É interessante como antigos conceitos sobre saúde hoje são revistos, com provas científicas de sua veracidade. Um deles diz respeito à saúde do intestino estar ligada com a nossa saúde emocional. Existe um conceito, vindo da medicina oriental – ayurveda e chinesa – dizendo que o intestino é nosso “segundo cérebro”. O “hara” (barriga, em japonês) concentra as emoções básicas e é o ponto de equilíbrio físico e emocional do ser humano.
É desta mesma fonte que vem os mais antigos relatos do uso da Cannabis para uso medicinal, em diversos quadros que envolviam desde processos inflamatórios ou de dor, até quadros convulsivos e alterações emocionais.
Enquanto a medicina ocidental passou as últimas décadas se especializando e estudando cada parte do organismo como entidades autônomas, o Oriente continuou enxergando o organismo humano como um todo, e os órgãos como sistemas interligados.
Vemos que esses caminhos voltaram a se cruzar com as pesquisas mundiais nas últimas décadas, envolvendo a Cannabis Medicinal, o Sistema Endocanabinóide e o seu papel fundamental como mecanismo pré-homeostático do nosso organismo.
Uma dessas linhas de pesquisa mostra a íntima relação entre o Sistema Endocanabinóide, a saúde do intestino e seu reflexo na saúde do Sistema Nervoso Central, bem como em processos inflamatórios crônicos.
Destas pesquisas vem também a justificativa para o uso da Cannabis Medicinal para o reequilíbrio do organismo, pelos seus múltiplos benefícios, que se iniciam pelo impacto na microbiota intestinal.
Ao recuperar a microbiota intestinal há uma diminuição de processos inflamatórios, não só no intestino em si, mas em todo o organismo. Uma descoberta relevante das últimas décadas, a nosso ver, é que o grande mal do século, a depressão, bem como outras doenças neurodegenerativas, se originam de quadros inflamatórios no cérebro.
Nosso corpo todo é um sistema interligado e impactado não só por lesões mecânicas(injúrias a tecidos e órgãos específicos) e ataques biológicos (como os causados por bactérias, vírus, fungos, substâncias químicas, má alimentação), mas também emocionais, devido ao stress (como em ambientes abusivos, sobrecarga de trabalho e exigência de alta performance) e traumas (como experiências limite, com violência, luto, perdas importantes etc).
Onde um problema começa ou onde ele termina impactando, importa na hora da entrevista com o profissional. Mas, com o uso da Cannabis Medicinal é possível atacar múltiplos “danos colaterais” com uma só medicação, diminuindo a polifarmácia.
Nesse caso, novamente o intestino, nosso segundo cérebro, e sua microbiota, agradecem, pois as medicações tradicionais sempre interferem no metabolismo natural do corpo.
Intestino – como funciona nosso segundo cérebro?
O intestino faz parte do nosso Sistema Digestivo (ou Gastrointestinal). A digestão começa na boca, continua com a ação do suco gástrico no estômago, mas a absorção de nutrientes começa no intestino delgado, com enzimas digestivas do fígado e do pâncreas quebrando as moléculas dos alimentos.
As vitaminas, proteínas e sais minerais vão então passar pelas vilosidades intestinais para a corrente sanguínea, alimentando as células e providenciando elementos para as reações químicas necessárias para nossa sobrevivência.
No intestino grosso ainda continuarão a ser separados nutrientes e água do bolo alimentar, restando, ao final, a excreção do que não é aproveitado.
Toda essa ação é orquestrada pelos mais de 500 milhões de neurônios que revestem o trato intestinal, responsáveis pela coordenação do processo digestivo e excretor, sem o comando cerebral. Estes 500 milhões de neurônios, que constituem o nosso “segundo cérebro”, tem o nome de Sistema Nervoso Entérico.
Relação entre Sistema Endocanabinóide e Sistema Nervoso Entérico
Quem orquestra o Sistema Nervoso Entérico é o Sistema Endocanabinóide (SEC), ligado intimamente à microbiota intestinal.
