O uso da Cannabis medicinal pode ajudar a melhorar a qualidade de vida dos pacientes, não só pelos seus fitocanabinóides, mas também pelos terpenos e flavonóides presentes, com inúmeros usos terapêuticos.
Um artigo no Headache Journal, por exemplo, fala das propriedades medicinais de terpenos e flavonóides na Cannabis e seus benefícios na enxaqueca, dor de cabeça e modulação da dor. Também ressalta que é importante conhecer as particularidades de cada substância, pois assim é possível combinar diferentes cepas de Cannabis para obter variedades com propriedades terapêuticas mais adequadas para determinadas patologias.
O efeito “entourage” ou Comitiva, do qual tanto se fala quando o assunto são os óleos medicinais Full Spectrum de Cannabis, se deve exatamente a atuação sinérgica de todas as substâncias presentes na planta, com seus fitocanabinóides, terpenos e flavonóides somando-se para oferecer efeitos terapêuticos.
O óleo medicinal de Cannabis possui propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, pré-apoptóticas, neuroprotetoras, neurogênicas, protetoras de tecidos, moduladoras da dor, do humor, do ciclo do sono e do Sistema imunológico. Sabe-se hoje, após extensas pesquisas que também os terpenos e flavonóides compartilham algumas dessas propriedades.
O que são terpenos?
Terpenos são compostos presentes em todas as plantas e que conferem o odor peculiar a cada uma delas. Terpenos presentes na Cannabis também podem ser encontrados em outras plantas, como o limoneno, cariofileno e geraniol, por exemplo.
Terpenos ativam áreas específicas do Sistema Nervoso Central e do Sistema Endocanabinóide, podendo gerar respostas de bem-estar.
Os terpenos fornecem benefícios aromaterapêuticos aos humanos, incluindo alívio do estresse, ansiedade e depressão e descongestionamento. Como resultado, os terpenos são frequentemente utilizados em cosméticos, perfumes e aromatizantes de bebidas.
Os terpenos estão altamente concentrados nos óleos essenciais extraídos da Cannabis e também são responsáveis pelos benefícios terapêuticos que eles proporcionam.
Um artigo do Project CBD ressalta que diferentes terpenos podem modificar a atividade do THC de diferentes maneiras e que o “O uso de terpenos selecionados pode permitir a redução da dose de THC em alguns tratamentos e, como resultado, minimizar potencialmente os efeitos adversos relacionados ao THC”. Isso seria especialmente importante no tratamento de organismos mais sensíveis, como no caso de crianças e idosos.
Numa pesquisa israelense de 2023 (citada no artigo acima) descobriu-se que os terpenos limoneno, borneol e sabineno produziram um efeito sinérgico, em combinação com o THC, aumentando o potencial terapêutico. Portanto, se reduzir a porcentagem de THC em uma composição onde estes terpenos estiverem presentes, não haverá diminuição dos benefícios colhidos pelo paciente.
Beta-cariofileno
É um terpeno com odor picante e apimentado, também presente na pimenta preta, manjericão, orégano, canela, lúpulo, alecrim, cravo e frutas cítricas, bem como de muitas folhas verdes.
O beta-cariofileno desempenha um papel importante na regulação da função imunológica e dos processos inflamatórios. Há pesquisas explorando seus papel terapêutico no tratamento de inúmeras patologias, entre elas dor crônica, esteatose hepática não alcoólica e até abuso de substâncias.
Outro artigo, de pesquisadores chineses, de 2014, encontrou efeitos neuroprotetores no uso do beta-cariofileno em ratos com modelo de Alzheimer.
Já um artigo de 2022, reforçou os efeitos imunomoduladores e antioxidantes dessa substância, ao reduzir citocinas pré-inflamatórias ao mesmo tempo que aumenta as citocinas anti-inflamatórias.
Mirceno
O mirceno pode ser encontrado em plantas alimentícias, como lúpulo, louro, verbena, capim-limão, frutas cítricas, romã e cenoura. Estudos demonstram citotoxicidade do mirceno contra carcinoma cervical humano, de pulmão, adenocarcinoma de cólon e leucemia, ou seja, apresenta ações anti-tumorais.
