Síndromes raras, como é o caso das Síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut, que acometem pacientes na primeira infância com crises epilépticas frequentes e de grande intensidade, são de difícil tratamento e nem sempre respondem às medicações alopáticas tradicionais. O uso de Cannabis Medicinal nestas patologias traz a possibilidade de controle de casos graves, como mostraremos ao longo deste artigo.
A síndrome de Dravet constitui-se como uma encefalopatia grave, que se desenvolve no primeiro ano de vida e é associada a convulsões de difícil controle. Ela apresenta 3 fases, que levam a comprometimentos cognitivos e comportamentais.
Já a síndrome de Lennox-Gastaut é uma encefalopatia epilética severa da infância que corresponde a 5% das epilepsias infantis, com início entre 1 e 8 anos de idade. Caracteriza-se por retardo mental progressivo, e crises convulsivas de múltiplos tipos. Ambas podem levar a óbito precoce.
O que é epilepsia grave e por que acontece?
As epilepsias graves na infância têm como características principais as convulsões frequentes, atraso no desenvolvimento neurológico e prejuízo na qualidade de vida da criança.
A epilepsia é uma doença neurológica, causada por atividade neuronal excessiva, que dá origem às crises convulsivas. A incidência dos sintomas é maior no primeiro ano de vida, e no mundo, temos aproximadamente 70 milhões de pessoas sofrendo com este quadro.
Efeitos do CBD e THC no Sistema Nervoso Central
Sabe-se hoje que os canabinóides podem ser usados como adjuvantes na terapêutica de doenças neurológicas e sistêmicas, por seu potencial modulador da dor, inflamação e das crises convulsivas.
As propriedades anticonvulsivantes do CBD (canabidiol) foram um dos primeiro efeitos atribuídos a esta substância derivada da Cannabis, em pesquisas conduzidas pelos cientistas brasileiros Carlini (1973), Cunha (1980) e suas equipes, e de Carlini, em parceria com o descobridor do Sistema endocanabinóide, Mechoulan, cientista israelense, em 1980.
Existem inúmeras evidências pré-clínicas sobre os estes efeitos anticonvulsivantes e também na prática clínica, no tratamento em crianças com epilepsias refratárias.
O CBD traz grandes benefícios, não só atenuando a frequência e gravidade das convulsões, mas também prevenindo os danos ao Sistema Nervoso Central que acomete estes pacientes, como citado no estudo de Scheffer et al., de 2021.
Efeito antioxidante
Os canabinóides podem ajudar a combater o stress oxidativo causado pelas convulsões frequentes, que desestabilizam a química cerebral e sua homeostase.
Alguns canabinóides, como o CBD e o THC em baixas concentrações possuem em sua estrutura química componentes que exercem efeitos antioxidantes. Isto se reflete na regulação do diversos sinais intracelulares relacionados com o acionamento de mecanismos antioxidantes.
O THC quando administrado em pequenas doses atua como um modulador de convulsões, Enquanto o THC gera euforia, o CBD bloqueia e inibe o senso de humor.
Efeito antiinflamatório
Convulsões prolongadas e hiperexcitabilidade cerebral frequentemente acabam por ativar os astrócitos e a microglia, bem como gerar um quadro inflamatório no Sistema Nervoso Central.
Os canabinóides, como comprovam pesquisas, exercem um potente efeito antiinflamatório, reduzindo a liberação de fatores citotóxicos ao reativar as células da glia e melhorar a produção de moléculas que auxiliam na manutenção da sobrevivência.
Estudos mostraram que, apesar do receptor canabinóide CB1 ter efeitos anti inflamatórios, o CB2 exerce um papel de resposta neuroprotetora, diminuindo a suscetibilidade a crises epilépticas.
Efeitos terapêuticos dos canabinóides em síndromes epilépticas refratárias
Não é de hoje, portanto, que a literatura aponta a efetividade do uso dos canabinoides como terapêutica nas síndromes de Dravet, de Lennox-Gastaut e de outras síndromes epilépticas.
A ocorrência de efeitos colaterais foram mínimas, mas é relevante que haja o controle da função hepática dos pacientes, devido a interação do CBD com Clobazam e Ácido Valproico, medicações que são tipicamente usadas em síndromes com quadro convulsivo.
Estudos clínicos e literatura
Ao longo das últimas décadas foram feitos inúmeros estudos com pacientes com epilepsia refratária aos medicamentos convencionais, com bons resultados, que apresentaremos abaixo.
Um desses estudos, randomizado e duplo cego, com pacientes portadores da Síndrome de Dravet, reforçou que a administração 20mg/Kg/dia de CBD resultou em uma maior redução na frequência de crises convulsivas. No grupo em uso de canabidiol, a frequência de crises convulsivas diminuiu de 12 crises por mês para 5 durante todo o período de tratamento.
Um artigo na Revista de Neurologia espanhola, de 2021, comenta sobre o efeito do CBD sobre crises epilépticas. Em setembro de 2019 foi aprovado pela Agência Europeia de Medicamentos, logo depois do desenvolvimento clínico, a sua utilização para o tratamento de crises epilépticas associadas à síndrome de Lennox-Gastaut e de Dravet, sendo combinado com clobazam, em pacientes a partir de dois anos de idade.
Na pesquisa de Porter e Jacobson (2013) usou-se a cannabis enriquecida com o canabidiol em 19 crianças que apresentavam epilepsia refratária, com Síndrome de Dravet, Lennox Gastaut e Doose. Dezesseis (84%) dos dezenove pais observaram e relataram redução na frequência de convulsões dos seus filhos no período que utilizavam a cannabis enriquecida com o canabidiol. Destes, apenas dois (11%) relataram não haver diferença na frequência de crises, oito (42%) alegaram redução superior a 80% na quantidade de crises e seis (32%) observaram redução de 25-60% na quantidade de crises. Além da diminuição da frequência de crises, alguns dos efeitos benéficos foi o aumento do estado de alerta, melhora do sono e melhora do humor. Os efeitos colaterais foram basicamente fadiga e sonolência.
Um estudo israelense descreveu estudos realizados em clínicas pediátricas que utilizam cannabis medicinal enriquecida com canabidiol para tratamento de seus pacientes. Deste estudo participam 74 pacientes com epilepsia intratável. O tempo médio estimado do tratamento foi de apenas 6 meses. O tratamento com cannabis teve um resultado significativo, tendo redução de 89% nas crises e melhora na atenção, comunicação, linguagem, sono e habilidades motoras.
A terapia canabinóide, portanto, na epilepsia refratária pode ser usada com segurança, diminuindo o comprometimento cognitivo e comportamental e trazendo qualidade de vida para o paciente e seus familiares.
Se você quer saber como iniciar o tratamento com terapia canabinóide, fale com nosso Suporte.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.