Por Ana Claudia Marques
A depressão e os transtornos de ansiedade são um problema global crescente, que afeta 5% da população mundial. Com a pandemia e o isolamento, houve um aumento de casos de depressão e de ansiedade numa média de 25% por ano, desde 2020,
O Sistema Endocanabinóide é responsável pela homeostase (equilíbrio) do nosso organismo. Esse equilíbrio é posto à prova sempre que precisamos lidar com mudanças no ambiente, situações mais difíceis e as emoções que acompanham esses acontecimentos. Descobertas importantes, nos últimos anos, mostram que ele também está presente na mediação de processos emocionais, na forma como recebemos os acontecimentos do dia a dia e como reagimos a eles.
Segundo o Dr. Greg Gerdeman, neurocientista e PHD, em entrevista ao projeto CBD, “A resposta fisiológica ao estresse em todo o cérebro e no sistema endócrino parece ser modulada pelos endocanabinóides. Quando você tem uma grande quantidade de estresse, desencadeia essa resposta de luta ou fuga. Os endocanabinóides subindo em certas áreas-chave do cérebro, como o tálamo e o hipotálamo, são parte do que desativa essa resposta ao estresse”.
O Sistema Endocanabinóide e a resposta ao estresse
Quando o Sistema Endocanabinóide (SEC) funciona perfeitamente, os endocanabinóides Anandamida e 2-AG ativam a sinalização dos receptores canabinóides (CB1 e CB2) por todo o organismo, quando ocorre um estímulo estressante, de ameaça em algum nível.
Essa sinalização é que nos ajuda na adaptação aos estímulos que, a princípio, nos causam medo.
Para entender melhor, vamos a um exemplo: não é incomum uma criança se assustar a primeira vez que escuta um trovão. A reação do organismo, frente a este medo desconhecido, é a chamada “reação de luta/fuga”, quando o ritmo respiratório e cardíaco aceleram, enquanto os músculos tensionam preparando-se para a ação rápida. Porém, a mensagem que essa criança recebe de um adulto é que “está tudo bem” e “não precisa ter medo”.
Vivenciando outros eventos semelhantes e percebendo que não passa de um barulho alto e forte, a criança não se assusta mais com o trovão e nem tem alterações corporais em resposta ao medo.
Este aprendizado do corpo e da mente a estímulos estressantes específicos são mediados pela ação dos endocanabinóides. Quando o evento é inofensivo, após o “susto” inicial (ou evento estressante), o SEC inunda o Sistema Nervoso e o corpo de Anandamida, “desligando as sinapses”, “acalmando” e impedindo reações fisiológicas desnecessárias.
Este mecanismo se repete num organismo saudável para vários estímulos estressantes em nosso dia a dia, sejam eles reais (captados pela visão, audição, olfato, tato), sejam imaginários ( temor ao ouvir noticiários alarmantes externos sobre guerra, pandemia, violência, por exemplo), sejam emocionais (ser humilhado, ser vítima de violência, ficar doente, passar por risco de morte etc). É importante saber que, para o cérebro, se você passar pela situação ou se imaginar, não tem diferença, as alterações na fisiologia serão as mesmas.
O Sistema Endocanabinóide saudável
O corpo com o Sistema Endocanabinóide saudável vai “acalmar” a sensação de temor, trazendo a sensação de “está tudo bem”, “não é nada”, “vai passar”, “você tira essa situação de letra” ou “a opinião/agressão dos outros não me atinge”.
Ou seja, um Sistema Endocanabinóide saudável responde melhor ao stress. Foi o que revelou uma pesquisa feita pelo Medical College of Wisconsin junto com a University of Pittsburgh School of Medicine, ao estudar a ligação entre o Sistema Endocanabinóide e a depressão. Mediu-se os níveis circulantes de endocanabinóides no sangue de idosos em luto que experimentavam solidão e tristeza e compararam com os resultados de um grupo controle, além de aplicar questionários para avaliar o estado mental dos participantes.
Essa pesquisa concluiu que os indivíduos que apresentaram maior ativação do Sistema Endocanabinóide (com aumento de circulação da Anandamida e do AG-2, os dois endocanabinóides produzidos pelo corpo), saíram do luto e da tristeza mais rapidamente.
O estresse positivo
O estresse benéfico é uma resposta do organismo quando este se sente ameaçado, gerando comportamentos de “luta e fuga”. Nossos ancestrais sobreviveram através desse mecanismo, em que uma série de hormônios são liberados no sangue para o corpo melhorar a performance e ter chances de êxito, lutando ou fugindo do que os ameaçavam.
