Pesquisas realizadas nos últimos anos comprovam que a Cannabis medicinal consegue controlar os níveis de glicose no sangue. O controle da glicose circulante no organismo humano é vital para garantir fornecimento de energia para as células realizarem suas funções, manutenção do bom funcionamento do Sistema Nervoso Central, bem como de todos os órgãos vitais (coração, pulmões, rins, fígado etc).
Descobertas recentes mostram que a disponibilidade da glicose – ou a deficiência dela – para o organismo está intimamente ligada com outras patologias, igualmente importantes.
Baixas ou altas taxas de glicose? Tanto faz, as duas podem causar diversos problemas de saúde. Nosso organismo é um laboratório químico vivo e dinâmico, coordenado pelo nosso Sistema Endocanabinóide. Quando existe algum desequilíbrio dentro deste “laboratório”, o corpo começa a dar sinais. E é aí que a Cannabis Medicinal pode ajudar a controlar a glicemia. Vamos começar compreendendo como alterações na taxa de açúcar no sangue se manifestam.
Sinais de alto nível glicêmico
Alto nível glicêmico (ou de açúcar no sangue) é o que caracteriza o diabetes, doença que atinge mais de 400 milhões de pessoas no planeta e traz consigo uma série de outras complicações.
Quando, por algum motivo, não existe insulina suficiente para degradar o açúcar circulando no sangue e possibilitar a entrada deste na célula, o organismo fica privado de “combustível” para funcionar bem.
Uma coisa para cada lugar, um lugar para cada coisa.
Assim é no organismo. Se o açúcar fica na corrente sanguínea, o corpo tenta voltar ao equilíbrio e dá sinais:
- muita sede, seguido de muita vontade de urinar (inclusive no meio da noite) – o corpo “pede água” para tentar eliminar o açúcar em excesso no sangue e aumenta a vontade de urinar para jogar fora o que está em excesso;
- fome insaciável – se o alimento consumido, que foi transformado em glicose na digestão, não entra na célula, ela não está “alimentada” e não tem energia para realizar suas funções normais. E o cérebro pede mais e mais comida, para tentar saciar o organismo;
- emagrecer de repente: sem regime, comendo muito e anda emagrecendo? Sinal de que o metabolismo está alterado pelo trabalho forçado (principalmente dos rins), em eliminar o excesso de açúcar e que a glicose não está sendo absorvida pelas células;
- problemas na cicatrização – com açúcar em excesso no sangue, temos a oxidação das paredes dos vasos sanguíneos, que engrossam e dificultam o processo de formação de plaquetas e recuperação dos tecidos;
- organismo “oxidado” – resultando em mau funcionamento do Sistema Imunológico e aumento de infecções, como micoses, candidíase, etc.
- pele desidratada e com coceira – apesar de tomar muita água, esta é usada como transporte do excesso de açúcar para fora do corpo. Coceiras podem significar que o fígado também está sobrecarregado.
- cansaço e sono frequentes – sem estar nutrido, tudo o que a pessoa faz cansa rápido. Como também as células do Sistema Nervoso não têm energia suficiente, a “sabedoria” do corpo faz o indivíduo dormir, para guardar a pouca energia que possui.
- raciocínio e foco lentos – novamente, sem combustível para o cérebro funcionar, perde-se o rendimento intelectual na mesma medida que o físico;
- irritação, ansiedade e depressão – o comportamento também é afetado com a alteração do metabolismo do açúcar, pois o seu excesso causa também uma oxidação/inflamação nos tecidos cerebrais. Sabe-se que este processo inflamatório, quando sem controle, acarreta quadros ansiosos e depressivos.
- visão turva – novamente, pela falta de hidratação e excesso de açúcar no sangue.
- inflamação e dor – o açúcar propicia processos inflamatórios, ao alterar nossa microbiota intestinal.
Sinais de baixo índice glicêmico
A hipoglicemia dificilmente ocorre em uma pessoa saudável. Normalmente ela é causada por excesso de insulina no tratamento do diabetes, ou em quadros clínicos que interferem no equilíbrio do nível glicêmico, como em cirroses, hepatites ou tumor no pâncreas, por exemplo.
Como a principal fonte de energia do cérebro é a glicose, os principais sintomas são:
- na Hipoglicemia leve: Sudorese, nervosismo, tremores, tontura, palpitações e fome;
- na Hipoglicemia grave: Tontura, fadiga, fraqueza, dores de cabeça, incapacidade de concentração, confusão, fala arrastada, visão borrada, convulsões e coma.
A primeira providência é fazer o paciente ingerir algo que se transforme rapidamente em glicose no organismo: carboidratos e frutas, por exemplo.
