O Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresenta diferentes manifestações ou comorbidades, que variam de paciente para paciente. Neste artigo falaremos como a Cannabis Medicinal pode ajudar em várias comorbidades, além da epilepsia refratária.
Entre as dificuldades que crianças com TEA podem apresentar, temos: déficit nas habilidade de comunicação social, comportamentos repetitivos e restritivos, dificuldade de interação social, hipersensibilidade, ansiedade, sobrecarga sensorial, labilidade emocional (que podem causar comportamentos agressivos, automutilações, acessos de raiva, inquietação e agitação).
Vejamos como a Cannabis Medicinal auxilia os pacientes com Transtorno do Espectro Autista.
Comportamento e Comunicação
Entre os diversos sintomas que podem estar presentes no TEA, estão os déficits persistentes na comunicação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento e o hiperfoco (interesses restritos por determinados assuntos).
Diversos estudos descobriram que os endocanabinóides, produzidos pelo próprio organismo, regulam a transmissão dos impulsos nervosos, através da ativação dos receptores canabinóides presentes no Sistema Nervoso. Esta regulação afeta o comportamento do indivíduo, refletindo nas funções cognitivas, regulação das emoções e motivação social.
Funções cognitivas são o que nos habilitam a aprender. A regulação das emoções acontece quando conseguimos compreender o que sentimos para, então, agirmos de acordo com isso. A motivação social ocorre quando fazemos coisas esperando a aprovação do meio social em que vivemos e é ela que direciona nossa vida.
No caso dos autistas, o Sistema Endocanabinóide apresenta desequilíbrios na produção dos endocanabinóides e, portanto, na regulação dos impulsos nervosos e ativação dos receptores canabinóides.
Estudos
Um estudo em Israel, com pacientes autistas, mostrou que a Cannabis Medicinal é uma opção bem tolerada, segura e eficaz para tratar os sintomas de autismo. Neste estudo, após seis meses de tratamento 82. 4% dos pacientes (155) estavam em tratamento ativo e 60,0% (93) foram avaliados; 28 pacientes (30,1%) relataram uma melhora significativa, 50 (53,7%) moderada, 6 (6,4%) leve e 8 (8,6%) não tiveram nenhuma mudança em sua condição. Vinte e três pacientes (25,2%) apresentaram pelo menos um efeito colateral; a mais comum foi a inquietação (6,6%).
Em outro estudo, temos: “Embora o mecanismo exato seja desconhecido, acredita-se que o canabidiol tenha como alvo um sistema endocanabinóide disfuncional e efetue a liberação de oxitocina durante a interação social. Estudos anteriores analisaram a utilidade do CBD no tratamento de hiperatividade, sono, automutilação, ansiedade e outros problemas comportamentais. Este estudo chega a conclusões semelhantes que apoiam a potencial utilidade terapêutica do CBD.”
Estes estudos apontam, portanto, uma redução nos comportamentos restritivos – como acessos de raiva, inquietação, agitação e automutilação – bem como em comportamentos repetitivos dos pacientes e hiperfoco.
Epilepsia refratária
Muitos pacientes dentro do espectro autista apresentam epilepsia, devido à sobrecarga sensorial que o cérebro autista sofre. A sobrecarga sensorial acontece porque os cinco sentidos nos autistas são extremamente exacerbados, pois o cérebro não filtra os estímulos que recebe pelo tato, olfato, audição, paladar e visão.
Autistas podem apresentar-se agitados com:
- ruídos altos, muitas pessoas falando ao mesmo tempo, determinados sons e músicas;
- tecidos ásperos, quentes, alterações de temperatura, texturas diferentes no chão (não gostam de andar descalços, por exemplo);
- cores vibrantes, padrões de imagem, luzes fortes;
- odores, mesmo que sutis, que outras pessoas não sentem, mas os incomodam;
- sabores acentuados ou não – o que, muitas vezes, faz com que só comam determinados tipos de alimentos que o paladar suporta.
Quem está no espectro também sofre com acontecimentos imprevisíveis, que fujam da rotina. Tudo isso pode causar sobrecarga sensorial e desencadear uma crise epiléptica. É como se o Sistema Nervoso entrasse em curto circuito, tentando processar todas estas informações.