Nesse processo o ritmo cardíaco e respiratório aumentam, o sangue é direcionado para o cérebro e para os músculos, deixando-os tensos e prontos para a ação – seja para a fuga rápida, seja para a luta, com decisões imediatas que garantam a integridade física.
Após a ação necessária, os hormônios até então liberados (corticotropina e adrenocorticotrófico) param de ser secretados, sob o comando do Sistema Endocanabinóide, através do acoplamento da Anandamida nos receptores CB1. Essa ação desativa a descarga de hormônios do estresse e ativa hormônios que vão relaxar o corpo e atenuar a dor (endorfina, serotonina), sob o comando da Anandamida (o endocanabinóide da “felicidade”).
O Sistema endocanabinóide comprometido
Quando situações estressantes se repetem com frequência ou acontece um episódio tão brutal que se instala um trauma, o funcionamento do Sistema endocanabinóide fica comprometido.
É o caso de eventos estressantes constantes como:
– vivenciar a guerra,
– passar por uma pandemia,
– morar em comunidades violentas,
– sofrer bullying, assédio moral,
– sofrer violência física, verbal ou sexual,
– conviver com doenças crônicas, debilitantes etc.
O SEC também fica comprometido com a ocorrência de eventos únicos e traumáticos, como estupro, assalto, perda de um ente querido, um acidente grave etc.
São nesses casos que episódios de ansiedade e depressão podem se iniciar, por falta de resposta adequada do Sistema Endocanabinóide a esse estresse negativo.
O estresse negativo
Quando o ciclo de “tensão e relaxamento”, mediado pelo sistema endocanabinóide não se completa, mantendo somente a tensão, temos o estresse negativo.
Acontecimentos estressantes acontecem o tempo todo, mas nem todo organismo tem o Sistema endocanabinóide funcionando de forma ótima, seja relaxando após uma ação, seja simplesmente evitando que o corpo sequer altere sua fisiologia com ameaças que não o atingirão de verdade.
Nesse caso, se os eventos estressantes são reais, (como viver diariamente recebendo assédio moral na empresa, ou ser quase atropelado ao atravessar a rua), ou se os eventos são irreais (como achar que vai ser assaltado assim que colocar o pé na rua), a reação fisiológica que tensiona o corpo e prepara para se defender vai estar lá.
E se o sistema Endocanabinóide não estiver intermediando esse processo de aprendizagem emocional, sinalizando qual ameaça é relevante, qual não é, ou a qual situação a pessoa deve dar importância e a qual ela deve esquecer, a fase de “relaxamento” não acontece.
Resultado: o corpo fica dolorido, o ritmo cardio respiratório, alterado, a mente continua alerta, na defensiva.
O que o estresse negativo acarreta a médio e longo prazo?
Quando o corpo está em estado de tensão permanente, a adrenalina circula pelo corpo mais tempo que deveria. Lembre-se: o Sistema Endocanabinóide não está funcionando bem, portanto não temos Anandamida suficiente para se acoplar ao receptor CB1 e assim cessar a liberação de adrenalina.
O corpo reage a esse excesso de substância circulante ativando as células de defesa. Assim, as citocinas se dirigem ao cérebro, gerando respostas pré-inflamatórias locais. Porém, sem a ação do SEC de desativar essa tensão, as citocinas começam a comprometer as células do cérebro, causando um processo inflamatório contínuo, envelhecimento e mau funcionamento dos neurônios.
Se fizermos um paralelo, qualquer parte do corpo quando está doente, passando por um processo inflamatório, incha, sente dor e paralisa as ações, guardando energia para se recuperar. Não é à toa que é recomendado repouso para a boa recuperação de várias doenças.
O cérebro inflamado também trabalha mais devagar, sem energia, tentando se recuperar. O indivíduo sente dor de cabeça, falta de ânimo, dificuldade de raciocínio, perda de apetite etc.
O leitor já deve ter percebido que o estresse negativo, devido à falta de mediação suficiente do Sistema endocanabinóide, induz a quadros onde podemos reconhecer os sintomas de ansiedade e de depressão.
Sabe-se hoje que há diferenças de uma pessoa para outra, biologicamente falando, em como os receptores do SEC se expressam no organismo. Essas diferenças podem ser “estruturais”, com um número menor de receptores, ou podem ser “funcionais”, se houver alguma alteração genética na expressão desses receptores. Isso explica, em grande parte, porque algumas pessoas passam por situações extremamente difíceis na vida e “tiram de letra”, enquanto outras desenvolvem quadros de ansiedade ou de depressão.
Vamos falar agora um pouco mais sobre esses dois tipos de transtornos mentais.
Transtornos de ansiedade
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) em média, 9,3% dos brasileiros sofrem com transtornos de ansiedade, sendo o país com maior taxa de pessoas ansiosas no mundo.
