A fibromialgia se caracteriza por dor muscular generalizada e de longa duração, sem apresentar evidência de inflamação local. A doença compromete a qualidade de vida dos pacientes, com prejuízo ao sono, cansaço ou fadiga, alteração de libido, depressão e ansiedade.
A fibromialgia atinge 2 a 3% da população e é a causa principal da chamada dor crônica generalizada, sendo a terceira maior causa de procura a um reumatologista. Destes, a maior porcentagem dos pacientes é do sexo feminino, na meia idade.
Diversos estudos publicados recentemente são unânimes: a Cannabis Medicinal é importante aliada no tratamento multidisciplinar de pacientes com fibromialgia. Além de sua ação analgésica e anti-inflamatória, age nas comorbidades que acompanham esta doença.
Tratamento da fibromialgia
O tratamento convencional da fibromialgia costuma usar um ou mais medicamentos, como antidepressivos, relaxantes musculares, opióides entre outros. A Cannabis medicinal vem se somando ao tratamento convencional, para diminuir o uso de opióides e efeitos colaterais dos fármacos, ou substituindo aqueles que não são bem tolerados pelo organismo do paciente.
A abordagem multidisciplinar também é bastante indicada. Terapia cognitivo-comportamental, exercícios físicos, técnicas de meditação, acupuntura, massagem e biofeedback são exemplos de recursos terapêuticos que ajudam os pacientes a manterem a fibromialgia sob controle.
Vamos entender como a Cannabis Medicinal pode auxiliar estes pacientes a ter qualidade de vida?
Cannabis Medicinal na fibromialgia
O CBD – canabidiol, um dos componentes da Cannabis medicinal, já é bastante aceito para tratamentos de dores crônicas, mas estudos mais recentes e casos clínicos comprovam que o THC (tetrahidrocanabinol) tem se mostrado mais eficaz para a dor neste tipo de patologia.
Um artigo publicado no Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research específica o papel dos terpenos: “Os terpenos da cannabis também possuem atividade na redução da dor, sendo que o mirceno e pineno possuem efeito analgésico (inibem as prostaglandinas, reduzindo a inflamação), enquanto o cariofileno tem ação anti-inflamatória como agonista seletivo de CB2 e o linalol atua como anestésico local”. O mesmo artigo explica a ação dos canabinóides: “Os canabinóides atuam no alívio da dor por meio de uma variedade de mecanismos: efeitos analgésicos e antiinflamatórios diretos, modulação de neurotransmissores e sinergismo com opioides endógenos e exógenos potencializando sua ação analgésica”.
Para a fibromialgia, produtos full spectrum (onde se preserva todos os compostos da planta como fitocanabinoides, terpenos, flavonoides) são os mais indicados para tratamento de dores crônicas e neuropáticas.
Alguns estudos sobre cannabis medicinal em dor crônica e fibromialgia
A fibromialgia é classificada como uma dor crônica. O paciente precisa conviver diariamente com um desconforto físico, que causa alterações no humor, falta de motivação, desde as simples tarefas, até para manter sua vida profissional. A dor também prejudica o ciclo do sono. Isso, a longo prazo, interfere na qualidade de vida da pessoa, com diminuição da libido, surgimento de ansiedade e depressão. É portanto um quadro complexo, que precisa ser contemplado como um todo, para que a real melhora ocorra.
Um ensaio clínico feito no México, entre abril de 2010 a outubro de 2015, comparou 37 pacientes inscritos no “Programa Médico de Cannabis do Novo México” (MCP) e que faziam uso de opióides para tratamento de dor crônica a 29 pacientes não inscritos no MCP. Ao fim de 21 meses, pacientes em uso de cannabis obtiveram maiores índices de suspensão ou redução das doses diárias de opioides, com melhoria da qualidade de vida, redução da dor e poucos efeitos colaterais.
Uma revisão bibliográfica sobre artigos falando do uso da Cannabis Medicinal em fibromialgia constatou que 66,7% dos artigos selecionados demonstraram eficácia do tratamento, indicando melhoria no sono, na dor, na qualidade de vida e em distúrbios como ansiedade e depressão.”
