A Cannabis medicinal pode ajudar pacientes com TDAH, ao longo da vida, como adjuvante das terapias convencionais. Por ser um dos mais comuns transtornos de comportamento, com envolvimentos cognitivos e emocionais que irão refletir, inclusive na vida adulta dos pacientes, é de extrema importância encontrar alternativas terapêuticas para aqueles que não respondem a tratamentos convencionais.
O TDAH foi clinicamente reconhecido a aproximadamente trinta anos e suas causas ainda vem sendo estudadas. É de consenso que possui origens multifatoriais e atinge de 4 a 12% das crianças em idade escolar, estando presente em até 5% da população adulta.
Se não diagnosticado e tratado desde a infância, o TDAH pode afetar o desempenho do indivíduo em diversas áreas de sua vida. É importante dizer que os pacientes são pessoas inteligentes e capazes, que têm suas vidas afetadas por uma alteração bioquímica do cérebro.
Sendo a Cannabis medicinal uma moduladora natural do Sistema Endocanabinóide, responsável pela expressão correta de neurohormônios e outras substâncias envolvidas no equilíbrio das funções do organismo, muitos trabalhos científicos vem se debruçando sobre este potencial para melhorar a qualidade de vida de quem convive com o TDAH.
O que é TDAH?
O TDAH, ou Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, só começou a ser considerado oficialmente um transtorno neuropsiquiátrico em 1992. Caracterizado por desatenção, hiperatividade e dificuldade no controle de impulsos, se não for diagnosticado e tratado, vai afetar o desempenho social e profissional do indivíduo, não só na infância, mas também na adolescência e idade adulta.
O tratamento mais comum é feito com medicamentos estimulantes, como é o caso da Ritalina. Entretanto, nem todos os pacientes têm melhoras com as medicações ou, se as tem, precisam conviver com seus efeitos colaterais, quando o uso é contínuo. Nesses casos, a alternativa terapêutica que o uso da Cannabis Medicinal oferece é muito importante.
Por ser oficialmente tão recente, também é difícil encontrarmos literatura médica e estatísticas sobre o TDAH na vida adulta. Existem alguns estudos, como um de 1995, que correlacionam um risco significativamente maior ao longo da vida para transtornos por uso de substâncias psicoativas nos adultos com TDAH (52%) do que nos indivíduos (sem TDAH) de comparação (27%).
TDAH: o cérebro busca recompensas
Essa diferença pode ser explicada pelo nível baixo de dopamina em indivíduos com TDAH, o que os faz buscar “recompensas” e eventos satisfatórios e prazerosos imediatos – como o que ocorre com o uso do cigarro, álcool e drogas ilícitas.
Entre adolescentes, a falta de maturidade do cérebro em relação ao controle emocional, a baixa auto-estima por ter um rendimento escolar menor, devido à falta de concentração, e a ansiedade que permeia o dia a dia do jovem, frente às exigências da família, escola e meio social, podem levar ao uso recreativo da maconha, para aliviar o estresse e a sensação de ansiedade, segundo os próprios pacientes que faziam este uso.
Estima-se que entre 15% a 25% dos adolescentes e adultos com história na vida de abuso de substâncias também tenham TDAH, segundo outra pesquisa. O mais importante disso tudo: o tratamento do TDAH reduz o risco para o desenvolvimento de abuso/dependência de drogas à metade, ou seja, para o mesmo nível da população geral, segundo pesquisa de 2004.
Como a Cannabis medicinal age no TDAH?
A dopamina, neurotransmissor importantíssimo para controlar as habilidades cognitivas – como nível de atenção, memória, humor e ansiedade – está presente em baixos níveis em indivíduos com TDAH. Isto explica não só a falta de foco, impulsividade e hiperatividade, mas também outras comorbidades que podem acompanhar o TDAH, como atraso cognitivo, distúrbios do sono, transtorno desafiador opositivo, transtorno de conduta, transtornos do humor e de ansiedade, tabagismo e abuso de substâncias.
A Cannabis medicinal consegue auxiliar na melhora dos processos cognitivos por ser capaz de melhorar a transmissão de dopamina entre os neurônios, além de conseguir reduzir a ansiedade (tão presente no TDAH), ao ativar os receptores de adenosina no cérebro.
