Nada traz mais a sensação de impotência aos pais do que lidar com doenças de difícil tratamento que acometem seus filhos. Muitas dessas doenças têm origem genética, possuem um tratamento custoso e multidisciplinar para que essas crianças possam viver com a melhor qualidade de vida possível.
A Fibrose Cística é uma dessas doenças, de origem genética, rara e progressiva, que compromete principalmente, mas não só, as vias respiratórias. Devido à falta de produção de uma enzima pelo pâncreas, todas as secreções corporais (muco, suor, sucos digestivos) – que deveriam ser fluídas – tornam-se espessas, viscosas e acabam fibrosando os órgãos acometidos. Pulmões perdem sua capacidade respiratória, intestinos podem sofrer obstrução e a digestão não acontece.
A condição clínica obriga a criança a sofrer inúmeras internações, já que qualquer resfriado simples pode complicar seu quadro. Esse ciclo de internações torna-se rotineiro, pois esses pequenos pacientes são infectados com colônias de superbactérias, resistentes a antibióticos comuns, necessitando passar por períodos de “descolonização” do pulmão e recebendo sessões intensivas de fisioterapia respiratória.
Para a criança fibrocística, qualquer quadro infeccioso e inflamatório é relevante e perigoso. Por este motivo o tratamento convencional, além da reposição da enzima pancreática, utiliza cortizona e uma série de outros medicamentos continuamente.
O CBD pode ajudar a melhorar a qualidade de vida tanto para pacientes fibrocísticos quanto de pacientes com outras doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas (DPOC) – como asma, sibilância recorrente em lactentes (SRL) displasia broncopulmonar (DBP),discinesia ciliar primária (DCP), bronquiectasia não associada à fibrose cística (BNFC), bronquite plástica (BP) e bronquiolite obliterante (BO).
Como o CBD ajuda nas DPOCs?
As Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas em crianças e adolescentes caracterizam-se por não serem transmissíveis, terem longa duração e progressão lenta, apresentar quadros de constante piora pulmonar (devido à infecções virais/bacterianas ou exposição à ambientes nocivos), limitações agudas ou permanentes do fluxo aéreo e prejuízo significativo na qualidade de vida. Durante um surto de DPOC, o paciente sente falta de ar, dificuldade de respirar, apresenta chiado, aumento do muco e de ataques de tosse.
Em todas as DPOCs, o principal sintoma pulmonar é a tosse crônica, que traduz as alterações nas vias aéreas,já que nos alvéolos não existem receptores para a tosse. Outra característica é a presença de bronquiectasias (dilatação crônica dos brônquios com catarro muco purulento) em muitas delas – como é o caso da fibrose cística.
O canabidiol (CBD) se mostra eficiente nestes quadros por dois motivos:
- suprime o processo inflamatório e a tempestade de citocinas. Com as citocinas inflamatórias são responsáveis pela síndrome do Desconforto Inflamatório – que resulta em fibrose pulmonar – o uso do CBD retarda a evolução das DPOCS para quadros mais graves.
- melhora a resposta do sistema imunológico do paciente, diminuindo o risco de pneumonias reincidentes e o número de internações frequentes para descolonização dos pulmões das bactérias super resistentes (que se proliferam no muco que permanece nos brônquios).
A terapia canabinóide é relevante para o tratamento das DPOCs também por ter menos efeitos colaterais do que as terapias convencionais. A cortizona, por exemplo, principal anti-inflamatório utilizado pelos pacientes, a longo prazo afeta a saúde óssea, causando osteoporose.
Estudos e relato de caso
A médica Maria Teresa Jacob, especialista em medicina canabinóide, em entrevista ao jornal Estado de Minas explicou que a Cannabis medicinal pode ser uma opção a mais no tratamento das complicações respiratórias da COVID-19 – que levam à fibrose pulmonar, característica presente também nas DPOCs, podendo ser de grande utilidade ao ser adicionada às terapias anti-inflamatórias no tratamento da doença.
Em 2020, na reunião anual do American College of Chest Physicians, nos EUA, foi apresentado um estudo de base nacional mostrando que pacientes adultos com diagnóstico de DPOC que era usuários de maconha recreativa tiveram 33% menos risco de mortalidade hospitalar e 11% menos risco de desenvolver pneumonia do que os não usuários.
Quem faz uso da terapia canabinóide em casos assim confirma
Em maio de 2022 a Defensoria Pública do Estado do Ceará noticiou que a mãe de uma menina portadora de fibrose cística conseguiu na justiça o direito de cultivar a Cannabis em casa, para fabricar o óleo para o tratamento da filha. Segundo a mãe, a garota, hoje com 6 anos, tinha crises de tosse frequentes, colonização de bactérias no pulmão e isso fazia com que a filha faltasse na maior parte das aulas e não tivesse qualidade de vida, devido às constantes internações e rotina voltada para a medicação.
Em 2020 a mãe descobriu que o óleo de CBD poderia ser a saída para melhorar o estado de saúde de sua filha. Na época conseguiu a autorização da Anvisa para a importação da Cannabis medicinal e contou com a ajuda da família para custear a aquisição do óleo importado e segundo ela, foram “os melhores meses de vida da criança”. Para dar continuidade ao tratamento que foi interrompido devido ao alto custo, a mãe recorreu ao plantio e fabricação artesanal do óleo.
A terapia canabinóide nesses casos, portanto, é uma possibilidade a ser levada em conta, para melhorar a qualidade de vida desses pequenos pacientes.
E um lembrete! Em casos como esse, do Ceará, é possível entrar com ação judicial para que haja fornecimento do medicamento importado, custeado pelo SUS ou pelo plano de saúde Nossa equipe de Suporte pode orientar sobre essa possibilidade e fornecer a assistência jurídica necessária, Entre em contato!
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.