Por Ana Claudia Marques
Cada vez mais pacientes com algum Transtorno do Espectro Autista (TEA) se beneficiam com o uso da Cannabis Medicinal. Para quem convive com os pacientes, as mudanças são gritantes – principalmente para aqueles cujo quadro inclui episódios de convulsões constantes, comportamentos violentos e auto agressivos, acompanhando a dificuldade de comunicação e foco. Falaremos nesse artigo sobre o TEA e como a Cannabis Medicinal ajuda pacientes dentro do espectro a ganharem qualidade de vida em inúmeros aspectos.
Transtorno do Espectro autista
Inteligentes, mas, muitas vezes presos em seu próprio mundo. Quem apresenta algum Transtorno do Espectro Autista (TEA) possui um desenvolvimento neurológico atípico, que leva a dificuldade na comunicação e interação social, hipersensibilidade a estímulos sonoros, visuais, táteis e até mesmo a sabores. Costumam ter padrões de comportamento repetitivos e interesses bastante estritos. Casos mais graves acompanham quadros convulsivos, episódios de agressividade e auto agressão.
A hiper excitabilidade do cérebro traz dificuldades para o autista mostrar quem é realmente. Um estudo de 2014, conduzido por neurocientistas da Universidade de Columbia, confirmou a hipótese de que o cérebro com TEA possui um excesso de sinapses. Sinapses são as ligações entre um neurônio e outro, abundantes no cérebro infantil até aproximadamente os três anos de idade. Após esse período no desenvolvimento normal do cérebro, acontece a chamada “poda neural”, eliminando as ligações que não tem uso. Porém no cérebro de quem apresenta TEA, há uma falha nessa poda neural, resultando em hiper estimulação cerebral, o que gera os déficits neurológicos presentes no autismo.
O TEA é permanente e os tratamentos farmacológicos disponíveis são para os sintomas que o paciente pode apresentar: agressividade, auto agressão, falta de foco, distúrbios do sono, déficit de atenção/hiperatividade, convulsão etc. A equipe multidisciplinar foca no treinamento do paciente, no intuito de dessensibilizar e aprender a dar respostas condizentes com a norma social, para melhor interação e qualidade de vida.
Estudos clínicos e relatos de pais
No artigo da Universidade de Brasília, de 2020, o pesquisador Renato Malcher-Lopes afirmou que a similaridade entre os fitocanabinóides presentes na Cannabis Medicinal e as substâncias presentes no sistema endocanabinóide explicam a eficácia dos tratamentos à base da planta no TEA. “Acreditamos que a melhora que observamos nos pacientes vem do fato de que o sistema endocanabinóide atua, entre outras coisas, controlando as sinapses no cérebro evitando que elas fiquem super ativadas. É interagindo com o sistema que os canabinóides funcionam para o autismo.”
A grosso modo, quando os fitocanabinóides se ligam ao sistema Endocanabinóide, há um reequilíbrio das funções cerebrais, provavelmente restabelecendo algumas podas neurais necessárias e diminuindo a super ativação das sinapses.
No estudo conduzido por Malcher-Lopes, com um grupo de 18 pacientes, 14 (cerca de 78%) apresentaram melhoras nos principais sintomas relacionados ao autismo. “Os resultados mais impactantes foram a redução da hiperatividade, do deficit de atenção e das crises nervosas – as quais, muitas vezes, envolvem auto agressividade – além de melhora na qualidade do sono e na interação social, o que permitiu para alguns ter ganhos cognitivos”, relatou o neurocientista.
Uma reportagem da CNN Brasil, traz relatos de vários pais de autistas, da Califórnia, cujos filhos participaram de um ensaio clínico com Cannabis Medicinal. Os pais relataram que não só o comportamento agressivo e o autolesivo das crianças melhorava muito ou sumia por completo, como também os ganhos na interação social e até mesmo capacidade de comunicação que aconteciam durante o tratamento com Cannabis Medicinal se mantinham, mesmo após a suspensão do uso.
O caso mais notável foi do jovem Ezra, um autista não-verbal. A mãe relatou que, poucas semanas após ele iniciar sua participação no ensaio clínico com Cannabis Medicinal, além da diminuição do comportamento agressivo e autolesivo, o garoto começou a cantar – algo que ele nunca havia feito. Mesmo após o término da participação no estudo, a mãe relatou que ele continuava feliz, não agressivo e falando.
Cannabis Medicinal: como ela age nos sintomas do autismo
Na grande maioria dos estudos pesquisados, a escolha foi pelo tratamento dos pacientes com TEA com o óleo Full spectrum, composto por CBD e THC na proporção de 20:1. O CBD (canabidiol) não é alucinógeno, não é viciante e atuando sinergicamente com o THC (tetrahidrocanabinol), permite que os pacientes desfrutem somente dos benefícios desses dois fitocanabinoides.
