Quando o diagnóstico de câncer é proferido, inicia-se uma batalha para conter o desenvolvimento da doença, muitas vezes agressiva, acompanhada de dores e mal estar devido, em grande parte, ao tratamento quimio e radioterápico. A terapia canabinóide, hoje, pode auxiliar os pacientes a manterem sua qualidade de vida durante o tratamento ou, nos piores prognósticos, servir como cuidado paliativo, garantindo a dignidade do paciente..
Também designada como tumor maligno ou neoplasia, a doença se refere ao crescimento de células anormais, que podem se fixar numa parte específica do corpo ou se espalhar para outros órgãos – o que chamamos de metástase.
Costuma-se designar de benigno o tumor que cresce encapsulado e tem pouca ou nenhuma possibilidade de metástase. Já os tumores ditos malignos não são encapsulados, crescem desordenadamente e suas células podem se desprender, cair na corrente sanguínea e se desenvolver em outras áreas do corpo.
O tratamento do câncer pode passar por quimioterapia, radioterapia e intervenção cirúrgica. Todas estas intervenções podem ou não ser indicadas de acordo com a avaliação da equipe médica para cada caso, podendo ser prescritas também técnicas de terapia integrativa, para auxiliar o paciente a passar por esse período delicado..
Sendo a segunda principal causa de morte no mundo, segundo a OMS, o grande foco do tratamento são os cuidados paliativos, para aqueles prognósticos sem possibilidade de cura. A terapia canabinóide permite que o paciente consiga viver mais confortavelmente, lidando inclusive com efeitos colaterais dos tratamentos recomendados, como a quimioterapia, e pode ser um adjuvante ao tratamento com opióides.
Cannabis medicinal: efeitos na dor
Em artigo recente na PEBMED falando sobre tratamentos de dor com a Cannabis Medicinal, foram citados 28 estudos com 2454 pacientes, controlados por placebo e sem uso de outros medicamentos para a dor.
Estes estudos incluíram pacientes com dores neuropáticas, dor oncológica e relativa ao período de quimioterapia, entre outras. Os resultados demonstraram que a terapia com canabinóides proporcionou analgesia e que melhorou a qualidade de vida dos pacientes pesquisados.
Segundo o professor médico Carlos Marcelo de Barros, professor de anestesiologia, dor e cuidados paliativos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alfenas, em Minas Gerais, apesar de existirem receptores para canabinóides ao longo de todo o percurso nervoso da dor — do local onde ela surge até o cérebro —, os estudos que focam só nesse sintoma mostram que o alívio acaba sendo mínimo. “No entanto, nos trabalhos que avaliam o contexto geral, a história é outra”, garante. “A pessoa dorme melhor, fica menos ansiosa e menos deprimida, sente menos enjoo, come melhor. E, nesse estado, é como se notasse menos a dor que sente, aumentando o limiar da percepção.”
Além da melhora na dor, é de se considerar que o uso da terapia canabinóide ajuda a diminuir o uso de opióides.
Melhora na dor e redução de opióides
Num estudo da Universidade Federal da Paraíba, encontramos o seguinte: “além da utilização exclusiva de canabinóides, foi avaliado que há uma sinergia farmacológica entre opióides e canabinóides que permitem sua utilização conjunta potencializando seus efeitos analgésicos, e ainda promovendo a diminuição nas taxas de tolerância e vício na droga (Lessa, 2016).
Em um estudo feito por Haroutounian et. al em 2016 e Vigil et. al em 2017, foi observado que pacientes portadores de dores crônicas ao serem submetidos a tratamentos com cannabis alcançaram resultados satisfatórios, promovendo melhoras nas dores, qualidade de vida, vida social, atividades em geral e na concentração. No estudo de 2017 3,4% dos pacientes cessaram a utilização de opióides substituindo totalmente dentro dos 3 meses, e no de 2016, 44% diminuíram as doses de opioides consumidas.”
Em outro artigo, da National Library of Medicine, onde é tratado o uso da cannabis medicinal para dor, encontramos: “Evidências pré-clínicas e clínicas crescentes parecem apoiar o uso de cannabis para esses fins. As evidências resumidas neste artigo demonstram o potencial da cannabis para aliviar os sintomas de abstinência de opióides, reduzir o consumo de opióides, melhorar o desejo por opióides, prevenir a recaída de opióides, melhorar a retenção do tratamento de OUD e reduzir as mortes por overdose. O maior potencial da cannabis para impactar positivamente a epidemia de opioides pode ser devido ao seu papel promissor como analgésico de primeira linha no lugar ou em adição aos opioides.”
Qualidade de vida – por que melhora?
A qualidade de vida é um conceito subjetivo, mas passa por questões bastante objetivas, como dormir bem, ter apetite, sentir o sabor dos alimentos, sentir-se bem após refeições, ter disposição física, mental e emocional para tarefas diárias, para trabalhar, para lazer, para se relacionar.
Quando qualquer um desses fatores é alterado, por limitações físicas, mentais ou por ocorrência de dor, a qualidade de vida do indivíduo é prejudicada e não fica estanque nele, pois afeta a todos que convivem diretamente com a pessoa.
