Por Ana Claudia Marques
Pacientes com Esclerose Múltipla (EM) têm seu diagnóstico muito jovens para uma doença degenerativa, querem uma chance à vida produtiva e de qualidade – e o tratamento com Cannabis Medicinal proporciona isso. Uma estimativa recente da ABEM (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla) fala de mais de 35 mil brasileiros portadores da EM.
Os tratamentos convencionais, à base de opioides, benzodiazepínicos e antidepressivos, não suprimem a dor satisfatoriamente nem trabalham diretamente na causa da EM. Além disso, os efeitos colaterais dos opioides (dependência física, tontura, sedação, náusea, vômitos, constipação, tolerância medicamentosa e depressão respiratória), dos benzodiazepínicos (distúrbios do sono, amnésia dos fatos cotidianos, sonolência e “ressaca”) e dos antidepressivos (náusea, fadiga e sonolência, visão turva, tontura e ansiedade) não contribuem para uma boa reabilitação física dos pacientes.
O tratamento com a Cannabis Medicinal traz resultados relevantes para os pacientes, embasados por pesquisas científicas. Falaremos mais profundamente sobre isso neste artigo.
O que acontece na Esclerose Múltipla?
Para começar, devemos explicar que a Esclerose Múltipla é uma doença crônica e autoimune, ou seja, o próprio sistema de Defesa (ou Imunológico) do indivíduo começa a “entender” certos tecidos do corpo saudáveis como “estranhos”e os ataca.
Quando o Sistema Imunológico ataca um organismo invasor (imagine o vírus da gripe, por exemplo), há um processo inflamatório local, que causa dor, febre etc. Esse processo inflamatório vai acontecer igualmente na doença autoimune.
Ainda não se sabe ao certo o que desencadeia um processo autoimune, mas uma das hipóteses é que o corpo confunde as proteínas de um organismo invasor com proteínas semelhantes presentes em diferentes tecidos de nosso corpo. Também pode estar ligado à herança genética mas, de concreto, o que podemos dizer é que o Sistema de Defesa começa a trabalhar mal e não reconhecer partes do próprio organismo.
O ataque às células neuronais
No caso da Esclerose Múltipla, o Sistema de Defesa ataca as células neuronais (cérebro, tronco cerebral, nervos e medula espinhal), especificamente na Bainha de Mielina. O nosso Sistema Nervoso é como um sistema de “comunicação” entre o cérebro (a Central) e a periferia (o corpo, seus músculos, órgãos etc).
As mensagens, em forma de impulsos elétricos, se propagam em microssegundos, “saltando” entre os vãos existentes entre uma Bainha de Mielina e outra. A melhor maneira de visualizar é pensar num fio elétrico que foi desencapado a cada três centímetros, por exemplo. Você levaria um choque em todos os trechos sem a proteção do plástico, pois ali passa a eletricidade. A bainha de Mielina é o plástico do fio, e as partes desencapadas do axônio são onde ocorrem os “saltos” do impulso nervoso.
Quando a bainha de mielina é destruída o paciente começa a perder o controle sobre a parte do corpo afetada, que pode apresentar movimentos involuntários (espasticidade), perda de força e movimento. A isso se segue a perda de peso, de massa muscular, acompanhando um quadro doloroso, devido à inflamação.
Sintomas e impacto da Esclerose Múltipla
Os sintomas são alterações na sensibilidade do corpo, na visão, no controle dos esfíncteres, no equilíbrio, perda de força muscular nos membros, reduzindo a capacidade de se movimentar e até de se locomover. Os pacientes convivem com fraqueza, tontura, alterações cognitivas e até convulsões.
Como acomete indivíduos jovens, entre 20 e 40 anos, causa um impacto significativo na capacidade produtiva, nas interações sociais. Com a perda de qualidade de vida aliada a um prognóstico de degeneração e até mesmo de óbito, a condição psicológica dos pacientes também é afetada comumente pela depressão.
A Cannabis Medicinal no tratamento da Esclerose Múltipla
O uso da Cannabis Medicinal atua de forma complexa na Esclerose Múltipla, como vem mostrando vários estudos, como o realizado por S. Giacoppo. Nele se verificou várias ações importantes do CBD:
– efeito protetor sobre o tecido nervoso, atenuando a redução do processo inflamatório;
– bloqueando o ataque autoimune ao reprimir a ativação de células T do sistema de Defesa;
– neuro-protetora, regulando ou restaurando os níveis de substâncias mediadoras de crescimento neuronal, combatendo a desmielinização do sistema Nervoso e impedindo a progressão da degeneração do sistema Nervoso.
Outros resultados da Cannabis Medicinal
É bem conhecido o efeito analgésico da Cannabis Medicinal em dores neuropáticas. A Cannabis tem sido utilizada com sucesso no alívio de dores causadas por diversas outras doenças, como enxaquecas, doenças neurodegenerativas e câncer. Essas são condições difíceis, onde analgésicos convencionais não funcionam de forma satisfatória. Mesmo no caso dos opioides (morfina), existem contra indicações, já que seu uso contínuo pode gerar dependência fisiológica e risco de parada respiratória. Estes efeitos colaterais não ocorrem com o uso de Cannabis Medicinal (Cilio & Thiele, 2014).
Devido à essa melhora na qualidade de vida dos pacientes, sem efeitos colaterais significativos nem o risco de dependência, o uso da Cannabis Medicinal é bastante interessante para pacientes com Esclerose Múltipla.
Um estudo recente citado num artigo de Rudrof e Sosnoff mostrou que entre pacientes que usavam opioides com frequência, 77% reduziram o uso quando começaram a utilizar a Canabis Medicinal. Da mesma forma pacientes reduziram o uso de ansiolíticos (72%), remédios para enxaqueca (76%) e para distúrbios do sono (65%), além de antidepressivos e mesmo de álcool, substituindo em parte ou completamente os medicamentos tradicionais (opioides, benzodiazepínicos e antidepressivos) pela Cannabis Medicinal.
Barreiras para o tratamento com Cannabis Medicinal
São basicamente três as barreiras para o tratamento com Cannabis Medicinal: a desinformação e preconceito da população; a burocracia e leis retrógradas ainda praticadas no Brasil para a autorização de uso da Cannabis Medicinal; e a escassez de médicos que prescrevam a Cannabis Medicinal. Dos mais de 300 mil médicos formados no país, pouco mais de 1000 médicos hoje a prescrevem – e alguns deles você encontra aqui, falando com nossa equipe de Suporte.
Contra a desinformação, escrevemos aqui, apoiando também a mudança da legislação. Informação valiosa não deve ficar parada, compartilhe este artigo e assine nossa newsletter, para receber as novas publicações!
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.