Existem diferenças entre o canabidiol (CBD) e medicamentos alopáticos. A principal é que o CBD, bem como os outros fitocanabinóides presentes na Cannabis, interagem e regulam o nosso Sistema Endocanabinóide. Os medicamentos alopáticos, não.
Além disso, os efeitos colaterais provocados pelo CBD e por medicamentos alopáticos diferem bastante, principalmente em intensidade e perda de qualidade de vida para o paciente.
Qual a diferença no processamento do canabidiol e dos medicamentos alopáticos pelo organismo?
O CBD (canabidiol) e os medicamentos alopáticos oferecem duas abordagens distintas para o tratamento de diferentes condições de saúde. O profissional de saúde deve considerar os benefícios para o paciente no momento de prescrever, incluindo interações medicamentosas e possíveis efeitos colaterais. Dessa forma a adesão ao tratamento pelos pacientes é fortalecida.
O CBD e os medicamentos alopáticos diferem na forma como são processados e interagem com o organismo.
Vamos mostrar a seguir as principais diferenças entre o CBD e os alopáticos.
Origem e Composição
Medicamentos alopáticos são produtos farmacêuticos convencionais que contêm substâncias químicas sintéticas (não encontradas na natureza) ou derivadas de plantas, direcionados para tratar doenças específicas.
O canabidiol é um composto encontrado na planta de cannabis, sendo uma das muitas substâncias químicas conhecidas como fitocanabinoides. É geralmente extraído de cepas de cânhamo, que possuem teores baixos de THC (tetrahidrocanabinol), ou composto psicoativo da cannabis. O CBD não produz efeitos psicoativos e traz inúmeros efeitos terapêuticos, podendo ser utilizado em diversos quadros clínicos.
Sistema de Receptores alvo e amplitude de ação
Medicamentos Alopáticos geralmente são projetados para atuar em alvos específicos, como receptores, enzimas ou proteínas envolvidas em processos fisiológicos ou patológicos. Eles provocam efeitos terapêuticos bem definidos, buscando diminuir sintomas presentes em um quadro clínico. Por exemplo, um analgésico atua no alívio da dor, e um antibiótico visa combater infecções bacterianas.
Dessa forma, um quadro clínico pode demandar a prescrição de mais de um medicamento. Ex: Um quadro de dor crônica, como uma artrose, demanda analgésicos, antiinflamatórios. Se houver outras comorbidades decorrentes do quadro inicial, remédios para insônia e para depressão.
Os canabinóides, por outro lado, interagem com o sistema endocanabinoide do corpo, que é um sistema regulador complexo que envolve receptores CB1 e CB2. Os canabinóides não têm um único alvo, mas influenciam esse sistema de modulação que está envolvido em uma variedade de funções fisiológicas importantes.
Um pouco mais sobre a amplitude de ação dos canabinóides
A amplitude de ação dos medicamentos à base de canabinoides se refere ao fato de que eles podem influenciar diversos sistemas e funções no corpo, ao regular o Sistema Endocanabinóide, incluindo:
1. Controle da dor: O sistema endocanabinóide está envolvido na regulação da percepção da dor. O CBD pode afetar a forma como o corpo percebe e responde à dor, tornando-o potencialmente útil no controle da dor crônica e aguda. Seu uso concomitante com outros analgésicos opióides ajuda a reduzir a dose destes remédios e evitar a dependência química que eles podem acarretar.
2. Inflamação: O CBD tem propriedades anti-inflamatórias, o que pode ser benéfico no tratamento de condições inflamatórias crônicas, como diversas patologias autoimunes (Lúpus, artrite, fibromialgia, por exemplo), bem como em doenças hepáticas, pós-operatórios, recuperação de tecidos em atletas lesionados, só para citar alguns casos.
3. Ansiedade e estresse: O sistema endocanabinóide desempenha um papel na regulação do humor e da ansiedade. O CBD pode reduzir a ansiedade e o estresse, tornando-se útil no tratamento de transtornos de ansiedade, como o transtorno de ansiedade social, estresse pós-traumático e também na depressão.
4. Sono: O CBD também pode ajudar a melhorar a qualidade do sono e a reduzir a insônia, seja causada por apnéia do sono, dores crônicas ou síndrome das pernas inquietas.
5. Epilepsia: O CBD tem sido eficaz no tratamento de certos tipos de epilepsia refratária a tratamentos convencionais, especialmente em crianças e jovens com Síndromes raras, e pode reduzir a frequência e a gravidade das convulsões.
6. Náusea e vômito: O CBD também pode ajudar a combater a náusea e vômito que acompanham os tratamentos com quimioterapia em pacientes com câncer.