Pacientes com um grau mais severo de TEA apresentam quadros convulsivos frequentes. As convulsões acontecem devido à hiper estimulação do cérebro. Quando é administrado o óleo Full spectrum aos pacientes, a quantidade e frequência das convulsões diminuem drasticamente.
Como a Cannabis Medicinal interage com o sistema endocanabinóide e reequilibra a emissão de dopamina pelos neurotransmissores, a hiperatividade do sistema nervoso diminui ou cessa.
Quando isso acontece, a necessidade fisiológica do paciente de reagir ao estímulo dessa hiperatividade, através de comportamentos agressivos, movimentos repetitivos ou de autoagressão também cessam.
Da mesma forma, as áreas cerebrais que processam a fala, pensamentos, aprendizagem, podem se desenvolver, pois os circuitos neuronais do cérebro param de sofrer “curtos-circuitos” diários.

Muitas síndromes raras com quadros convulsivantes importantes são acompanhadas do diagnóstico de autismo, pois os pequenos pacientes não conseguem se relacionar, se expressar, presos em seu mundo. Também nestes casos, quando o óleo Full Spectrum é administrado, os pacientes começam a ter ganhos cognitivos ao mesmo tempo em que conseguem ter um desenvolvimento motor, interação social e ganham em qualidade de vida.
Numa análise de literatura sobre tratamentos de crianças autistas com Cannabis Medicinal, os autores compararam o resultado obtido em 14 estudos, com o seguinte resultado: melhora na ansiedade, agressividade, distúrbios de sono e comunicação. Dentre os 15 periódicos selecionados nesse estudo, 40% (6 periódicos) falam que houve progresso na ansiedade, 20% (3 periódicos) relatam a melhora na agressividade, em 20% (3 periódicos) houve restabelecimento da qualidade de sono e 20% (3 periódicos) apontam avanço na comunicação.
Tratamentos convencionais
É importante relembrar que no autismo não existe cura, mas tratamentos que suavizam seus sintomas no TEA. Dentre os tratamentos convencionais, são utilizados os medicamentos das seguintes categorias:
- estimulantes, visando melhorar a atenção e diminuir a hiperatividade;
- antidepressivos ou ansiolíticos, para tratar quadros depressivos, agressivos, repetitivos e ansioso;
- antipsicóticos, para reduzir quadros auto agressivos, comportamentos repetitivos e retraimento;
- estabilizadores de humor, para “equilibrar” as manifestações emocionais do paciente.
Entretanto, além de muitos pacientes serem refratários a estes medicamentos, os efeitos adversos desses psicofármacos são graves, tais como nefropatia, hepatopatia e síndromes metabólicas, só para citar alguns.
Em contrapartida, inúmeros estudos destacam a Cannabis Medicinal como um ótimo recurso terapêutico, no tratamento do TEA, visto que os efeitos adversos são leves e passageiros (ajustáveis com a dose do produto), além de não haver risco de adicção.
O uso da Cannabis medicinal no Brasil
Até mesmo a Agência Senado, em matéria de 2021, reconhece que “sem a garantia da oferta de compostos nas farmácias (ou no sistema de saúde), os doentes estão sujeitos a uma rotina estressante. A busca de médicos que prescrevam as substâncias adequadas, complexos pedidos de importação à Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), ações judiciais para obter salvo-conduto ao plantio e à extração de óleos medicinais da Cannabis, além do medo de uma batida policial, estão entre os dramas das famílias de crianças acometidas por epilepsia ou autismo, para citar dois exemplos.”
As decisões a favor (ou não) dos pacientes e suas famílias – sempre envolvidas em todos os cuidados do autista – passam invariavelmente pela Anvisa ou pelo poder judiciário. São movidas montanhas, diariamente, para garantir o direito à uma vida digna e com qualidade à todos os envolvidos, através da acessibilidade de uso da Cannabis Medicinal aos pacientes que dela necessitam.
A esperança agora pousa no Poder Legislativo e alguns Projetos de Lei que podem fazer a legislação brasileira avançar para a luz e aceitar que a Cannabis já deixou de ser uma “droga ilícita” para ser um medicamento essencial para milhares de brasileiros.
Em nosso site temos a missão de ajudar a mudar essa realidade, começando pela Equipe de Suporte, pronta a ajudar você a ter acesso aos médicos prescritores e buscando descomplicar a burocracia da Anvisa, explicando o passo a passo para obter autorização particular para o uso e aquisição da Cannabis Medicinal. Assine a nossa newsletter e aprenda mais sobre o poder medicinal da Cannabis.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.