O que alterações no nível de glicose causam no organismo?
As alterações no nível de glicose não causam somente o diabetes com suas comorbidades – doenças cardiovasculares, risco de AVC, alterações vasculares periféricas (que podem levar a necrose das extremidades), cegueira e dor neuropática.
Este processo metabólico prejudicado também está presente na esquizofrenia, Mal de Alzheimer, obesidade e em outros quadros clínicos, como relataram pesquisadores em um artigo de 2021. Os pesquisadores, utilizando coleta de sangue e varreduras cerebrais, observaram que o aumento da utilização da glicose cerebral reduziu os sintomas nos quadros clínicos acima.
Uma pesquisa de 2023 também demonstrou que o aumento da utilização da glicose cerebral reduziu os sintomas clínicos em um paciente jovem que apresentou declínio cognitivo acentuado num rápido período de seis meses, com perda de interesse em realizar atividades, ambivalência, retraimento social, pobreza de fala e sintomas psicóticos intermitentes, como delírios e alucinações. O uso de CBD (canabidiol) por quatro semanas foi eficiente para a melhora clínica do paciente.
Durante o tratamento, uma tomografia do cérebro mostrou melhora na utilização da glicose cerebral, sugerindo que o CBD causou este aumento na utilização da glicose através da ativação de receptores do tipo PPAR-y. Eles também sugeriram que os pacientes com alto risco clínico e psicose precoce que não obtém melhoras com as medicações comumente prescritas podem se beneficiar com o tratamento com CBD.
Mas como é que o CBD, um fitocanabinóide presente na Cannabis medicinal, atua no tratamento do diabetes e outros quadros clínicos?
Como o CBD e outros fitocanabinóides atuam no controle da glicose?
A cannabis medicinal, com seus fitocanabinóides, pode ajudar no tratamento do diabetes e outras doenças em que o índice glicêmico é fundamental para manter a estabilidade do quadro clínico ou a saúde de um indivíduo.
Como isso acontece?
- Controlando os níveis de glicose;
- regulando a sensibilidade à insulina;
- controlando o processo inflamatório associado ao diabetes – e outros quadros clínicos;
- reduzindo o apetite e combatendo a obesidade;
- Protegendo o fígado dos danos causados pelo alto índice glicêmico;
- Reduzindo a dor neuropática associada ao diabetes;
- Acelerando a cicatrização;
- Protegendo as células secretoras de insulina no pâncreas.
Sistema Endocanabinóide e regulação da glicose
Os dois principais componentes ativos na cannabis que têm sido objeto de estudo em relação à diabetes são o tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD).
Estes fitocanabinóides interagem com o Sistema Endocanabinóide do corpo humano, não só através dos receptores canabinóides CB1 e CB2, mas também através de receptores PPAR, atualmente considerados parte do Sistema Endocanabinóide.
Os PPARs são receptores nucleares que desempenham papéis importantes na regulação do metabolismo, inflamação e expressão gênica.
Um estudo recente, publicado em março de 2023 e citado no artigo da Project CBD, traz uma nova informação: o CBD atua no núcleo celular, onde estão os receptores PPARy, pelos quais possuem afinidade.
Essa ativação pelo CBD, segundo os autores, atua positivamente em diversas condições clínicas, além da diabetes: Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson, perda de memória, vários distúrbios do movimento, esclerose múltipla, doenças ligadas ao sistema Imune, câncer, obesidade, ansiedade e depressão.
A explicação é que o receptor PPARy está envolvido na regulação da homeostase da glicose e da neuroinflamação e é ativado diretamente no núcleo celular, não só pelo CBD, mas também pelo endocanabinóide anandamida (AEA) – produzido pelo próprio organismo.
Como cuidar para ter um bom nível glicêmico?
Antes de qualquer medicação, é importante cuidar do corpo para prevenir complicações e doenças ligadas a uma glicemia alta no sangue, e “combustível”/glicose entrando em baixas quantidades a nível celular.
Praticar exercícios físicos ou caminhadas regulares, proporcionar uma dieta saudável, com menor ingestão doces e massas, caprichar na hidratação diária, são algumas das atitudes que ajudam a manter sua saúde em dia.
Mas se a diabetes ou outras patologias ligadas ao nível glicêmico já estiverem instaladas no organismo, seguir as orientações do seu médico, quanto ao uso da insulina ou outros medicamentos é fundamental.
A Cannabis Medicinal atua como adjuvante ao tratamento convencional e pode ajudar a manter o nível glicêmico sob controle, interrompendo a evolução e evitando a piora do quadro clínico, preservando, assim, a qualidade de vida do paciente
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.