Por Ana Claudia Marques
Um recente estudo mostra que o canabidiol (CBD) pode ajudar a amenizar o vício em maconha (cannabis). O leitor pode se perguntar: mas como uma substância que provém da mesma planta pode amenizar o vício na Cannabis dita “recreativa”?
A resposta é que o cigarro de maconha contém a planta inteira, todos os seus compostos, inclusive aqueles que produzem efeitos alucinógenos e de bem-estar momentâneo, portanto, induzindo ao vício – explicaremos adiante o processo.
Já o canabidiol, ou CBD, é somente um dos compostos da chamada Cannabis Medicinal. Ele é responsável pela sensação de bem-estar, relaxamento, supressão de dor, redução de ansiedade, entre outros benefícios. Tudo isso sem viciar o paciente que faz uso dessa medicação e com uma porcentagem mínima de efeitos colaterais, facilmente controláveis alterando a dose do CBD.
O que é viciar?
“Tornar mau, pior, corrompido ou estragado; alterar para enganar; corromper-se, perverter-se, depravar-se”. A definição da palavra vício no dicionário relaciona-se diretamente a algo ruim, difícil de voltar a ser o que era antes. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o vício pode ser entendido como uma doença física e psicoemocional.
A diferença entre hábito e vício pode ser caracterizada pelas consequências que cada um causa na vida da pessoa. O hábito é uma atitude que se torna rotina sem atrapalhar o restante e traz boas recompensas como ir ao trabalho todo dia, exercitar-se sempre no mesmo horário etc.
O vício afasta o indivíduo da sua essência para buscar sempre o prazer imediato, não se importando o que ele precise para conseguir isso. Muitas vezes, nessa situação, o relacionamento familiar e o trabalho são deixados de lado.
Por que alguém adquire um vício?
Cientificamente, a explicação para que o vício aconteça é o aumento da produção de dopamina – um neurotransmissor que transmite as sensações de prazer – quando do uso de entorpecentes, álcool etc. Quando isso acontece, a pessoa começa a ter problemas ao fabricar a própria dopamina e busca sempre aquela sensação que é alcançada só com o uso de outras substâncias.
Nesse momento se configura a dependência química. Os neurotransmissores param de funcionar em seu estado normal e o comportamento do indivíduo fica diferente do habitual.
A adicção pode acontecer de diferentes formas na vida do dependente. Alcoolismo, medicamentos, tecnologia; tabaco, drogas ilícitas, sexo, trabalho, entre outros.
No entanto, cada uma reage de forma distinta no Sistema Nervoso Central (SNC) do indivíduo, demandando respostas diferentes para cada tipo de vício.
Tratamentos convencionais
Os tratamentos convencionais indicam terapia na maioria dos casos. A psicologia vai a fundo para entender as origens e o que levou um dependente a estar naquela situação, buscando decifrar quais foram as causas que o trouxeram ao momento atual. Muitas vezes, o vício pode ser um mecanismo de fuga que ficou sem controle.
Muitos indivíduos que procuram as chamadas drogas ilícitas ou lícitas (como álcool ou cigarro comum) estão inconscientemente buscando compensar uma sensação de “desprazer” na vida. Esta sensação pode ser causada por um vazio emocional (perdas afetivas, não se sentir amado), traumas que são revividos diariamente, sensação de não pertencimento, de não ter propósito, entre outros fatores.
Quando há o consumo da droga, o cérebro é momentaneamente invadido por substâncias que induzem a um estado de relaxamento, alegria, euforia, semelhante ao que sentimos quando estamos genuinamente felizes – e o nosso Sistema Nervoso produz naturalmente a dopamina, serotonina e outros hormônios de bem-estar.
Por isso, se a pessoa está passando por momentos difíceis e se refugia no uso de drogas ou ações que tragam esses momentos ilusórios de felicidade, o cérebro realmente “vicia” e pede mais.
CBD: um tratamento não convencional com bons resultados
Dos tratamentos não convencionais, destaca-se o uso de CBD.
O uso da maconha, como vício, destrói as vias naturais de recompensa e bem-estar do cérebro, como é o caso do Ácido gama-aminobutírico (GABA), um dos moduladores das vias dopaminérgicas.
O CBD, ao contrário, impede a re-captação e destruição do neurotransmissor que diminui os impulsos nervosos e traz naturalmente as sensações de relaxamento, sono e concentração, num organismo saudável. O CBD reequilibra o organismo, que volta a produzir os neuro-hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar geral.
Em um artigo publicado pela revista The Lancet Psychiatry, em outubro de 2020, ficou evidenciado que o tratamento com CBD, em doses específicas, é seguro para a redução do uso da maconha recreativa. O estudo foi feito com 82 pacientes, contando com uma entrevista motivacional para todos os participantes, e se dividiu em duas partes: a primeira definiu as dosagens de CBD eficientes nos pacientes, usuários da maconha. A segunda fase utilizou destas doses e de placebos, investigando a real eficiência do CBD e a hipótese de que os benefícios poderiam ser psicologicamente induzidos (se os placebos fizessem efeito).
O resultado final demonstrou que o CBD possui resultado efetivo na diminuição do uso da maconha:
- os pacientes suportavam bem períodos mais longos de abstinência;
- testes de urina mostravam um percentual menor de THC (tetrahidrocanabidiol, responsável pelo vício) no organismo, comprovando a diminuição do uso da maconha recreativa pelos participantes.
- 94% dos pacientes completaram o tratamento com o canabidiol com sucesso.
Estes resultados são promissores e mostram o potencial dos canabinóides presentes na Cannabis Medicinal de reequilibrarem o sistema endocanabinoide, responsável por regular a oferta de neuro-hormônios em nosso organismo.
Como ter acesso a esse tratamento no Brasil?
Em nosso país o tratamento com CBD ainda é fortemente regulado pela ANVISA e o medicamento só pode ser adquirido com autorização para o paciente, mediante prescrição médica. Você encontra encontra todas as orientações necessárias com nossa Equipe de Suporte, bem como a indicação de médicos que prescrevem a Cannabis Medicinal.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.