Por Ana Claudia Marques
Entre os quadros neurológicos graves que se manifestam desde a infância, a epilepsia é comum a várias Síndromes, como Síndrome de Dravet e Lennox Gastaut, outras síndromes raras, bem como em muitos pacientes com Transtorno do Espectro Autista. Para uma parcela destes pacientes, a esperança de viver com qualidade e sem crises convulsivas frequentes vem com o uso de medicamentos à base de Cannabis.
Quando medicamentos anticonvulsivantes não controlam as crises convulsivas, chamamos de epilepsia refratária. Trinta por cento dos pacientes não obtém melhora, nem na intensidade nem na frequência das crises convulsivas com os medicamentos tradicionais, o que pode levar à condições debilitantes e até mesmo à morte.
Epilepsia ou convulsão?
Esta é uma confusão bastante comum e é importante explicar que existe uma diferença entre um termo e outro.
A convulsão pode se manifestar em episódios isolados e nunca mais se repetir para um indivíduo. Ela pode se manifestar de diversas formas:
- convulsão generalizada: quando há desmaio, movimentos corporais sem controle, hipersalivação e movimento dos olhos;
- ausência: a pessoa se desliga por alguns segundos e depois volta;
- crises parciais complexas: mesclando os vários sintomas, com perda de consciência leve, mas sem desmaio;
- crises parciais simples: onde não há perda de consciência mas há movimentos involuntários.
Quando os episódios convulsivos se repetem, os neurologistas classificam como epilepsia.
Mas o que são e o que causa esses quadros convulsivos?
A convulsão é causada por uma falha na condução de impulsos elétricos no cérebro. Essa falha pode ter causas genéticas, como malformações congênitas presentes em síndromes ou em quadros neurológicos específicos. Também podem ser causadas por paralisia cerebral (quando há privação de oxigênio para o cérebro na gestação ou durante o parto), acidente vascular cerebral (em jovens e adultos), traumatismo craniano, acompanhando quadros febris e infecciosos (como no caso da meningite) ou junto com outras patologias.
Para todas essas condições, são receitados medicamentos anticonvulsivantes.
Epilepsia refratária
Muitos pacientes com quadros convulsivos frequentes, caracterizando a epilepsia, experimentam vários medicamentos anticonvulsivos, sozinhos ou combinados, porém, sem resultados. Nesse caso, chama-se epilepsia refratária, por não responder a esses tratamentos.
Praticamente um terço dos pacientes com epilepsia apresentam resistência aos medicamentos convencionais. Muitos convivem com crises convulsivas diárias, ou, quando mais graves, várias vezes ao dia.
Muitos desses pacientes podem apresentar atraso ou déficit neuromotor e em funções cognitivas devido à frequência de episódios convulsivos. A falha na condução dos impulsos nervosos, “desorganiza” as funções cerebrais, podendo trazer consigo irritabilidade, agressividade, distúrbios do sono, apatia e falta de interação social.
Além do transtorno para o paciente em si, a qualidade de vida dos familiares também é seriamente comprometida, pois estão sempre em estado de alerta em relação à segurança e saúde do paciente.
Cannabis Medicinal – uma alternativa viável
Quando se fala de epilepsia refratária, já existem estudos comprovando a eficácia de medicamentos à base de Cannabis como uma alternativa para estes pacientes e seus familiares.
Aliás, foi exatamente devido à pressão de familiares de pacientes com quadros de epilepsia refratária que, em 2015, houve a liberação pela Anvisa do uso do óleo de Cannabis. A pressão dos pais de portadores de síndromes raras finalmente venceu. Afinal, eles tinham fortes argumentos, pois viam diariamente seus filhos padecerem com crises convulsivas e precisavam de Habeas Corpus para terem direito ao tratamento com medicamentos à base de Cannabis.
Os compostos da Cannabis, como o CBD e o THC, combinados, possuem várias propriedades que beneficiam esses pacientes:
- anticonvulsivantes;
- alteração nas atividades psicomotoras;
- melhora no foco, memória e cognição;
- relaxamento muscular;
- melhora do sono.
Pesquisas sobre o efeito da Cannabis Medicinal na epilepsia refratária
Um estudo aberto, em 2016, nos Estados Unidos, com pacientes de 1 a 30 anos com epilepsia refratária, mostrou que a redução mediana nas convulsões motoras mensais foi de 36,5%, com um perfil de segurança adequado para crianças e adultos jovens.
Um estudo duplo-cego, de 2018, com 225 pacientes com síndrome de Lennox-Gastaut, teve como resultado uma redução percentual mediana na frequência de crises durante o período de tratamento de 41,9% no grupo de 20 mg de canabidiol, 37,2% no grupo de 10 mg de canabidiol e 17,2% no grupo placebo (de controle).
Uma revisão de literatura científica de 2021, feita por quatro neurologistas, sobre a abordagem terapêutica nas Síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut com canabidiol, considerou o CBD como uma terapia inovadora, que “permite melhor controle das crises epilépticas e comorbidades” da Síndrome de Dravet e Lennox-Gastaut, com segurança para os mais de 700 pacientes que participaram dos estudos clínicos.Isso melhora a qualidade de vida dos pacientes e familiares.
Nos dois estudos citados, de 2018 e 2021, os efeitos colaterais mais comuns (aproximadamente em 30% dos pacientes) foram sonolência, diminuição de apetite e aumento das aminotransferases hepáticas, relacionado ao uso concomitante com o medicamento valproato de sódio.
Outro estudo, de 2019, verificou a segurança e eficácia de tratamentos a longo prazo com CBD em portadores destas duas síndromes. Foram 607 pacientes, entre crianças e adultos.Com duração média de 78 semanas de tratamento com CBD, reduziu-se a média mensal das principais convulsões motoras em 50% e as convulsões totais em 44%. As reduções, em 12 semanas, foram maiores ou iguais a 50% em 53% dos pacientes e maiores ou iguais a 75% em 23% dos pacientes. 6% dos pacientes não apresentaram mais episódios convulsivos.
Também é interessante citar um estudo brasileiro, apresentado em Congresso. Nele, dos 38 pacientes com epilepsia refratária tratados com óleo de Cannabis rico em CBD, houve a redução em mais de 50% do número de crises convulsivas para 78,9% dos pacientes. A intensidade das crises reduziu em mais de 75% para 68,4% dos pacientes. E 73% dos pacientes tiveram a redução do uso da medicação anti-epiléptica.
Como obter o tratamento com Cannabis Medicinal
A Cannabis medicinal precisa ser prescrita por um médico e é necessária uma autorização de uso individual pela Anvisa.
Nossa equipe oferece assessoria gratuita tanto para encontrar um médico prescritor quanto para preenchimento adequado do documento junto à Anvisa.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.