Enquanto num cérebro de um indivíduo sem autismo há mecanismos que filtram e modulam o que ouvimos, vemos e sentimos pelo olfato, paladar ou tato, um desenvolvimento neurológico diferenciado, nos autistas, “salta etapas” importantes para que estes filtros e moduladores do Sistema Nervoso sejam desenvolvidos.
É quando a Cannabis Medicinal tem seu uso mais conhecido, ao atuar na neuroproteção e neurogênese, regulando a produção de endocanabinóides e a função dos receptores canabinóides no Sistema Nervoso, controlando esta sobrecarga sensorial e as sinapses excessivas.Isto ocorre ao controlar as descargas de neurotransmissores nos neurônios pré-sinápticos, resultando
Estudos
Chamamos de epilepsia refratária àquela que não responde aos tratamentos convencionais. Pacientes com este quadro sofrem convulsões frequentes, causando, aos poucos, lesões cognitivas, déficit comportamental e social, além de correr risco de morte. O uso da Cannabis Medicinal consegue reduzir a frequência e a intensidade das crises. Mas não é só isso.
Não é raro ouvir relatos de familiares sobre os benefícios do uso da Cannabis Medicinal em crianças com TEA. Crianças que sofriam crises convulsivas, com comunicação verbal pobre e comportamento agressivo consigo mesmas e com os outros (devido a sobrecarga sensorial) começavam a se comunicar normalmente, ter um comportamento social melhor, com interação e sem agressividade, melhorando a qualidade de vida de todos os envolvidos.
Um artigo publicado no British Medical Journal relatou um estudo feito com pacientes com epilepsias intratáveis (refratárias) que foram tratados com Cannabis Medicinal. A frequência de convulsões em todos os 10 participantes foi reduzida em 86%, sem eventos adversos significativos. Os participantes reduziram o uso de drogas antiepilépticas de uma média de sete para um após o tratamento com cannabis medicinal.
Segundo um artigo na Medicina S.A, as vantagens do uso da Cannabis Medicinal, quando comparada a tratamentos convencionais na epilepsia refratária são:
- não sobrecarregar o fígado;
- não apresentar efeitos colaterais indesejados;
- não reduzir capacidade cognitiva;
- não provocar irritabilidade;
- não provocar alterações de humor no paciente.
Também é importante notar que, em muitos casos, a Cannabis medicinal entra como adjuvante no tratamento com outros anticonvulsivantes, mas, dependendo da evolução do caso e da avaliação médica, poderá reduzir muito o número de medicamentos ou até ser o único tratamento a que o paciente com epilepsia é responsivo.
Apesar da carência de estudos duplo-cego e controlados sobre o uso da Cannabis Medicinal na epilepsia refratária, a quantidade de relatos de caso bem sucedidos, por pacientes e profissionais, mostram que, na prática, é um medicamento que pode ser utlizado, caso o tratamento convencional não tenha resposta.
Em artigo da Pubmed, os autores detalharam o potencial anticonvulsivante tanto do CBD quanto do THC (este último, mantendo-se a dose de administração terapêutica). além de suas propriedades neuroprotetoras e antiinflamatórias. O potencial anticonvulsivante vem sendo estudado também para outros quadros clínicos que apresentam epilepsias refratárias de difícil tratamento, como é o caso da Síndrome de Dravet e de Lenox-Gastaut, com sucesso.
Pacientes com TEA podem se beneficiar com Cannabis Medicinal
Certamente os pacientes com TEA podem se beneficiar com o uso da Cannabis Medicinal, por conseguir tratar, de uma só vez, inúmeros sintomas ou comorbidades que a acompanham. Para pacientes e familiares, certamente, é uma possibilidade que traz esperança de dias melhores para todos.
Pacientes com TEA que precisam fazer tratamentos odontológicos e normalmente precisam receber até anestesia geral para receber um simples tratamento, com a utilização da Cannabis medicinal conseguem realizar normalmente os cuidados bucais, sem ansiedade nem sobrecarga sensorial que inicie uma crise.Quer saber como iniciar seu tratamento ou encontrar um profissional prescritor? Fale com nosso Suporte para mais informações.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.