A Cannabis medicinal pode ser uma opção eficaz para o tratamento dos sintomas associados aos cuidados paliativos no tratamento do câncer.
Os cuidados paliativos em oncologia são uma abordagem multidisciplinar com o objetivo de proporcionar conforto e melhor qualidade de vida aos pacientes com câncer avançado e seus familiares. A terapia com canabinóides, que são compostos químicos encontrados na planta da cannabis, tem sido testada como uma opção de tratamento complementar para sintomas como dor, náusea, vômito e falta de apetite em pacientes com câncer.
Canabinóides no cuidado paliativo
A cannabis contém substâncias chamadas canabinóides, sendo o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) os mais conhecidos e observados.
O THC pode estimular o apetite, ajudando a combater a perda de peso associada ao tratamento do câncer e na melhora da qualidade do sono.
O CBD (canabidiol), outro composto encontrado na Cannabis, também pode ter benefícios no tratamento de cuidados paliativos, ajudando a reduzir a dor e a inflamação, bem como a ansiedade e a depressão.
Além disso, a planta também tem se mostrado eficaz no tratamento de náuseas e vômitos decorrentes da quimioterapia, que muitas vezes prejudicam a alimentação e a hidratação dos pacientes.
Os profissionais de saúde envolvidos nos cuidados paliativos em oncologia devem trabalhar em equipe para avaliar os sintomas do paciente e encontrar as melhores opções de tratamento, que podem incluir terapia com canabinóides, juntamente com outras opções de tratamento, como quimioterapia, radioterapia e cuidados de suporte.
Dosagem e administração
A dosagem e a forma de administração devem ser cuidadosamente ajustadas para cada paciente individualmente, levando em consideração a idade, a saúde geral e outros medicamentos que podem estar sendo utilizados.
Existem várias formas de administração de cannabis medicinal, em forma de comprimidos, cápsulas, tinturas ou vaporizadores. Cada forma de administração pode ter efeitos diferentes no corpo e é importante que o paciente converse com seu médico.
Além disso, o paciente precisa estar ciente dos possíveis efeitos colaterais da cannabis medicinal, que incluem tontura, sonolência, boca seca, aumento do apetite e alterações de humor. Desta forma a dose poderá ser ajustada para o conforto do paciente.
Estudo para protocolo de tratamento
Um artigo publicado no Journal of Cannabis Research relatou como, usando um processo Delphi modificado em vários estágios, vinte especialistas globais, em nove países, desenvolveram recomendações sobre como dosar e administrar cannabis medicinal em pacientes com dor crônica.
Para pacientes em cuidados paliativos, por apresentarem maior fragilidade e maior risco de delirium terminal, consideraram adequado utilizar uma abordagem conservadora.
“Foi acordado que um paciente pode começar com uma dose de 5 mg uma vez ao dia de uma cepa predominante de CBD e aumentar a titulação em 5–10 mg a cada 2–3 dias até 40 mg de CBD por dia, alavancando a administração duas vezes ao dia quando necessário. Se os objetivos do tratamento não forem atingidos com a dose predominante de CBD de 40 mg/dia, considere iniciar 1 mg de THC e titulação de 1 mg uma vez por semana até 40 mg/dia de THC, mantendo a mesma dose de CBD.”
A introdução do THC no tratamento é recomendada para iniciar no período noturno para melhorar a qualidade do sono e também para evitar acidentes.
Também é importante ressaltar que, diferente dos opióides, não existe letalidade no uso da Cannabis Medicinal. A explicação para isso é que o Tronco Cerebral – que controla as funções vitais – possui poucos receptores canabinóides, e a dose de THC que seria letal para um ser humano é absurdamente alta: 280 mil mg, impossível de ser alcançada em qualquer tipo de administração da Cannabis medicinal.
Desta forma a equipe médica pode adaptar o regime de tratamento com canabinóides, cuidando das interações medicamentosas, mas sem correr o risco de óbito por overdose.
Artigos sobre o uso de canabinóides em cuidados paliativos
Um artigo publicado na Pubmed contextualizou a eficácia do uso de canabinóides no tratamento oncológico, principalmente para dor, como opção aos tratamentos com opióides.
Outro artigo de 2020, publicado na Lieberpub concluiu que o uso da Cannabis Medicinal pode ser considerada uma terapia adjuvante viável para tratamento paliativo de dor oncológica, já que seu uso melhorou os sintomas de pacientes,apesar das reduções na dose de opióides.
Experiências na prática clínica
Em entrevista para o site Psicodelicamente, a médica clínica e paliativista, Lauren Provin, falou do potencial da Cannabis em cuidados paliativos.
Ela entende que é responsabilidade do profissional conhecer este recurso terapêutico e entende que pacientes que chegam usando a Cannabis medicinal até sem prescrição tinham uma queixa que não foi acolhida.
“Todos nós temos um sistema endógeno, o nosso sistema endocanabinoide, então toda a cannabis externa administrada, em cápsula ou em óleo, vai se conectar com o paciente de acordo com características de seu organismo”.
Segundo a experiência clínica da médica intensivista, a Cannabis medicinal em cuidados paliativos proporciona:
– diminuição dos efeitos colaterais – náusea e vômito – após quimioterapia;
– alívio de dor neuropática de difícil controle (uma sensação de choque e formigamento, principalmente nas mãos e pés);
– melhora da qualidade do sono;
– melhora das crises de ansiedade.
Também o dr. Penhafiel, em entrevista ao nosso site, relatou bons resultados no uso da terapia canabinóide em uma paciente oncológica.
“O caso mais impactante foi uma paciente com câncer disseminado em cuidados paliativos. A doença afetou vários órgãos, principalmente os ossos e não progrediu a ponto de causar a morte.
Ela lutava com dor crônica a mais de 6 anos, fazia uso de morfina a cada 4 horas para controle da dor. O medicamento tirava a dor mas causava muitos efeitos colaterais e ela não tinha qualidade de vida.
Após o início do tratamento com CBD, com dose baixa, conseguimos fazer o desmame da morfina e ela voltou a ter qualidade de vida, voltou a fazer caminhadas, a viajar e hoje leva uma vida normal. Claro, a cannabis não curou o câncer, porém ajudou a controlar a dor de forma efetiva sem causar os efeitos adversos que a morfina causava.”
Diversos estudos têm demonstrado que compostos presentes na cannabis, como o THC e o CBD, possuem propriedades analgésicas e anti-inflamatórias que podem ajudar no controle da dor em pacientes com câncer. A ansiedade e a depressão também são sintomas comuns, especialmente em pacientes em estágio avançado da doença. A cannabis medicinal pode ajudar a reduzir esses sintomas, proporcionando um alívio significativo para os pacientes, melhorando a sua qualidade de vida.
Em resumo, a Cannabis Medicinal tem se mostrado uma opção eficaz e segura para aliviar os sintomas em pacientes com câncer em cuidados paliativos. Se você quer iniciar um tratamento com canabinóides, fale com nosso Suporte para obter todas as informações.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.