Os receptores canabinóides estão presentes junto ao Sistema Nervoso Entérico. Quando ativados, os receptores CB1 modulam a motilidade intestinal, a secreção do suco gástrico e dos neurotransmissores (são mais de 30 produzidos aí), como serotonina e dopamina.
Já os receptores CB2 modulam a dor visceral, a neuroinflamação e o desenvolvimento da dependência química.
Microbiota intestinal e Sistema Endocanabinóide
É importante lembrar que o processo químico da digestão e absorção de nutrientes é totalmente influenciado pela microbiota intestinal – e é ela, finalmente, que influencia na saúde do nosso Sistema Endocanabinóide – que controla, além da inflamação e permeabilidade intestinal, a ingestão de gordura e o sinal de fome.
A microbiota intestinal é formada por bactérias, fungos, protozoários e vírus. Acredite, são aproximadamente 1.000 espécies diferentes de bactérias que vivem apenas no intestino. Estas bactérias do bem ajudam na degradação e transformação química do que comemos.
Mas esse microbioma pode ser ameaçado tanto pela invasão de bactérias e vírus que atacam nosso organismo, quanto pelo estado emocional. Por exemplo, o stress crônico causa dor visceral, resultado da perda dos receptores CB1 e da ansiedade. O sistema imunológico também fica afetado e a invasão por microorganismos nocivos é facilitada, desequilibrando essa microbiota.
Quando essa flora bacteriana natural diminui, os efeitos são conhecidos: náusea, vômito, formação de gases, diarreia, e um quadro agudo de inflamação do intestino.
Há indivíduos que possuem uma genética que predispõe à falta de endocanabinóides no organismo. Nestes casos há uma predisposição para doenças crônicas intestinais – como diverticulite, doença celíaca, síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal, câncer de cólon, doença de Crohn e Retocolite ulcerativa. Todas elas estão ligadas também a quadros de hiperalgesia, ansiedade e depressão, enxaqueca e fibromialgia, que aparecem como comorbidades.
Doenças crônicas, quadros ansiosos, depressivos e distúrbios no sistema gastrointestinal
Cérebro e intestino trabalham de forma sincronizada. A saúde de um influencia na saúde do outro. A comunicação entre os dois se dá através do nervo vago, do Sistema Parassimpático e do Sistema Endocanabinóide, pela ativação e inibição de seus receptores.
Alterações do estado emocional são, em grande parte, controladas pela produção ou diminuição de neurotransmissores no intestino. A serotonina, por exemplo, que dá a sensação de bem-estar e relaxamento, tem 90% de sua produção no trato intestinal.
Não é de se estranhar, portanto, que sejam comprovadas cientificamente a relação entre quadros ansiosos e depressivos, dores crônicas e distúrbios no sistema gastrointestinal. Todos têm em comum processos inflamatórios, seja no tecido cerebral, trato intestinal, músculos, fáscias ou articulações.
Terapia canabinóide
E é exatamente aí que a terapia com Cannabis Medicinal tem um papel fundamental no reequilíbrio do organismo.
Associada a um tratamento que recupere e mantenha a flora intestinal saudável, com alimentação de qualidade e probióticos, a Cannabis Medicinal pode ser recomendada como adjuvante nos tratamentos de doenças inflamatórias crônicas, doenças inflamatórias intestinais bem como de quadros depressivos e ansiosos. Afinal, como vimos aqui, todos são expressões de um desequilíbrio no Sistema Endocanabinóide.
Os fitocanabinóides da planta conseguem modular o funcionamento do organismo, devolvendo a qualidade de vida ao paciente ao conter quadros inflamatórios, diminuir a dor, proporcionar relaxamento muscular, diminuir a ansiedade, regular a motilidade intestinal e ajudar na recuperação da microbiota intestinal.
Se você quer saber mais sobre o tratamento com Cannabis Medicinal, fale com nosso Suporte para obter mais informações.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.