor do paciente, mas também por outros fatores: seu potencial antiinflamatório e acelerador na regeneração de tecidos- inclusive do Sistema Nervoso.
Desta forma, na odontologia já vemos profissionais utilizando a terapia canabinóide no pré-cirúrgico para melhorar o sistema imunológico do paciente e lidar com a ansiedade pré-operatória, e depois no pós-cirúrgico, como analgésico, antiinflamatório e acelerando a recuperação do paciente.
Da mesma forma, atletas fazem uso da Cannabis medicinal em pós-cirúrgicos pelo mesmo motivo, pois conseguem lidar com a dor sem correr risco de dependência química causada pelos analgésicos opióides, além de terem uma recuperação da lesão mais rápida, podendo voltar rapidamente aos treinos e competições, sem perder o rendimento.
A maior parte das pesquisas se concentra na utilização da Cannabis medicinal na dor crônica e tem comprovado sua efetividade. São poucas as pesquisas estritamente falando sobre o uso em dor aguda e relatando a efetividade dentro dos parâmetros restritos das pesquisas. Entretanto, pesquisas correlatas em áreas como saúde da mulher, odontologia e medicina esportiva, além dos resultados práticos que profissionais e pacientes vem colhendo com o uso da terapia canabinóide mostram que ela é efetiva em dores agudas e no pós-operatório.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.