Será que a Cannabis medicinal pode ser utilizada no tratamento do TDAH? Sabe-se que no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade há uma predisposição genética para a ocorrência de alterações nos neurotransmissores (dopamina e noradrenalina) que estabelecem as conexões entre os neurônios na região frontal do cérebro dos portadores de TDAH.
Dentro da neurologia o uso da Cannabis medicinal no Transtorno do Espectro Autista (TEA) é bastante contextualizado. Uma das comorbidades que pode acompanhar pacientes com TEA é o TDAH. Exatamente aí encontram-se relatos de melhora em hiperatividade, agressividade, na falta de foco e atenção – sintomas que estes pacientes podem manifestar, desde a infância até a idade adulta, em variados graus.
O que é TDAH?
É um transtorno neurobiológico, possivelmente hereditário, que causa alterações nos neurotransmissores que conectam os neurônios do córtex frontal do cérebro.
Pacientes com TDAH podem apresentar hiperatividade, desorganização, agitação, falta de atenção, impulsividade, perda de memória recente e fadiga em excesso.
As estimativas são de que o TDAH atinge de 3% a 6% das crianças em todo o mundo. O tratamento convencional é feito com Ritalina – para manter a concentração e não ter sono durante o dia – e pode apresentar reações adversas, como insônia, falta de apetite, dores abdominais e cefaléia, enquanto o organismo não se adapta à medicação.
O transtorno pode se manifestar de três maneiras:
– falta de foco,
– hiperatividade,
– ou a combinação de ambos.
TDAH em várias fases da vida
O diagnóstico acontece na infância, devido à agitação excessiva, impulsividade e, muitas vezes, falta de concentração nas atividades escolares – o que pode levar a subestimar a capacidade cognitiva e criativa desses pacientes.
Na adolescência, o TDAH pode se manifestar com uma maior falta de concentração, o que pode acarretar em baixa autoestima e irritabilidade, predispondo estes pacientes ao abuso de drogas lícitas e ilícitas em busca de satisfação e escape.
Em adultos que não tiveram o diagnóstico, a continuidade desta sintomatologia pode desembocar em outras comorbidades, como depressão, ansiedade, manias, dificuldade de manter vida produtiva (manter-se em ambientes organizados de trabalho), vício em drogas lícitas/ilícitas, comportamentos impulsivos que dificultam a interação social em vários níveis.
Canabidiol em TDAH – como age?
A terapia com canabinóides em TDAH é possível porque o canabidiol (CBD) regulariza a função do Sistema Endocanabinóide, melhorando a transmissão da Dopamina no cérebro, bem como a atividade dos receptores de adenosina. Na prática isso significa a melhora no foco, redução da distração, hiperatividade e ansiedade e, portanto, melhora nos processos cognitivos do paciente com TDAH.
Também é interessante lembrar que, a partir da adolescência, a prevalência desses sintomas pode acarretar ansiedade e depressão, visto que o paciente tem que lidar com situações onde seu modo de ser não é aceito.
A terapia canabinóide também é bastante eficaz no tratamento de quadros ansiosos e depressivos. O canabidiol é um dos canabinóides presentes na Cannabis e seu uso medicinal é seguro, pois não causa dependência química.
Para saber mais leia estes dois artigos:Sistema endocanabinóide, estresse, ansiedade e depressão
e Cannabis Medicinal atua nos transtornos de ansiedade?
Além disso, a terapia com canabinóides, em comparação com outros tratamentos, têm efeitos colaterais mínimos, que podem ser controlados com o ajuste da dose. Uma vez alcançada a dosagem efetiva, não é necessário aumentá-la, pois os efeitos positivos se mantêm. Sempre importante lembrar, todo o tratamento precisa ser feito com acompanhamento do médico.
Existe comprovação científica?
Existem poucas publicações falando especificamente do uso da terapia canabinóide especificamente em TDAH. Porém há uma abundância de artigos e estudos falando de sua efetividade nas comorbidades ou sintomatologia que pode acompanhar o Transtorno do Espectro Autista. Vejamos alguns.
Na Revista Ibero Americana de Humanidades, Ciências e Educação num artigo falando sobre a “aplicabilidade do canabidiol no tratamento dos transtornos do espectro autista” encontramos:
“…pesquisadores investigam outras vias terapêuticas com uso de substâncias derivadas da Cannabis Sativa. Salienta-se que na população autista, o uso de canabidiol, segundo componente mais abundante da planta cannabis e livre de efeitos lisérgicos, surge como um excelente recurso fitoterápico que possibilita melhoras significativas nos quadros de irritabilidade, agressividade, ansiedade, fobia social, distúrbio do sono, agitação psicomotora etc., promovendo uma melhora no convívio social e aumentando substancialmente a qualidade de vida dessas pessoas e suas famílias.”
Levando em conta que 70% das pessoas com TEA podem apresentar um transtorno mental comórbido, e o TDAH é um dos mais comuns entre eles, juntamente com transtornos de ansiedade e depressão, segundo a Associação Americana de psiquiatria, o uso do CBD pode ser considerado, pois regula as atividades neuronais, sejam elas por excesso ou falta de estímulos.
Numa pesquisa publicada em 2022, na Revista Multidisciplinar do Nordeste Mineiro, foi visto que o uso de CBD em pacientes com TEA, além do efeito esperado em crises epilépticas refratárias a tratamento convencional, também atuou nos sintomas de ansiedade, agressividade, auto estimulação e comunicação dos pacientes.
Num estudo com 30 pacientes adultos com TDAH, todos os pacientes experienciaram uma melhora nos vários sintomas, incluindo melhora na concentração e sono, bem como redução da impulsividade, com uso de terapia canabinóide.
Em recente entrevista para nosso site, o médico psiquiatra Dr. César Lapenda compartilhou seus resultados do uso do CBD: “Tenho percebido excelentes resultados nos transtornos de ansiedade e depressivos, além de pacientes que apresentam TDAH”. Na mesma entrevista também contou que ele mesmo utiliza o CBD diariamente, por ter TDAH, pois teve, em suas palavras, “uma melhora importante dos sintomas”.
Se você ou alguém que você ama convive com o TDAH e gostaria de iniciar o tratamento com canabinóides, fale com nosso Suporte para encontrar um médico prescritor e receber todas as orientações. .
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.