O fígado é um órgão extremamente importante no organismo, pois é o grande responsável pelo metabolismo de tudo o que ingerimos, acumulando mais de 500 funções no corpo humano. Em um fígado saudável, há pouca expressão do Sistema Endocanabinóide ou SEC (sistema regulador de todas as outras funções do corpo).
Esse não é o caso quando o fígado se encontra doente e há uma processo inflamatório – neste caso, o Sistema Endocanabinóide aumenta sua atuação, tentando debelar a inflamação e recuperar o tecido.
São nesses casos que o CBD – canabidiol – um dos fitocanabinóides presentes na Cannabis, pode ser usado medicinalmente nas patologias hepáticas, como veremos adiante.
O fígado é o único órgão que se regenera dentro do corpo – o que já demonstra o quanto é fundamental e, por isso, é preciso cuidar bem dele para que continue nos servindo por muitos anos.
Um grande laboratório
O fígado produz substâncias que auxiliam na quebra de moléculas dos alimentos, para aproveitamento das vitaminas, sais minerais, proteínas e gorduras presentes ali.
É no fígado que moléculas complexas de carboidratos e açúcares são quebradas em “pedaços menores” – a glicose – que, em excesso, é convertida em glicogênio e armazenada no próprio órgão para uso posterior. Também o ferro, decorrente da decomposição das hemácias é armazenado no fígado.
Ainda atua na absorção das gorduras do intestino, com a ação da bile, além de ajudar a formar:
- ureia
- albumina sérica
- inúmeras proteínas, como a bilirrubina
- enzimas.
Se o estômago é responsável pela digestão macroscópica, o fígado é o responsável pela digestão microscópica.Tudo que ingerimos é metabolizado por ele: alimentos, líquidos, remédios, álcool etc.
Quando falamos de substâncias tóxicas – seja um alimento estragado, drogas, remédios ou álcool – o fígado exerce função protetora e neutralizante, decompondo estas substâncias também.
Quando doente, o fígado precisa trabalhar mais devagar. É uma reação em cadeia: um fígado doente compromete a absorção dos alimentos e a nutrição celular. Um organismo mal nutrido não tem energia, disposição e seu sistema de defesa começa a falhar.
Vamos falar disso a seguir.
Doenças que acometem o fígado
Esteatose hepática não alcoólica
A esteatose hepática não alcoólica tem prevalência em indivíduos obesos e diabéticos, ocorrendo quando há acúmulo dos triglicerídeos no fígado e é uma consequência do desequilíbrio entre a síntese e a secreção dos triglicerídeos hepáticos.
Simplificando, quando há ingestão de açúcares em demasia o fígado, para proteger o organismo, transforma os açúcares em gordura (triglicérides) que ficam armazenados no próprio órgão.
O Sistema Endocanabinóide está envolvido nessa regulação da gordura corporal e do fígado,pela ativação do receptor canabinóide CB1.
O SEC em disfunção está envolvido no aparecimento da esteatose hepática quando há desordens metabólicas e quadro inflamatório com lesão do tecido do fígado. O SEC contribui para a regeneração do tecido, formando pontos de fibrose. Caso o processo inflamatório seja crônico (como acontece na degradação das gotículas de gordura presentes no fígado na esteatose), o percentual de tecido fibroso é muito grande, configurando o agravamento da doença.
Esteatose hepática alcoólica – cirrose
A esteatose hepática alcoólica é decorrente dos danos ao tecido hepático devido ao abuso do uso de álcool. O fígado, ao metabolizar álcool em demasia, vai sofrer lesões, que levam a um processo inflamatório crônico e fibrose dos tecidos sem controle.
Anorexia nervosa e relação com esteatose hepática
Uma tese de mestrado da Universidade do Porto demonstrou a relação entre a anorexia nervosa como uma das condições capazes de causar a esteatose hepática.
A tese cita vários estudos, entre eles o de Ozawa et al (1998) com 101 pacientes anoréxicas, onde foi colocada a hipótese de que o aumento das aminotransferases seria um indicador de disfunção de múltiplos órgãos em pacientes com anorexia grave.
Outra pesquisa teve achados que levaram os autores a concluir que existe uma relação inversa entre a adiposidade e os níveis de enzimas hepáticas, o que pode refletir em lesão hepatocelular induzida por esteatose hepática não alcoólica. Assim, os autores especularam que os pacientes com baixa adiposidade podem ser mais suscetíveis a esteatose hepática não alcoólica.
Ratou et al (2008) fizeram um estudo com 12 pacientes anoréxicas com insuficiência hepática e após biópsia de fígado os autores concluíram que as lesões hepáticas são fruto de um processo agudo e não crônico, por não haver lesões no tecido e também porque a função hepática das pacientes rapidamente voltava ao normal quando eram alimentadas.
Hepatite auto-imune
É uma doença inflamatória crônica no fígado, causada por uma disfunção no Sistema Imunológico, que ataca as células do órgão. A Hepatite auto-imune causa disfunções e pode culminar numa insuficiência hepática fulminante.
A hepatite autoimune totaliza de 5 a 19% de todas as doenças hepáticas tratadas e seus sintomas são fadiga, mal-estar, anorexia e desconforto abdominal.