Esta mesma revisão trouxe outro dado importante a se considerar: a dor crônica frequentemente resulta em sentimentos como vulnerabilidade, impotência e imprevisibilidade, que, por sua vez, tendem a amplificar sintomas como cansaço, dor e problemas no sono. Alguns dos estudos analisados mostraram que o uso de canabinóides apresenta bons resultados na redução da ansiedade e da depressão, bem como de outros sintomas associados.
No quesito dor, houve um estudo com cinquenta especialistas em dor em Israel. Destes, 95% prescreviam cannabis para tratamento de dor crônica. Deste grupo, 63% responderam que a eficácia da Cannabis é de moderada a alta para dores crônicas intratáveis, e 56% relataram ausência de efeitos colaterais ou efeitos leves. Somente 5% dos profissionais (2) avaliaram o tratamento como prejudicial.
Fibromialgia e deficiência do Sistema Endocanabinóide
Uma das hipóteses sobre a origem da fibromialgia seria de que ela se desenvolve por uma deficiência no Sistema Endocanabinóide. O sistema endocanabinóide é um sistema complexo formado por receptores e neurotransmissores que controla vários processos, como apetite, nocicepção, neuroproteção, inflamação, metabolismo da gordura, regulação do humor, etc. Pacientes com fibromialgia apresentam diversas alterações nesses processos, por isso acredita-se que essas pessoas sofram uma desregulação desta via. Parece lógico pensar que, se os canabinóides influenciam esses processos, eles podem, portanto, influenciar a evolução da fibromialgia.
Mais estudos
Um estudo cruzado, duplo-cego, controlado com placebo, foi realizado na União Europeia, explorando os efeitos analgésicos da cannabis em 20 pacientes com fibromialgia. Foram utilizados além do placebo, mais 3 medicamentos já existentes no mercado com variedades diferentes de cannabis. O estudo mostrou o comportamento dos canabinóides inalados em pacientes com dor crônica, obtendo pequenas respostas analgésicas após uma única inalação. Mais estudos são necessários para determinar efeitos a longo prazo, mas o resultado demonstrou que, em comparação com placebo, a cannabis obteve melhor resposta analgésica em dores espontâneas
Em um estudo, na Itália, 66 pacientes portadores de fibromialgia sem resposta a tratamento padrão, foram tratados com medicamentos à base de Cannabis por 6 meses, com a opção de continuar ou não com algum tratamento analgésico concomitante. A taxa de retenção do estudo foi de 64% e 6% de abandono por efeitos adversos. Observou-se melhora na qualidade do sono (44%), da ansiedade e depressão (50%) e cerca de um terço apresentou eventos adversos leves. Além destes benefícios, a Cannabis diminuiu os efeitos colaterais dos medicamentos convencionais, aumentando a taxa de retenção dos pacientes na terapia, melhorando a qualidade de vida dos mesmos.
Outro estudo, realizado em Israel, verificou o tratamento de Fibromialgia com a cannabis em dois hospitais, por um período de três meses. Dos 26 pacientes estudados, nenhum abandonou o tratamento. O uso da cannabis foi diversificado, com doses até 1 grama/dia e foi permitido também o uso concomitante de outros fármacos para controle da dor. Entretanto, 50% dos pacientes deixaram de tomar qualquer outra medicação e 46% reduziram a dose de outras medicações. Todos os pacientes tiveram melhora na dor, qualidade de vida e poucos efeitos colaterais e continuaram o uso de Cannabis medicinal após a finalização do estudo.
Autonomia e qualidade de vida
Sabemos que, nos tratamentos em fibromialgia, não se busca a cura mas sim a redução da dor, melhora da funcionalidade, da autonomia pessoal e qualidade de vida dos pacientes.
Como visto aqui, todos os estudos apresentados relataram diminuição de dor e melhora da qualidade de vida, com poucos efeitos colaterais, indicando que a cannabis é uma opção viável para o tratamento da fibromialgia.
Se você quer iniciar a terapia canabinóide para dor crônica, fale com nosso Suporte para todas as orientações.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.