Por Ana Claudia Marques
Você sabia que existem vários distúrbios oculares que causam lesão progressiva do nervo óptico e são chamados de glaucoma? Também há várias formas de intervenção clínica e medicamentosa para barrar a progressão da doença. Uma delas é o uso da Cannabis Medicinal, como coadjuvante no tratamento convencional.
O glaucoma é a segunda causa de cegueira em todo o mundo, por ser uma doença silenciosa, já que a perda de visão, gradual, nem sempre é percebida a tempo. A princípio, a perda é periférica; com o tempo ela se estende para a área central do campo visual.

Existem grupos de risco mais predispostos a desenvolver o glaucoma:
- pessoas com histórico familiar da doença (chance de 6 a 10 vezes maior de desenvolver);
- pessoas de origem africana ou latina (chance 3 vezes maior de desenvolver);
- indivíduos acima dos 40 anos;
- indivíduos que fazem uso prolongado de corticosteróides;
- diabéticos e hipertensos;
- pessoas com grau elevado de miopia ou hipermetropia;
- indivíduos que sofreram alguma lesão ocular (trauma) ou cirurgia.
O perda de visão que acompanha o glaucoma acontece devido à lesão do nervo óptico. O nervo óptico é um conjunto de neurônios especializados em levar até o cérebro as informações captadas pelos olhos. Como a morte desses neurônios vai acontecendo lentamente devido a um aumento da pressão intraocular, quando o indivíduo percebe que há um problema em sua visão, boa parte desses neurônios já se foi e não pode ser recuperada.
Por este motivo é tão importante a visita anual ao oftalmologista, pois qualquer alteração é percebida no exame de rotina pelo profissional.
O que causa o glaucoma?
O Glaucoma é causado pelo desequilíbrio entre a produção e a drenagem do líquido no olho. A produção do líquido precisa ser contínua, para lubrificação das estruturas oculares, mas se há obstrução do canal de drenagem, a pressão dentro dos olhos aumenta, podendo lesar o nervo óptico.
É importante deixar claro que a pressão intraocular ideal varia de um indivíduo para outro. O que em uma pessoa é normal, em outra pode estar causando a lesão do nervo. Por isso, as consultas regulares são importantes: o oftalmologista vai verificar não só a pressão ocular, mas também a integridade do nervo óptico e do campo visual da pessoa.
Quais os tipos de glaucoma?
Os tipos de glaucoma são classificados primeiramente, verificando se a causa é conhecida ou desconhecida.
Glaucomas de causa desconhecida são chamados de “primários”, pois não vem acompanhando nenhum outro quadro clínico.
Glaucomas que acompanham alguma outra doença, como catarata, diabete, hipertensão, tumores, infecções, inflamações ou aparecem, por exemplo, após o indivíduo sofrer uma cirurgia de cataratas, são chamados de “secundários”.
Os glaucomas também são classificados em:
1- glaucoma de ângulo aberto – mais comum em pacientes com miopia, nele os canais de drenagem vão sendo gradualmente fechados por micropartículas, ao longo dos anos, tornando a drenagem insuficiente para a produção de líquido do olho. O paciente começa a ter “pontos cegos”, normalmente na visão lateral, e depois estes pontos vão se fundindo em manchas. O paciente normalmente enxerga bem o que está à sua frente, mas não o que está nas laterais.
2- glaucoma de ângulo fechado – é mais comum em pacientes com hipermetropia, e tem incidência menor do que os de ângulo aberto. Ele é causado por uma obstrução dos canais de drenagem devido ao estreitamento entre a íris e a córnea. Ele pode ser de dois tipos:
a- glaucoma de ângulo fechado agudo – quando a obstrução ocorre de forma repentina e aumentando rapidamente a pressão intraocular. Nesse caso o paciente sente uma dor aguda, seguida de visão turva, visão de halos de luz ou perda súbita de visão. A intervenção também precisa ser de emergência, para não haver perda definitiva da visão.
b- glaucoma de ângulo fechado crônico – aqui a obstrução acontece lentamente, como no de ângulo aberto, com sintomas semelhantes. Visão turva, vermelhidão nos olhos e dor de cabeça que diminui ao dormir são outros sintomas.
Há também o glaucoma de pressão normal, onde existe a lesão do nervo óptico mesmo sem aumento da pressão intraocular. De causa desconhecida, a hipótese mais aceita é que tenha causas vasculares envolvidas nesse caso.
Existe ainda o glaucoma precoce, congênito e raro, causado pela má formação do olho na criança, causando aumento da pressão intraocular e perda de visão.
Existe tratamento para o glaucoma?
Quando o glaucoma é diagnosticado, todo o tratamento é voltado para preservar o que resta da visão do paciente. Não há como recuperar as células nervosas do olho que já foram danificadas.