Isso é fundamental para que o indivíduo com TDAH possa viver bem, com qualidade de vida plena, seja em seus relacionamentos pessoais, no seu desenvolvimento acadêmico e profissional e estando no controle de suas emoções, ações e condutas.
Além de seu alto potencial terapêutico, a Cannabis medicinal não apresenta efeitos colaterais graves e seus canabinóides, como o CBD possuem uma grande segurança farmacológica.
TDAH, Transtorno do Espectro Autista e CBD
Muitas crianças que são diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista também podem apresentar o TDAH associado. O tratamento do TEA e do TDAH são multidisciplinares, com acompanhamento de psicólogos, neurologistas e métodos educacionais adequados, respeitando as diferenças de aprendizagem de cada um. O uso da Cannabis medicinal no TEA já é validado, com evidências de seus benefícios em estudos e também de forma anedótica, como é o caso relatado pelo dr. Penhafiel:
“Resolvi estudar sobre o tratamento de cannabis medicinal após meu filho Lucas receber o diagnóstico de Autismo aos 4 anos de idade.
Fiz alguns cursos, li alguns livros e artigos e comecei o tratamento inicialmente com ele. Aos 15 dias de tratamento ele começou a apresentar os primeiros sinais de melhora. Melhorou a fala que antes era robotizada e desordenada, a compreensão, a concentração nas tarefas, o sono, as crises foram diminuindo, o aprendizado evoluiu muito, parecia outra criança! Aos 2 meses de tratamento ele já estava mais adiantado na escola que os coleguinhas neurotípicos e os terapeutas também perceberam melhora abismal nas terapias.”
Também o tratamento farmacológico comumente envolve o uso de vários remédios, para várias comorbidades: anticonvulsivantes, calmantes, estimulantes, soníferos etc. Existe uma sobrecarga do sistema metabólico para processar toda esta química, podendo, a longo prazo, comprometer órgãos como o fígado, os rins ou provocar efeitos adversos, como a labilidade emocional, comprometimento no ciclo do sono etc.
O uso da Cannabis medicinal, concomitante a estes alopáticos também pode ajudar a diminuir ou eliminar o uso de alguns desses fármacos, protegendo a função hepática, regulando o humor e o sono, além do paciente se beneficiar de suas propriedades ansiolíticas neuroprotetoras e anticonvulsivantes.
TDAH como fator de risco evolutivo
A ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção) ressalta a importância de compreensão o conceito chave de que o TDAH é um transtorno que persiste ao longo da vida dos pacientes. Segundo um estudo espanhol, das crianças diagnosticadas com TDAH, 75% continuarão com sintomas deste transtorno na adolescência e 50% na vida adulta.
O TDAH não tratado pode mudar a forma como a criança se enxerga, afetando negativamente a autoestima e diminuindo drasticamente a possibilidade de ser bem-sucedida no futuro. Se esta falta de cuidados persistir na adolescência, o risco de impacto nos relacionamentos sociais, desempenho acadêmico e oportunidades profissionais é enorme, impactando na qualidade de vida deste indivíduo, seja por não acreditar em seu potencial, seja por buscar alívio para ansiedade, hiperatividade e outros sintomas em drogas lícitas e ilícitas (como já citamos anteriormente).
Um estudo de 2020, com 112 pacientes adultos com TDAH que utilizavam cannabis medicinal como adjuvante em seu tratamento, descobriu que aqueles que tomaram uma dose mais alta de canabidiol (CBD) usaram doses menores de outros medicamentos alopáticos.
Os dados deste estudo foram corroborados por outro, de 2021, com 1700 estudantes. Neste estudo, aqueles estudantes com TDAH relataram que o uso de Cannabis medicinal melhorou seus sintomas e diminuiu os efeitos colaterais dos medicamentos alopáticos.
O TDAH, apesar de ser uma condição reconhecida recentemente dentro do meio psiquiátrico, já possui estudos suficientes para que familiares e portadores saibam da importância de controlar os sintomas.
Se você quer saber como iniciar o tratamento com Cannabis Medicinal, entre em contato com nossa equipe de Suporte.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.