Hepatite viral
É uma doença inflamatória crônica no fígado, causada pelos vírus da Hepatite. Os tipos mais conhecidos são as Hepatites A, B e C.
A hepatite A é a mais branda, normalmente com evolução benigna e em raros casos, pode evoluir para uma hepatite fulminante. A transmissão pode ocorrer com água contaminada por material fecal, folhas de verduras mal lavadas, por exemplo.
A hepatite B é transmitida por relações sexuais, contato com sangue contaminado (mesmo em pequenos cortes ou em instrumentos como alicates de unha) e estima-se que 15% da população brasileira já tenha sido contaminada.
A hepatite C é a mais grave, responsável por 70% das hepatites crônicas e 40% dos casos de cirrose. Muitas vezes silenciosa, pode evoluir para câncer de fígado e falência generalizada dos órgãos.
Os sintomas de hepatite são falta de disposição, fadiga, urina escura, olhos e pele amarelados, prurido no corpo.
Encefalopatia hepática
A encefalopatia hepática geralmente ocorre em pessoas com doença hepática crônica, como cirrose ou hepatite. Os sintomas iniciais incluem esquecimento e confusão mental. Os sintomas avançados incluem agitação das mãos ou dos braços, desorientação e fala arrastada.
O tratamento inclui a remoção de substâncias tóxicas do intestino para retomar os níveis normais de serotonina.
Como o CBD atua nas doenças hepáticas?
O CBD (canabidiol) é um fito canabinóide extraído da Cannabis para uso medicinal. Inúmeras pesquisas mostram o potencial terapêutico do CBD e de outros fitocanabinóides. A Cannabis medicinal atua regulando o funcionamento do Sistema Endocanabinóide em nosso corpo.
O CBD, ao regular o SEC, apresenta, entre outras, qualidades anti-inflamatórias, na recuperação de tecidos, imunomoduladoras e antioxidantes, atuando também na regularização do ciclo de vida celular.
Um estudo publicado na revista Investigação em Farmacognosia mostrou que o CDB poderia ser utilizado para a hepatite viral, especialmente a Hepatite C. O efeito da CDB sobre os vírus da hepatite B e da hepatite C também foi avaliado.
Esse estudo observou que o CBD conseguiu inibir a replicação viral da hepatite C em aproximadamente 87%. A inibição foi dose dependente. O CBD também inibiu o vírus da hepatite B e induziu a morte das células infectadas.
Além disso, o CBD foi eficaz em hepatites autoimunes, ao regularizar a resposta imunológica do corpo. Os pesquisadores concluíram que o CBD pode ser utilizado como terapia combinada no tratamento das hepatites, causando menos efeitos colaterais que os remédios convencionais.
No caso da esteatose hepática, o CBD atua regulando diretamente o Sistema endocanabinóide, reduzindo a inflamação, interrompendo a cicatrização (que leva à fibrose do tecido) e promovendo a regeneração do tecido hepático.
Um estudo realizado por Avraham et al. (2011) mostrou que a CDB, ao restaurar a função hepática, normalizava os níveis de serotonina (devido à normalização da função intestinal) e melhora o funcionamento do cérebro.
Portanto, como os receptores de CBD estão presentes na maioria dos órgãos do corpo humano, os efeitos da CBD, de fato, resultam de uma combinação de ações.
Além disso, o CBD também consegue ajudar no controle de vícios, reduzindo a frequência do consumo de álcool.
Também é importante citar que um estudo de Mukhopadhyay et al. (2011) mostrando que o CBD também tem potencial para atuar como adjuvante na recuperação de pós-cirúrgicos e pós transplantes de fígado, quando pode ocorrer uma lesão generalizada denominada Isquemia-reperfusão hepática, devido a rejeição de enxertos ou novos órgãos, com processo inflamatório intenso, acompanhado de stress oxidativo, causando a morte celular. Nesse caso, o CBD atuaria debelando a inflamação e a oxidação, possibilitando o pós-cirúrgico bem sucedido.
Em resumo, o CBD consegue reduzir a esteatose e fibrose hepáticas, relacionadas ou não ao abuso do álcool e atuar em hepatites virais e autoimunes, ao reduzir a acumulação de lipídios, modular a inflamação, reduzir o stress oxidativo, induzir a morte de células doentes, modular o sistema imunológico e ter ação virucida.
Como utilizar o CBD em doenças hepáticas
O metabolismo do CBD também se dá no fígado, quando o óleo é ingerido. Porém, ao se fazer a administração sublingual das gotas do óleo, sem engolir, por cerca de um minuto, este será absorvido pelos capilares sanguíneos da língua, indo direto para a circulação.
Em todos os casos de doenças hepáticas é imprescindível que haja mudanças nos hábitos alimentares e nos estilo de vida. Diminuir o açúcar e carboidratos, não consumir álcool em excesso e fazer exercícios físicos atuarão diretamente na causa do problema.
O CBD atua concomitante com outras terapias, sempre recomendado por um profissional competente. Se você quiser iniciar seu tratamento com Cannabis Medicinal, fale com nosso Suporte para obter todas as informações.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.