Humuleno
A maioria das variedades de cannabis apresenta altos níveis do Humuleno, anteriormente conhecido como α-cariofileno. Ele é um dos principais terpenos da cannabis, junto com mirceno, terpinoleno, limoneno, pineno e geraniol.
O Humuleno, segundo inúmeras pesquisas, inibiu a proliferação de células cancerígenas e aumentou a apoptose (morte celular) destas, em modelo de carcinoma hepatocelular.
Limoneno
O limoneno é o principal componente dos óleos de casca de frutas cítricas e apresenta efeitos anti cancerígenos em vários tipos de câncer in vitro e in vivo, reduzindo o crescimento tumoral e induzindo a apoptose através de vários mecanismos. Já foram feitas pesquisas, com resultados positivos, em células de câncer de bexiga humana, câncer de cólon e gástrico. Em vários estudos in vivo, demonstrou-se, por diferentes mecanismos, a regressão e inibição de formação de novos tumores de câncer de mama em ratos, bem como diminuição de incidência e metástase de câncer gástrico, pancreático e de pulmão..
Pineno
O α-pineno também tem efeito anticancerígeno, levando a apoptose em diferentes tipos de câncer: de ovário, próstata, hepático, pulmonar e em células de melanoma.
Linalol
O linalol é comum a inúmeras plantas como o coentro e o louro, com um aroma característico de lavanda com um toque picante. Pesquisas mostram que células de câncer oral e de glioma, bem como células de linfoma, cervical, mama, colorretal e fígado tratadas com linalol apresentaram viabilidade reduzida como resultado de apoptose e parada do ciclo celular. Estes resultados também foram colhidos em estudos in vivo, com redução no tamanho de tumores em modelos de ratos.
Também descobriu-se que o tratamento com linalol antes da exposição crônica à UVB em camundongos é quimiopreventivo para câncer de pele.
Bisabolol
O bisabolol tem um aroma doce e floral que lembra camomila. Ele inibe o crescimento de células de carcinoma pulmonar, de glioma humano e de rato, leucemia linfocítica B-crônica, bem como vários outros tipos de câncer, como leucemias linfóides primárias, linhas celulares de câncer pancreático. Estes resultados também se comprovaram in vivo, com redução de massas tumorais no câncer de mama e de pâncreas.
Eucaliptol
Foi demonstrado que o eucaliptol induz a apoptose em várias linhas celulares de câncer humano: células de leucemia, câncer de ovário humano e próstata. Também in vivo houve a redução da progressão do tumor de câncer de cólon e de pele.
Geraniol
Curiosamente, variedades que apresentam altos níveis de terpeno linalol também tendem a ter alto teor de geraniol. O geraniol ocorre naturalmente em plantas como gerânios, rosas, pêssegos, capim-limão, coentro, limões, O geraniol teve efeitos anticancerígenos em muitos tipos de câncer, incluindo câncer de mama, pulmão, cólon, próstata, pâncreas, pele, fígado, rim e boca.
Nerolidol
O nerolidol, lembra casca fresca e é encontrado nos óleos essenciais de muitos tipos de plantas e flores, incluindo néroli, gengibre, jasmim, lavanda, árvore do chá e capim-limão. Foi demonstrado que o nerolidol tem alguns efeitos anticancerígenos em células de câncer cervical, células de leucemia e células de carcinoma de mama. O resultado também foi encontrado in vivo, inibindo o câncer do intestino grosso e duodeno.
O que são Flavonóides?
Os flavonóides são de longe a maior classe de polifenóis e estima-se que contenham mais de 8.000 tipos. Uma de suas propriedades é proporcionar pigmentação de cores vivas em flores, frutas e vegetais, além do sabor e o aroma. Os flavonóides representam cerca de 10% dos compostos conhecidos na cannabis e alguns são encontrados exclusivamente nesta planta, como as canflavinas.
Os flavonóides podem atuar como reguladores fisiológicos, inibidores do ciclo celular e/ou mensageiros químicos. Eles também são responsáveis pela pigmentação das plantas (coloração das flores para atrair animais/insetos polinizadores), filtração/proteção UV e fixação simbiótica de nitrogênio.