7. proteção do Sistema Nervoso: o potencial neuroprotetor e neurogênico do CBD e outros canabinóides já é comprovado, podendo ser utilizado como adjuvante em casos de Mal de Parkinson, Mal de Alzheimer, AVCs e traumas encefálicos, bem como em doenças neurodegenerativas, como Esclerose Múltipla, com ótimos resultados.
Quando o CBD pode substituir os medicamentos alopáticos?
O CBD é considerado um adjuvante nos tratamentos, mas pode ser um substituto de medicamentos alopáticos em casos específicos:
–Controle da Epilepsia Refratária : O CBD tem se destacado como um tratamento eficaz em casos de epilepsia resistente ao tratamento convencional. Pesquisas demonstraram que o CBD pode reduzir significativamente a frequência e a gravidade das convulsões em pacientes que não respondem adequadamente a outros medicamentos antiepilépticos. Em alguns casos, o CBD pode ser usado como tratamento primário.
–Alívio de Náusea e Vômito no tratamento da quimioterapia : Em casos resistentes a medicamentos convencionais, o CBD pode ser uma alternativa eficaz, seja como tratamento primário ou adjuvante. Isso é significativo, pois as náuseas e vômitos podem ser debilitantes para pacientes em tratamento de câncer e impactar sua qualidade de vida.
-Distúrbios do Sono: O CBD tem demonstrado potencial no tratamento de diversos distúrbios do sono que não respondem aos tratamentos alopáticos, incluindo insônia (relacionada à ansiedade, estresse e dor crônica), apnéia do sono e síndrome das pernas inquietas. Esses distúrbios do sono podem ser debilitantes e afetam significativamente a qualidade de vida.
–ansiedade: O CBD pode ser utilizado como tratamento primário em casos refratários ao tratamento convencional. O CBD atua também nos sintomas físicos, ao ajudar a relaxar e reduzir a tensão muscular, muitas vezes responsável pelo aparecimento de outras comorbidades, como enxaquecas e insônia.
Efeitos colaterais
Ambas as abordagens podem ter efeitos colaterais. Na verdade, temos que considerar que cada organismo é um “laboratório químico” único, que irá responder de forma diferente a cada tratamento, seja ele com remédios alopáticos, sejam canabinóides.
Entretanto, é importante ressaltar que medicamentos alopáticos, apesar de atingirem alvos específicos, podem trazer muitos efeitos colaterais que dificultam a adesão ao tratamento.
Também é importante se levar em consideração que para tratar uma patologia específica e suas comorbidades, são necessários mais de um medicamento e as interações entre eles também precisam ser avaliadas, independente se são somente entre remédios alopáticos ou se são com o CBD.
Efeitos colaterais possíveis em medicamentos alopáticos
Vamos relacionar aqui alguns medicamentos mais usados em patologias crônicas e suas comorbidades, com seus efeitos colaterais possíveis.
Os benzodiazepínicos (utilizados como tranquilizantes e sedativos), podem causar tolerância ao medicamento, dependência e outros efeitos indesejados, como diminuição da atividade psicomotora, o prejuízo da memória, tontura e zumbidos e reação paradoxal (excitação, agressividade e desinibição).
Ansiolíticos podem causar: cansaço, sonolência, confusão mental, amnésia, tremor nas mãos, alucinações, dor de cabeça, bem como pele e olhos amarelados.
No caso de antidepressivos, os efeitos adversos mais comuns, entre as classes deste medicamento, estão a taquicardia, disfunção sexual e as reações anticolinérgicas. Os antidepressivos mais modernos, apesar de apresentarem maior tolerância, ainda possuem reações colaterais. As mais comuns são os problemas gastrointestinais, cefaléia, falta de coordenação motora, alterações no sono e no nível de energia. Também podem causar efeitos mais graves, como perda da função sexual e pensamentos suicidas.
Anticonvulsivantes podem causar sonolência, tontura, ganho de peso e dor de cabeça. Em crianças, pode levar a agressividade, alterações do humor e hiperatividade. Náusea, vômito, constipação, dor de cabeça, tontura, insônia, fadiga, visão dupla, tremor, alterações do ciclo menstrual e alterações na pele.
Anti-inflamatórios tem como efeitos colaterais mais comuns: agravamento da hipertensão, inibição da ação dos diuréticos, agravamento da insuficiência cardíaca, agravamento da função renal, síndrome nefrótica, hepatite medicamentosa e reação alérgica.
Analgésicos opióides apresentam, como efeitos colaterais mais comuns: sonolência, constipação, náuseas e vômitos. Alguns pacientes também podem apresentar tontura, prurido, alterações mentais (como pesadelos, confusão e alucinações), respiração lenta ou superficial ou dificuldade para urinar. Também existe a tolerância ao medicamento e risco de causar dependência.
Analgésicos comuns também precisam ser utilizados com parcimônia, pois também podem apresentar risco de comprometimento de função hepática, alterações no trato gastrointestinal e reações alérgicas. Aqui estamos falando mais genericamente, pois cada tipo de medicamento possui efeitos colaterais específicos.
Quando o paciente apresenta efeitos colaterais, é necessário trocar a medicação, ver como a química do corpo do paciente reage. Muitas vezes há uma descontinuidade no tratamento devido à perda de qualidade de vida e até de habilidades cognitivas que alguns efeitos colaterais acarretam.
Efeitos colaterais possíveis com a terapia canabinóide
A cannabis medicinal pode causar efeitos colaterais leves. Caso o óleo de Cannabis medicinal tenha uma dose de THC mais alta (formulações específicas recomendadas em casos de espasticidade ou convulsões, por exemplo) é possível que haja algum efeito psicoativo, com alucinações e sonolência. Nas formulações mais comuns, onde o THC vem em concentrações menores que 0,03%, estes efeitos psicoativos não acontecem.
Os efeitos colaterais mais comuns são: sonolência, dor de cabeça, alteração do apetite e diarréia. Outros efeitos colaterais, mais incomuns, incluem: tontura, dor de cabeça, alteração do hábito intestinal e da frequência cardíaca.
Entretanto, existem dois fatores importantes. Primeiro, os efeitos colaterais do CBD são muito mais brandos do que os causados por medicamentos alopáticos, usados para o tratamento das mesmas patologias.
Segundo, a maior parte desses efeitos pode ser facilmente eliminada com ajustes na dosagem, o que torna crucial o acompanhamento constante do profissional prescritor.
Interações medicamentosas
Os medicamentos devem passar pelo fígado para serem metabolizados. É ali que as enzimas convertem os pró-medicamentos em metabólitos ativos ou convertem os medicamentos ativos em formas inativas.
No caso de medicamentos alopáticos, os princípios ativos atuam em lugares pré-determinados no organismo, ligando-se a receptores específicos que combinam com o princípio ativo, aliviando a dor, a inflamação, etc.
No caso dos canabinóides, inclusive o CBD, eles se ligam direta ou indiretamente aos receptores do Sistema endocanabinóide, que irão ativar substâncias do nosso organismo para aliviar a dor, inflamação, proteger neurônios etc. Em tempo: os receptores canabinóides estão presentes em todo o organismo.
Normalmente os metabólitos dos medicamentos e dos canabinóides são excretados na urina, fezes, suor e saliva. Cada medicamento possui uma “vida útil” diferente.
As interações medicamentosas podem acontecer quando dois ou mais fármacos em uso conjunto originam uma reação do organismo. Os efeitos das interações medicamentosas mais comuns são:
- perda de eficácia de um dos medicamentos (pois o fígado não consegue metabolizar os dois ao mesmo tempo);
- Dores no estômago;
- problemas no fígado;
- Tontura e sensação de confusão mental;
- Sensação de lentidão nos reflexos;
- Taquicardia e aumento na pressão arterial;
- Mudanças no humor, como irritabilidade ou sentimentos depressivos.
Muitos tratamentos pedem monitoramento constante de funções renais e hepáticas, bem como exames de sangue para ver risco de hemorragias e outras complicações.
No caso do CBD, ele também é metabolizado pelo fígado. Portanto, se administrado com outros medicamentos, pode impossibilitar a metabolização completa do outro químico, que fica circulando por mais tempo sem ser absorvido pelo organismo. Dependendo do medicamento, isso pode causar uma toxicidade, como é o caso da interação com alguns medicamentos utilizados no tratamento de câncer.
Também é o caso da Levotiroxina, varfarina e alguns medicamentos anticonvulsivantes: o CBD pode aumentar as concentrações no sangue desses medicamentos e, com isso, potencializar e intensificar seus efeitos.
Já a interação com a Fenitoína e a rifampicina podem diminuir a concentração de CBD e diminuir sua atuação terapêutica.
Também é importante ressaltar que, em alguns casos, a interação medicamentosa pode ser positiva, como é o caso do CBD com analgésicos opióides. Neste caso, o CBD é benéfico, pois ajuda a diminuir a quantidade de analgésico necessário para o controle da dor, prevenindo ou revertendo a dependência química a estes medicamentos.
Como vimos, existem diferenças entre o CBD e os medicamentos alopáticos, principalmente no que tange a forma de ação e efeitos colaterais. Em ambos os casos, sempre é necessário o cuidado com as interações medicamentosas pelo profissional que acompanha o paciente.
É importante ressaltar que o CBD age de forma ampla, em várias sintomatologias, ajudando a diminuir a polifarmácia. Os medicamentos alopáticos tratam sintomas isolados e o uso concomitante do CBD pode ajudar a conduzir um tratamento com menos medicamentos e melhor qualidade de vida para o paciente.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.