Nesse mês de outubro, em que se fala tanto dos cuidados com a saúde Mental, é bastante oportuno mostrar como a Cannabis Medicinal pode atuar como importante adjuvante em tratamentos tão diversos como a depressão, transtornos de ansiedade, Transtorno Obsessivo Compulsivo e praticamente todos os outros sintomas que acompanham estes quadros, como a insônia, distúrbios gastro-intestinais e comportamentos que prejudicam o convívio social e até mesmo a vida profissional.
As propriedades medicinais da Cannabis em psiquiatria já são conhecidas há milênios, com registros de seu uso, na Índia, há mais de 1000 a.C. em quadros ansiosos, de mania e histerias, servindo como hipnótico e tranquilizante. Registros mais antigos ainda, dos Assírios, relatam o uso inalado para tratar a depressão.
O reconhecimento das propriedades de canabinóides específicos, como o CBD, também é notável e podem ser encontrados inúmeros estudos e artigos científicos, como o publicado no Journal of human Growth and Development, pela doutora em cardiologia Adriana Grosso, relatando esse fato:
“O CBD …Tem poder ansiolítico,antidepressivo, antipsicótico, anticonvulsivante, anti náusea, antioxidante, anti-inflamatório, anti artrítico e antineoplásico. Dentro do SNC, o CBD é protetor em modelos animais de epilepsia, ansiedade, psicose e doenças dos núcleos da base, como as doenças de Parkinson e Huntington. O CBD não provoca o “tetrad” clássico mediado pelo CB1 de hipolocomoção, analgesia, catalepsia e hipotermia, de acordo com sua baixa afinidade pelos receptores CB1”.
Apresentaremos, nesse artigo, pesquisas sobre o uso da Cannabis medicinal realizadas na área de saúde mental.
Efeito antipsicótico
Num estudo de Zuardi, pesquisador brasileiro, em modelo animal, foi comparado o efeito do CBD com o do haloperidol. Ambos diminuíram os comportamentos estereotipados dos animais estudados. Porém o haloperidol provocou sintomas de alteração motora tipo Parkinson, enquanto o CBD não provocou estas alterações, com resultados semelhantes a antipsicóticos de nova geração, como a clozapina.
Já em outro estudo duplo-cego, de Bosi, Hallak, Crippa e outros. reproduziu-se estados psicóticos em dez voluntários saudáveis, com doses subanestésicas de Ketamina – desencadeando sintomas dissociativos semelhantes aos que ocorrem na esquizofrenia. Os voluntários receberam de forma randomizada doses de placebo e de CBD (600mg). “Verificamos que o CBD atenuou as elevações produzidas pela ketamina nos escores totais de uma escala para sintomas dissociativos (Clinician-Administered Dissociative States Scale − CADSS) e seus fatores, e que esse efeito foi significativo para o fator despersonalização, o que reforça a hipótese de um efeito antipsicótico do CBD. Do mesmo modo, este possível efeito sobre sintomas dissociativos também levanta a hipótese de um potencial terapêutico em condições como transtorno de estresse pós-traumático, intoxicações pela cannabis e em alguns transtornos de personalidade”.
Em outro estudo de caso de Zuardi et al., com uma paciente de, 19 anos de idade, com diagnóstico de esquizofrenia e que apresentava sérios efeitos colaterais com os antipsicóticos tradicionais o uso do CBD diminuiu todos os sintomas, também sem nenhum efeito adverso.
Um outro ensaio clínico com 42 pacientes com diagnóstico de esquizofrenia ou transtorno esquizofreniforme, confirmou os resultados preliminares das propriedades antipsicóticas do CBD. O CBD foi testado em pacientes em episódio agudo e comparado com o antipsicótico amisulprida. Em ambos os tratamentos ocorreu redução significativa dos sintomas psicóticos após duas e quatro semanas, porém, o CBD significantemente induziu menos efeitos colaterais, como, por exemplo, ganho de peso.