Estes compostos também possuem atividades anticancerígenas, antioxidantes, anti trombogênicas, antidiabéticas e neuroprotetoras através da modulação de uma série de cascatas de sinalização celular, visto que também ativam áreas específicas do Sistema Nervoso Central e do Sistema Endocanabinóide.
Kaempferol
Vários estudos analisaram o potencial do kaempferol como agente anticancerígeno, visto que este flavonóide inibiu a viabilidade celular de uma maneira dependente da dose em vários subtipos de câncer, incluindo leucemia, câncer de mama, fígado, estômago e ovário, cânceres orais. Nas linhas celulares de glioblastoma, hepático, colorretal, pancreático, pulmonar, renal e de mama, o kaempferol foi capaz de reduzir significativamente a migração e / ou invasão in vitro. Resultados semelhantes foram encontrados in vivo também.
Apigenina
Uma revisão abrangente forneceu detalhes sobre os efeitos anticancerígenos da apigenina em vários tipos de câncer, como mama, pulmão, fígado, cérebro, pele, sangue, ossos, cólon, próstata, pâncreas, cervical, ovário, oral e estômago.
Canflavinas A e B
As canflavinas são um grupo de flavonóides encontrados exclusivamente na cannabis. Recentemente, um estudo examinou o potencial dos derivados da canflavina B para o tratamento do câncer de pâncreas e teve resultados promissores. In vitro, a canflanona aumentou a apoptose de células de câncer pancreático e, in vivo, retardou a progressão do tumor e também da metástase.
A canflanona também apresenta atividade seletiva contra os vírus humanos, incluindo o coronavírus, responsável pela COVID-19 e por certos tipos de câncer, é uma das moléculas não canabinóides mais promissoras que está a ser avançada em ensaios clínicos.
A canflavina A, segundo estudos, é considerada 30 vezes mais eficaz que a aspirina na inibição da prostaglandina E2, um modulador significativo da inflamação.
Silimarina
Este flavonóide tem a capacidade de agir sinergicamente com drogas contra o câncer e também auxiliar no aumento da sensibilidade celular aos quimioterápicos, ao modular enzimas.
Luteolina
A luteolina é uma flavona comumente encontrada em várias plantas, incluindo brócolis, pimenta, tomilho e aipo. Uma revisão recente forneceu informações extensas sobre os efeitos anticancerígenos da luteolina em muitos tipos de câncer, incluindo mama, próstata, oral, pulmão, rim, colo do útero, placenta, ovário, pele, fígado, esôfago, bexiga e glioblastoma. Modelos in vivo de melanoma mostraram que a luteolina inibiu o crescimento celular, reduziu a proliferação, migração e invasão num modelo de melanoma metastático.
Quercetina
A quercetina tem um sabor amargo e está comumente presente em cebola roxa, couve, uva, frutas vermelhas, cerejas, brócolis, frutas cítricas, bem como em uma variedade de folhas, sementes e grãos. Este flavonol também tem ações anticancerígenas em muitos tipos de câncer, incluindo mama, próstata, leucemia, ovário, gástrico, osteossarcoma, melanoma, glioma, pulmão, cólon e fígado in vitro e in vivo. In vivo, tem a capacidade de diminuir o volume do tumor e aumentar a taxa de sobrevivência de animais portadores de tumor estudados.
Terpenos, flavonóides e canabinóides
A ação sinérgica de todos os componentes da Cannabis é que proporcionam os benefícios terapêuticos que tantos pacientes colhem, ao usar o óleo medicinal como adjuvante em diversos tratamentos.
Muitos estudos ainda vem sendo conduzidos para confirmar a eficácia e os mecanismos pelos quais terpenos, flavonóides e canabinóides atuam no organismo, regulando funções tão diversas e importantes quanto humor, controle de estresse, modulação do sistema imunológico, de processos inflamatórios e de sensibilidade à dor.
Hoje a Cannabis medicinal é uma opção viável de tratamento. Se você quer saber como iniciar a terapia com canabinóides fale com nosso Acolhimento, pelo whatsapp.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.