Transtornos de ansiedade são gerados quando o indivíduo não consegue lidar com episódios estressantes do dia a dia, quando vive na expectativa de ter que lidar com novos episódios ou, após uma ocorrência traumática, desenvolve o medo constante de passar novamente por aquilo. Como já vimos, saber lidar com essas situações depende de um aprendizado que é mediado pelo sistema Endocanabinóide.
O que caracteriza o comportamento ansioso?
- Preocupação em excesso, que pode evoluir para medos irracionais ou pensamentos obsessivos;
- Tensão muscular constante, que pode evoluir para sintomas físicos (por ex., dor de cabeça, bruxismo, dores crônicas);
- Apetite desregulado, problemas gastrointestinais;
- Perfeccionismo, inquietação constante, medo de falar em público;
- Alterações no sono.
O que as pesquisas científicas falam sobre a ansiedade?
A pesquisa “O uso de canabinóides no Transtorno de Ansiedade”, mostra que o mecanismo da ansiedade envolve três estruturas cerebrais (o hipocampo, a amígdala e o córtex pré-frontal) onde se encontra presente o Sistema endocanabinóide.
Como já sabemos que na ansiedade o SEC está funcionando mal e filtrando mal os estímulos de estresse, o uso dos canabinóides estimula a retomada do bom funcionamento.
O mesmo estudo relata: “Estudos com neuroimagem mostraram que o CBD foi capaz de diminuir a ativação do complexo amígdala hipocampal, exercendo papel nas reações de medo e ansiedade”.
A depressão
A depressão não é uma simples tristeza, não é “frescura”, nem sinal de fraqueza. Causada por inúmeros fatores e com uma centena de combinações de sintomas e manifestações, a depressão, na maioria dos casos, tem uma origem na alteração da bioquímica do cérebro.
Estímulos estressantes em demasia, a falta de diagnóstico e apoio para buscar tratamento acabam agravando uma situação que poderia ser controlada com o acompanhamento adequado.
Some-se a isso fatores genéticos e ambientais, além da prevalência maior em mulheres (pela alteração hormonal que ela vivencia, não só durante seu ciclo mas também no pós-parto e menopausa).
Lembrando que o cérebro do indivíduo em depressão encontra-se “inflamado” e busca o repouso, mais lento, tentando se curar, vejamos quais são os sintomas que podem acompanhar a depressão:
- perda de satisfação ou interesse na realização de atividades;
- isolamento social;
- falta de motivação e indecisão;
- sentimentos de medo, insegurança, vazio, pessimismo;
- interpretação negativa e “cinzenta” do mundo;
- dificuldade de concentração, esquecimento;
- perda de libido;
- alterações no apetite e no ciclo do sono;
- sintomas físicos, como tensão, alterações no sistema gastrointestinal e no sistema cardiorespiratório.
O que as pesquisas científicas falam sobre a depressão?
Artigos científicos relatam que em indivíduos com Depressão, há um desequilíbrio no funcionamento do sistema Nervoso. Este quadro resulta em três principais características:
- alterações no mecanismo de liberação de hormônio adrenocorticóide (pelo eixo hipotálamo-pituitária-adrenal);
- falhas na neurogênese e
- presença de neuroinflamação.
O Sistema Endocanabinóide é que controla esses eixos de liberação hormonal e precisa estar funcionando adequadamente para que os processos fisiológicos, cognitivos, comportamentais e emocionais do indivíduo aconteçam dentro da normalidade.
Outra pesquisa científica corrobora essas informações, ao mostrar que o nível de endocanabinóides no sangue de pacientes com depressão está alterado (em deficiência), em comparação com participantes saudáveis.
Pesquisadores da USP e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em artigo científico, revisaram inúmeras pesquisas sobre o uso de canabinóides em psiquiatria, e descrevem: “O canabidiol demonstrou apresentar potencial terapêutico como antipsicótico, ansiolítico, antidepressivo e em diversas outras condições”.
Uso de canabinóides na depressão e ansiedade
O uso de canabinóides no tratamento da depressão e da ansiedade é eficaz porque o canabidiol (CBD) estimula o bom funcionamento do Sistema Endocanabinóide, enquanto o tetrahidrocanabinol (THC), em baixas doses, tem efeitos ansiolíticos, atuando ambos sobre os sintomas físicos (tensão, dores, inflamação) e emocionais, normalizando a respostas a estímulos estressantes e de medo.
Isso reflete na qualidade de vida do indivíduo, já que o cérebro sai do processo inflamatório, devolvendo a energia ao paciente para retomar atividades, com ânimo renovado e enxergando a vida de forma mais positiva, além de diminuir o mecanismo de medo e apreensão que acompanham ambos os quadros clinicos.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.