O tratamento convencional se baseia em dois tipo de intervenção:
- uso de colírios para controlar a pressão intraocular;
- cirurgias para reduzir a pressão intraocular, criando um canal de drenagem.
Os colírios são utilizados já nos casos de detecção precoce. São quatro tipos de colírios, que pode ser usados combinados ou de forma separada. Podem ser feitas intervenções com laser, para abrir canais de drenagem do líquido ocular.
As intervenções cirúrgicas são indicadas no glaucoma congênito e, nos outros casos, somente para 10% dos pacientes acometidos.
Perspectivas do uso da Cannabis Medicinal no tratamento do glaucoma
O uso da Cannabis com propósitos medicinais em oftalmologia encontra relatos já na antiga Índia, mais de 1000 A.C. (segundo o historiador Antonio Escohotado). Na atualidade, desde a década de 1970, pesquisadores estudam os efeitos dos dois principais canabinóides – CBD e THC – no glaucoma.
O que se sabe, hoje, é que o THC (tetrahidrocanabidiol) é o componente da Cannabis que tem o efeito redutor da pressão intraocular, enquanto o CBD (canabidiol) possui importante efeito neuroprotetor, aumentando a resistência do nervo òptico à pressões.
Desde a descoberta do sistema endocanabinoide pelo Dr. Raphael Mechoulan, na década de 1960 novas perspectivas se abriram, ao se verificar a presença de receptores canabinóides do tipo 1 (CB1) no corpo ciliar, malha trabecular, canal de Schlemm, íris e retina e do tipo 2 (CB2) na retina e na córnea.
Estudos sobre uso do THC e CBD no glaucoma
Num estudo de 2006, verificou-se que o uso do CBD isoladamente não causava a diminuição da pressão intraocular, enquanto o uso de THC (5Mg. sublingual), conseguiu baixar a pressão intraocular por algumas horas.
Em outro estudo de 2016, os pesquisadores consideram a Cannabis Medicinal como um potente agente hipotensor da pressão intraocular, mas alertam para os efeitos cardiovasculares e neurológicos, que precisam ser avaliados quando se pressupõe uma prescrição terapêutica.
Já outro estudo de 2021 sugere que a terapia canabinóide, com uso concomitante de THC e CBD, podem auxiliar em outros fatores além da diminuição da pressão intraocular, relativamente a seu efeito neuroprotetor.
São por essas outras vias que a terapia canabinóide pode ajudar no controle do glaucoma:
- melhorando a circulação intraocular, ao inibir a substância endotelina-1. Dessa forma a cabeça do nervo óptico é melhor irrigada, demonstrando aí seu efeito neuroprotetor;
- inibindo a substância glutamato, responsável pela degeneração óptica, devido à morte dos neurônios ópticos;
- inibindo a produção de citoquinas inflamatórias, que contribuem para o stress oxidativo e perda das células ganglionares da retina.
Este estudo também relata que na administração da terapia com Dronabinol (um canabinoide sintético) por via oral não houveram efeitos colaterais cardiovasculares nem respiratórios.
Outros estudos ainda sugerem que os canabinóides, ao se ligarem aos receptores CB1 e CB2, conseguem reduzir a pressão intraocular ao atuar no mecanismo de produção do humor aquoso (o líquido do olho), reduzindo a liberação de noradrenalina e, consequentemente, a produção do líquido dos olhos.
Quando pode ser considerada a terapia com Cannabis?
Todos os estudos, mesmo os mais recentes, citam o potencial do tratamento com Cannabis Medicinal, mas alertam que é preciso encontrar maneiras de contornar possíveis efeitos colaterais, devido ao fato de que a diminuição da pressão intraocular é somente de 3 a 4 horas, necessitando de uso constante.
Além disso, a aplicação tópica – como colírio – não tem boa penetração ocular, além de causar irritação nos olhos. As vias de uso disponíveis são através do óleo ou de spray (de aplicação sublingual) de Cannabis Medicinal.
O uso da terapia canábica no glaucoma, hoje, é considerada por oftalmologistas quando:
- o paciente já utiliza a terapia máxima (ou seja, com uso dos quatro tipos de colírios) sem efeito, ou com efeitos colaterais dos mesmos;
- o paciente já recebeu o tratamento a laser, para abrir canais para a drenagem do humor aquoso, sem grande sucesso;
- o paciente precisa de cirurgia porém possui restrições para a mesma;
- quando todas as terapias não estão sendo eficientes para o controle da evolução do glaucoma.
Nesses casos, a terapia com Cannabis Medicinal é indicada, com o devido acompanhamento de outras especialidades médicas.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.