A Cannabis medicinal pode auxiliar pacientes com quadros respiratórios importantes, como asma, doença pulmonar obstrutiva (DPOCS) e fibrose cística. Entenda como as propriedades terapêuticas dessa planta podem devolver a qualidade de vida a pacientes e familiares, em nosso novo artigo.
O que é Cannabis medicinal?
A Cannabis é uma planta que tem sido utilizada por milênios por suas propriedades medicinais. A Cannabis medicinal é aquela utilizada para tratar condições médicas específicas, aliviando sintomas e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Seu uso é supervisionado por profissionais de saúde, e a seleção de cepas, dosagens e métodos de administração é feita com base nas necessidades individuais do paciente.
Seu uso é legalizado desde 2015 pela Anvisa, mediante a prescrição de um profissional de saúde habilitado, normalmente quando o paciente é refratário ou sofre com efeitos colaterais de medicamentos convencionais utilizados em seu tratamento específico.
Quais são os componentes ativos da Cannabis?
Quando falamos do uso medicinal da Cannabis, consideramos o potencial terapêutico de seus vários componentes, incluindo terpenos, flavonóides e fitocanabinóides. Os fitocanabinóides mais estudados e conhecidos hoje são o THC (tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol).
Enquanto o THC necessita ter sua dosagem controlada, para não causar efeitos psicoativos além dos seus inúmeros benefícios terapêuticos, todos os outros fitocanabinóides, incluindo o CBD, são seguros para uso medicinal por não causarem estes efeitos.
Benefícios terapêuticos da Cannabis medicinal
Os fitocanabinóides possuem propriedades terapêuticas anti inflamatórias, analgésicas, broncodilatadoras, protetoras do sistema nervoso, na regeneração de tecidos lesionados, ansiolítica, antidepressiva, reguladora do humor, do sistema imunológico e do ciclo do sono, entre outras.
Os seus terpenos e flavonóides também possuem propriedades terapêuticas anti inflamatórias, bactericidas e virucidas, entre outras.
Cannabis Medicinal e Sistema Endocanabinóide
Os receptores canabinóides são os responsáveis pelos efeitos bioquímicos e farmacológicos produzidos pelos compostos da Cannabis e fazem parte do sistema endocanabinoide, presente em todo o corpo humano.
As novas técnicas de extração do CBD e THC resultam em produtos de alta qualidade, seguros, que interagem naturalmente com o sistema endocanabinoide. Este, quando devidamente estimulado, auxilia na regulação de condições fisiológicas básicas, como apetite, sono, imunidade, humor, processos inflamatórios e dor, só para dar alguns exemplos..
A explicação é simples: os fitocanabinóides encontrados na planta tem estrutura química semelhante aos canabinóides endógenos, produzidos internamente pelo Sistema Endocanabinóide. Quando o organismo não produz endocanabinóides suficientes para manter o equilíbrio do organismo, o uso dos fitocanabinóides ajuda a retomar o bom funcionamento do Sistema Endocanabinóide.
Por ser uma substância que é reconhecida pelo nosso organismo, os tratamentos com a Cannabis Medicinal causam efeitos colaterais mais leves e reversíveis com o ajuste da dose, se comparado com outros medicamentos usados no alívio de dores crônicas, insônia, quadros de ansiedade etc, como é o caso dos opioides e outros fármacos.
Problemas respiratórios e Cannabis medicinal
Existem inúmeras pesquisas em andamento sobre o uso da Cannabis medicinal em problemas respiratórios como asma, DPOCs, fibrose cística e até mesmo em síndrome pós-COVID. A maioria destes quadros clínicos envolvem processos inflamatórios importantes, comprometimento dos brônquios e alvéolos pulmonares, prejudicando a capacidade respiratória a médio e longo prazo.
O uso da Cannabis medicinal nestes quadros é eficiente por dois motivos:
- suprime o processo inflamatório e a tempestade de citocinas. As citocinas inflamatórias são responsáveis pela síndrome do Desconforto Inflamatório – que resulta em fibrose pulmonar – o uso do CBD retarda a evolução das DPOCS para quadros mais graves.
- melhora a resposta do sistema imunológico do paciente, diminuindo o risco de pneumonias reincidentes e o número de internações frequentes para descolonização dos pulmões das bactérias super resistentes (que se proliferam no muco que permanece nos brônquios).
- diminui o risco de mortalidade hospitalar por doenças pulmonares em 33%, segundo pesquisa feita pela Associação Americana de Medicina toráxica.
A terapia canabinóide é relevante para o tratamento das DPOCs também por ter menos efeitos colaterais do que as terapias convencionais.
Estudos sobre o uso de Cannabis medicinal em problemas respiratórios
Um artigo na rede Humaniza SUS, de 2021, durante a pandemia de COVID, trouxe o uso do CBD em pacientes com Síndrome pós-COVID (aqueles em que os sintomas persistem após 3 meses da manifestação inicial da doença). O artigo citou o uso satisfatório relatado por cientistas da Universidade de Chicago e também a pesquisa clínica brasileira na fase III, sobre o uso do CBD em síndrome pós-COVID. De acordo com as primeiras análises, o CBD mostrou-se eficaz nas síndromes pós covid-19, uma vez que reduziu a fadiga, a fraqueza muscular, a insônia e melhorou os quadros de ansiedade e depressão. Assim seria uma opção capaz de amenizar o desconforto e os danos respiratórios provocados pela doença, mesmo após seu período de incubação no corpo humano.
Um interessante artigo de revisão publicado também em 2021 no Cebrid cita um estudo em que, segundo os autores, os canabinoides foram eficazes na supressão das funções imunológicas e inflamatórias, e foi sugerido potencial atividade antiinflamatória na COVID-19.
No caso da Fibrose Cística, o tratamento com Cannabis medicinal tem como objetivo diminuir a velocidade da degradação do pulmão e do pâncreas e auxiliar a respiração com a redução das crises de tosse. É também usado pela sua ação anti-inflamatória. Foi com esses resultados que a mãe de uma paciente com fibrose cística, do Ceará, se deparou ao iniciar o tratamento da filha, ao administrar o óleo importado. O caso foi noticiado em 2022, quando a mãe ganhou um habeas corpus para fabricar o óleo em casa, por não poder bancar o tratamento com o óleo importado. Hoje já é possível entrar com ação judicial junto ao SUS ou planos de saúde para a aquisição dos medicamentos necessários à manutenção da saúde e qualidade de vida do paciente.
Ainda são necessários mais estudos para entender os mecanismos de atuação da Cannabis medicinal em pacientes com problemas respiratórios, mas os relatos anedóticos comprovam os benefícios na redução dos quadros inflamatórios e redução de internações.
Se você quer saber mais sobre como iniciar o tratamento, encontrar um profissional prescritor para avaliar seu caso ou mesmo entender como fazer o processo de judicialização para bancar o tratamento com canabinóides, fale com nosso Acolhimento para esta e outras informações.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.