O traumatismo crânio encefálico (TCE) causa danos ao Sistema Nervoso Central, com sequelas, muitas vezes, irreversíveis. A Cannabis Medicinal, hoje, pode ser utilizada concomitante aos tratamentos convencionais, melhorando o prognóstico e sintomatologia pós TCE.
A incidência mundial de TCE é de 349 casos por 100 mil, em todas as idades, número certamente subestimado, pois nem todo TCE é relatado por pacientes e médicos. Já no Brasil, até 2012, a taxa era de 500 casos por 100 mil habitantes.
O traumatismo craniano é bastante comum na terceira idade e também entre adultos jovens, na faixa etária entre 20 e 40 anos, com significativa mortalidade e incidência de sequelas.
O TCE pode levar a incapacidades físicas, doenças neuropsiquiátricas – como depressão, ansiedade, alterações de humor, quadros psicóticos – e traz encargos econômicos importantes, devido não só às custas de internação e reabilitação, mas também por ser, muitas vezes, incapacitante, retirando o indivíduo economicamente ativo do mercado de trabalho.
Considerando que não existem, hoje, medicamentos eficazes para o tratamento do TCE e que o tratamento mais comum é o cirúrgico, para descompressão do cérebro – podendo causar outros danos ao tecido cerebral – a Cannabis medicinal vem como uma nova alternativa para o tratamento, no intuito de melhorar a recuperação do paciente e o prognóstico a longo prazo.
TCE – o que é e como se classifica
Chamamos de TCE a lesão cerebral causada por agressão gerada por forças externas contra a cabeça, atingindo couro cabeludo, crânio, meninges, encéfalo e/ou nervos cranianos.
Ele é classificado dependendo do estado clínico e da Escala de Coma de Glasgow, após a lesão primária e a análise da ocorrência ou não de anormalidades estruturais no cérebro (através do diagnóstico por imagem). O TCE pode ser leve, moderado ou grave.
O TCE grave causa danos diretos ao tecido cerebral, mas o TCE leve também é relevante, pois pode alterar sistemas de neurotransmissão de neurormônios, como adrenalina, dopamina etc, alterando, a médio e longo prazo, a condição psíquica do indivíduo, com incidência de depressão, ansiedade, alterações de humor etc.
Potencial da Cannabis Medicinal
Oa fitocanabinóides presentes na cannabis medicinal tem a capacidade de interagir diretamente com o nosso Sistema Endocanabinóide (SEC), tendo a capacidade de ativar e equilibrar o funcionamento desse Sistema, tão importante como regulador de funções básicas do nosso organismo: imunidade, saciedade, sono, controle de processos inflamatórios, ciclo de vida e morte celular e muito mais.
Recentemente um artigo publicado na Revista Americana de Neurotraumatologia mostrou que a administração experimental de CBD preveniu a morte celular, estresse oxidativo e inflamação após lesão cerebral por falta de oxigênio em cobaias. Outro estudo, também com cobaias, mostrou que a administração do óleo CBD diminuiu alterações comportamentais como agressividade, ansiedade, depressão e também manifestações de dor.
O mesmo artigo cita um estudo piloto, que testou 11 participantes que sofreram lesões cerebrais, antes e depois de iniciar o tratamento com cannabis medicinal para uma variedade de condições. Os participantes relataram redução no uso de remédios convencionais, redução de sintomas depressivos e impulsividade e melhora da qualidade de vida após 3 meses de uso. Houve também melhora no desempenho em tarefas de velocidade de processamento e inibição.
Espasticidade e tônus muscular
A espasticidade está presente em diversos quadros neurológicos – como na esclerose múltipla – e também na ocorrência de Traumatismo Crânio Encefálico. A espasticidade pode causar movimentos involuntários, rigidez muscular ou flutuação do tônus muscular – quando o paciente não consegue controlar seus próprios movimentos.
Incapacitante e dificultando as atividades diárias mais simples, a espasticidade pode ser tratada com o uso da Cannabis medicinal, devido ao seu potencial neuroprotetor e na recuperação do tecido nervoso, segundo artigo que revisa o potencial terapêutico da Cannabis Medicinal no controle de espasmos..
Com o uso de canabinóides, os pacientes tem melhora nos espasmos, na hipertonia, rigidez, hiperreflexia e dor, melhorando muito a qualidade de vida, com pouquíssimos efeitos colaterais, que podem ser controlados com o ajuste da dosagem diária.
Neuroproteção e neurogênese
Pesquisa publicada na Liebert Pub mostrou que o uso do THC após lesões cerebrais traumáticas em cobaias resultou em reparação dos tecidos cerebrais em duas semanas. Isso foi possível porque o THC estimula a proliferação de células-tronco/progenitoras sanguíneas, que se diferenciam em novos neurônios, num processo de autorreparação do cérebro.
Para além desta pesquisa, o potencial neuroprotetor e regenerador dos canabinóides já vem sendo comprovado em doenças degenerativas como o Alzheimer, Parkinson e Esclerose Múltipla – todas envolvendo o Sistema Nervoso Central ou periférico, com resultados promissores, como, por exemplo, estacionar o quadro degenerativo, diminuir a espasticidade e alterações de humor, entre outros.
Outro artigo publicado na Liebert Pub, investigou como o Sistema Endocanabinóide (SEC) pode ajudar na recuperação do tecido cerebral. O SEC também está presente na barreira hematoencefálica e diminui a possibilidade de agentes agressores atravessarem esta barreira e causar danos ao cérebro, ao diminuir a permeabilidade e aumentar a integridade dessa membrana protetora.
O SEC também, ao que parece, controla a biodisponibilidade de drogas no cérebro. Quando se utiliza a cannabis medicinal para ativar o Sistema Endocanabinóide, essas funções de neuroproteção são otimizadas – motivo pelo qual a terapia canabinóide é usada para diminuir o uso de opióides em pacientes com dores crônicas e também combater outros vícios.
Um novo estudo da Unicamp mostrou que canabinóides podem ser úteis em doenças neurológicas e psiquiátricas. O interessante dessa pesquisa, publicada numa revista científica alemã, é que os pesquisadores não focaram na ação dos canabinóides nos neurônios, mas, sim, sua ação nas células responsáveis pela comunicação entre os neurônios, que proliferaram com os canabinóides.
Isso é relevante quando falamos em regularizar os impulsos nervosos e sua transmissão, pois, na prática, para os pacientes, pode reverter em diminuição de convulsões, espasticidade, melhor controle dos movimentos, humor, memória e muito mais, significando a volta da qualidade de vida e dignidade que todo ser humano merece.
Sequelas neurocognitivas e psiquiátricas
Um publicação da Cambridge University Press trouxe a experiência clínica dos autores sobre pacientes com lesão cerebral traumática, que utilizavam cannabis para alívio de seus sintomas.
Por exemplo, pacientes com Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), uma doença neurodegenerativa que tem sido associada a TCE leve repetitivo, muitas vezes apresentam sintomas neuropsiquiátricos semelhantes àqueles com TCE.
Mesmo num episódio leve de TCE existe uma neuroinflamação que resulta em degeneração do tecido lesionado. Este mesmo quadro – neuroinflamação seguido de degeneração de tecido nervoso – está presente em muitos distúrbios neuropsiquiátricos, induzidos ou não por traumatismo craniano.
Fato é que as medicações utilizadas para estes quadros de depressão, bipolaridade, alterações de humor, ansiedade, psicose etc são as mesmas, tanto para estas ocorrências pós TCE, quanto acompanhando os quadros degenerativos do mal de Alzheimer e Parkinson ou mesmo fruto de descompensações bioquímicas particulares do indivíduo.
O que se nota, no tratamento do TCE, é a necessidade de tratamentos que interrompam as cascatas de processos inflamatórios cerebrais, que levam à neurodegeneração.
Sabe-se hoje que processos inflamatórios da microglia do cérebro estão por trás de quadros ansiosos e depressivos – que, não por acaso, acometem pacientes que tiveram o TCE.
Neste contexto, o uso da Cannabis medicinal é relevante pois seu potencial anti inflamatório e neuroprotetor pode oferecer uma possibilidade de melhor prognóstico para os pacientes, sem tratamentos invasivos e/ou com tantos efeitos colaterais.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.