Efeito nos distúrbios do sono
A insônia está presente em inúmeros quadros clínicos, sendo um dos sintomas mais frequentes, presentes desde um início de quadro ansioso até doenças auto-imunes, degenerativas e neurológicas. Sabe-se que as drogas comumente utilizadas causam efeitos colaterais e também pedem um aumento gradual da dose de uso para continuarem a surtir o efeito desejado.
O CBD, além de atuar aumentando o período de sono de qualidade, causa pouco ou nenhum efeito adverso, além de manter os resultados com a mesma dose benéfica ao paciente.
Em um estudo randomizado e duplo-cego de Carlini e Cunha, pacientes voluntários com queixa de insônia receberam CBD em três doses (40, 80 e 160mg), placebo e nitrazepam (5mg), durante uma semana. Quando comparado ao placebo, o CBD (160mg) aumentou significantemente o número de voluntários que mantiveram o sono por sete ou mais horas.
Efeito antidepressivo
O Sistema Endocanabinóide controla os eixos de liberação hormonal e seu bom funcionamento garante a normalidade dos processos emocionais do indivíduo.
Uma pesquisa científica da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, sustenta essas informações, ao mostrar que o nível de endocanabinóides no sangue de pacientes com depressão estava alterado (em deficiência), em comparação com o nível apresentado em participantes saudáveis.
O tratamento com Cannabis medicinal estimula o bom funcionamento do Sistema Endocanabinóide, aumentando o nível de endocanabinóides circulantes, assim debelando o quadro inflamatório no cérebro e normalizando o mecanismo de liberação de hormônio adrenocorticóide (pelo eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, característicos dos quadros depressivos.
Efeito ansiolítico
Num artigo de Crippa e Zuardi, pesquisadores brasileiros, relatam um estudo sobre os efeitos ansiolíticos do CBD em pacientes com TAS (Transtorno de Ansiedade Social), feito nos moldes de um estudo anterior, com voluntários saudáveis. Eles usaram uma dose oral única e CBD e constataram que esta foi capaz de reduzir a ansiedade sem aumentar a sedação.
Crippa, em outro estudo, demostrou por exames de ressonância magnética que a modulação que o CBD intermedia se dá pela ativação de áreas límbicas e paralímbicas no cérebro, igual a outras drogas ansiolíticas.
Um estudo de Ferreira e Santos, com 5 pacientes refratários ao tratamento com benzodiazepínicos e não benzodiazepínicos, verificou a eficácia do óleo de Cannabis (com THC e CBD) na ansiedade noturna e insônia.
Todos os pacientes relataram efeitos adversos com os remédios alopáticos controlados, tais como dor de cabeça, tontura, confusão mental, esquecimento e aumento do apetite.
Com a utilização do óleo medicinal de Cannabis, 60% relataram não sentir efeitos adversos, 20% sentiram aumento de apetite e 20%, dor de cabeça no início do tratamento. Todos tiveram, com a Cannabis medicinal, uma melhor qualidade de sono.
Ao final do estudo, 80% dos participantes optaram por dar continuidade ao uso do óleo de Cannabis medicinal em seu tratamento de insônia e ansiedade noturna.
Efeito no TOC
Em um estudo de Casarotto et allii, com animais, os efeitos do CBD e do diazepam foram testados em ratos submetidos ao teste de enterrar bolas de gude -um modelo animal de comportamento compulsivo. O CBD induziu uma redução significativa no número de bolas enterradas e os efeitos do CBD na dose de 30 mg/kg persistiram, mesmo após sete dias de administração repetida diária, enquanto os efeitos do diazepam desapareceram.
O CBD traz resultados nos Transtornos Obsessivos Compulsivos porque modula a expressão da serotonina no cérebro.
Saúde mental é primordial
A saúde mental é primordial, pois sem ela nos é prejudicada a interação social, desempenho funcional e profissional e a qualidade de vida como um todo.
Acreditamos que a Cannabis Medicinal será, num futuro não muito distante, tão importante na medicina quanto foram os antibióticos no início do século XX.
Se você quer saber como iniciar um tratamento com canabinóides e precisa da indicação de um profissional prescritor, entre em contato com nosso Suporte, para obter todas estas informações.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas..