A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ser causada por vírus, toxinas, álcool, entre outros fatores. Estudos pré-clínicos e experimentais sugerem que os canabinóides, compostos químicos encontrados na Cannabis, possuem propriedades anti-inflamatórias e hepatoprotetoras.
Além disso, a Cannabis medicinal pode ser útil para o tratamento dos sintomas associados à hepatite, como náuseas, vômitos, perda de apetite e dor, como mostram alguns estudos. Mas não para por aí.
A Cannabis Medicinal consegue modular o Sistema Endocanabinóide – que, por sua vez, é responsável pelo equilíbrio de todos os sistemas vitais em nosso organismo. O fígado é um órgão que participa de muitos processos químicos dentro do corpo, possui receptores canabinóides em toda sua extensão e saúde deste órgão reflete, por exemplo, no controle da glicose no organismo. Falaremos mais profundamente sobre isso neste artigo.
Fitocanabinóides e Sistema Endocanabinóide
O corpo humano possui um sistema bastante antigo e complexo, que modula todas as funções essenciais à vida: fome, temperatura, ciclo circadiano, sono, reprodução, humor etc. Este é o Sistema Endocanabinóide, formado por receptores canabinóides, substâncias endocanabinóides e enzimas que quebram os endocanabinóides, assim que cumprem suas funções.
A evolução do ser humano, segundo registros arqueológicos e documentais, sempre foi seguida de perto pela Cannabis. A planta sempre esteve presente nas primeiras comunidades humanas, para fins medicinais, alimentares, rituais, na fabricação de tecidos, cordoaria, papel e muito mais.
Não é a toa que o nosso próprio corpo produz substâncias canabinóides e possui receptores específicos, que podem ser ativados pelos fitocanabinóides da Cannabis, reequilibrando um organismo adoecido por quaisquer fatores, sejam externos, como vírus ou ambiente estressantes, sejam internos, como alterações na flora intestinal ou nos hormônios.
Os fitocanabinóides mais conhecidos e estudados são o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabidiol (THC).
O THC é muito similar à Anandamida (um dos endocanabinóides produzidos pelo corpo), ligando-se mais facilmente aos receptores CB1. O THC atua terapeuticamente relaxando a musculatura, desativando sinapses, diminuindo a produção de enzimas e hormônios, dando a sensação de relaxamento, euforia e “felicidade”. Como é o único fitocanabinóide com efeito psicoativo, sua dose terapêutica precisa ser baixa, para não causar efeitos colaterais. Patologias específicas podem demandar um nivel um pouco maior de THC, mas isso só o profissional prescritor pode definir.
Já o CBD se liga ao Sistema Endocanabinóide por outras vias, como enzimas, canais iônicos e receptores vanilóides, agindo como agonista a este último. Além disso, o CBD tem mostrado bloquear a atividade da FAAH (que é responsável por degradar a anandamida assim que cumpre sua função), resultando num aumento nos níveis de anandamida ao prolongar seu tempo de circulação no organismo.
Com isso, os efeitos percebidos do CBD no organismo são como anti-inflamatório, analgésico, anti-náusea, anti-emético, anti-psicótico, anti-isquêmico, ansiolítico e antiepiléptico.
Hepatite C, HIV e o uso da Cannabis medicinal
Pacientes infectados por HIV através do uso de seringas normalmente também são infectados com Hepatite C. É sabido no meio médico que a chance destes pacientes desenvolverem Esteatose Hepática (gordura no fígado), bem como resistência à insulina, é maior do que em outros pacientes com somente uma das duas patologias.
Já é comprovado que o uso medicinal da Cannabis ajuda a controlar níveis de insulina no organismo e a resistência à insulina. Por existir uma relação de causa-efeito entre resistência à insulina e esteatose, pesquisadores levantaram a hipótese de que o uso de Cannabis teria um impacto positivo na esteatose.
Neste estudo feito com 838 pacientes, 14% relatou uso diário de cannabis, 11,7% uso regular e 74,7%, uso ocasional ou nenhum uso. Segundo os pesquisadores
“O uso diário de cannabis foi independentemente associado a uma prevalência reduzida de esteatose” e pode ser um fator protetor contra a esteatose em pacientes co-infectados por HIV-HCV.
Outra pesquisa usou dados de acompanhamento de 997 pacientes infectados por ambos os vírus, da hepatite C e do HIV, por cinco anos, para estudar a correlação entre uso da Cannabis Medicinal e a ocorrência de Índice Elevado de Fígado Gorduroso (FLI).
Foi constatado que o uso regular ou diário de cannabis foi associado a um risco 55% menor de FLI elevado. Eles concluíram que “o uso de cannabis está associado a um risco reduzido de índice elevado de fígado gorduroso em pacientes co-infectados por HIV-HCV.”
Ainda que os mecanismos de inibição da esteatose hepática e outros distúrbios metabólicos pelos canabinóides não estejam completamente elucidados, os fatos falam por si só.
Estudos sobre Cannabis Medicinal e vários tipos de hepatite
As principais causas de óbito relacionadas à doenças do fígado são hepatites virais, esteatose hepática alcoólica e também a não alcoólica. Apesar da origem diferente, estas patologias crônicas do fígado apresentam em comum uma desordem do metabolismo hepático.
Um estudo de 2022 ligou esta desordem metabólica à uma perturbação do sistema endocanabinóide hepático e concluiu, observando modelos experimentais de doenças hepáticas crônicas e também estudos observacionais em humanos, que o uso da Cannabis medicinal e seus fitocanabinóides tem efeitos hepatoprotetores.
A hepatite B, por exemplo, pode ter sua evolução para cirrose e câncer de fígado acelerada, quando existe sobrepeso e obesidade envolvidos. Um estudo publicado em outubro de 2022 investigou fatores de risco, incluindo o uso da Cannabis, para sobrepeso e obesidade em pacientes com hepatite B crônica.
A pesquisa concluiu que o uso de cannabis foi associado ao risco 84% menor de sobrepeso e 59% menor de obesidade em pacientes com infecção crônica pelo vírus da Hepatite B.
CBD como agente antiviral
Um estudo inovador mostrou que o canabidiol (CBD), além das tradicionais propriedades antiinflamatórias, antioxidantes e neuroprotetoras, também tem propriedades antivirais e foi eficiente para inibir a replicação do vírus da hepatite C em 86,4% in vitro, com apenas uma aplicação.
Este achado é extremamente relevante, visto que a hepatite C ainda não possui vacina preventiva e as medicações, além de serem de alto custo, podem não fazer efeito em organismos refratários. Dessa forma, o CBD pode ser uma alternativa terapêutica para estes pacientes.
Os pesquisadores também concluíram que o CBD pode ser eficiente também contra o vírus da hepatite B in vivo e no tratamento da hepatite autoimune, devido à regulação dos receptores canabinóides CB2.
A Cannabis Medicinal pode ser uma importante adjuvante no tratamento das hepatites, melhorando o sistema imunológico e diminuindo a replicação viral; controlando o índice glicêmico e prevenindo a esteatose hepática; e ajudando a controlar sobrepeso e obesidade – fatores de risco para o agravamento da hepatite B.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.