Por esse motivo, quando sabemos que a terapia com canabinóides ajuda um paciente a resgatar sua qualidade de vida globalmente, diminuindo a ansiedade, tranquilizando, melhorando o sono, diminuindo a náusea, suprimindo a inflamação e a dor, não é possível desconsiderar o uso desse tipo de intervenção.
E não estamos falando de algo somente anedótico, existem estudos comprovando estes resultados.
Um destes estudos, publicado em agosto de 2022 na Liebert Pub, avaliou o potencial de 5 canabinóides diferentes no controle de náuseas, verificando se os resultados se diferenciavam em organismos masculinos e femininos.
Foi testado o potencial anti náusea do THC, CBD, ácido canabidiólico (CBDA;) e oleoil alanina (OlAla) em ratos machos e fêmeas. Os resultados sugerem que os canabinóides podem ser igualmente eficazes no tratamento de náuseas em homens e mulheres, atuando de forma “dose dependente”.
Outro estudo, publicado na Pubmed, verificou o efeito da cannabis medicinal na dor e na qualidade de vida, considerando uma população de amostra de 274 pacientes, que responderam questionários durante o tratamento, por 6 meses. O tratamento da dor crônica com cannabis medicinal resultou em melhora da dor e dos resultados funcionais, além de uma redução significativa no uso de opióides nesse grupo de pacientes.
CBD contra o câncer?
É tendencioso afirmar que a terapia com canabinóides atua “contra o câncer”. Existem, sim inúmeras pesquisas, mas com resultados inconclusivos.
Por este motivo é importante enfatizar que o uso da terapia canabinóide, em casos de câncer, servirá para diminuir o mal-estar advindo dos quimioterápicos – como a falta de apetite, náuseas – e quadros de ansiedade e insônia, resultantes do momento de vida do paciente.
Para os profissionais que queiram se aprofundar nas pesquisas que vêm sendo realizadas, recomendamos a leitura do artigo da revista Nature, falando sobre o status atual da pesquisa pré-clínica sobre canabinóides como drogas anticancerígenas. Nele há citações sobre pesquisas in vitro que demonstraram mecanismos de inibição de crescimento tumoral, bem como de processos de multiplicação e migração de células cancerígenas, além da indução à apoptose (morte destas células) e à autofagia das células anômalas. Este mesmo artigo ressalta, porém, que estes resultados não foram ainda encontrados em testes com animais.
Outro artigo publicado na Liebert Pub relata o estudo investigando o efeito do uso de canabinóides sintéticos em células tronco leucêmicas. A conclusão foi que o canabinóide sintético estudado “pode fornecer um efeito terapêutico na patogênese da leucemia”, mas ainda são necessários mais estudos para esclarecer esses mecanismos.
Portanto, existem estudos sendo feitos, mas ainda nenhum além de estágio pré-clínico e não é recomendável dar falsas esperanças nesse sentido.
Como é vista a terapia canabinóide por pacientes e médicos?
Os Estados Unidos acaba de fazer uma grande pesquisa, relatada em artigo na Liebert Pub, e o resultado mostrou que mais da metade da população vem usando CBD (canabidiol) medicinalmente, sendo que o câncer é uma das dez principais indicações.
Entre os pacientes, o CBD foi considerado mais seguro para ser usado por 75% dos entrevistados, por não ser viciante, não ter perigo de ser ansiogênico, ser permitido legalmente e recomendado com mais abertura pelos profissionais de saúde do país.
Estes pacientes também consideravam o CBD útil no gerenciamento de sintomas que acompanhavam o tratamento oncologico.
É interessante deixar abaixo alguns comentários dos pacientes, coletados nessa pesquisa, sobre a terapia com o CBD:
“Acho que não poderia tolerar a imunoterapia se não estivesse tomando o óleo CBD.”
“Não fico “alto”com CBD.”
“CBD é um bom produto porque você pode continuar ativo”
“CBD me permite continuar trabalhando.”
É importante lembrar que o THC também pode fazer parte da terapia em cuidados paliativos, em dosagens específicas para cada paciente, conforme a prescrição do médico. A pesquisa acima mostrou que os pacientes entendem a terapia canabinóide somente como “CBD”, enquanto os médicos entrevistados receitam CBD e THC, de acordo com a necessidade individual do paciente.
THC e CBD atuam de forma sinérgica e a quantidade terapêutica máxima permitida de THC ainda é muitas vezes menor do que a contida em cepas de Cannabis usadas de forma recreativa. Some-se a isso que o uso concomitante do CBD na formulação diminui ainda mais a ocorrência de possíveis efeitos colaterais.
É importante saber que hoje existe capacidade técnica adequada para a prescrição diferenciada para cada caso. Por isso, se você ou alguém de sua família quer iniciar o tratamento com Cannabis medicinal, fale com nosso Suporte. Podemos indicar profissionais habilitados para prescrever e prestamos consultoria gratuita para autorização de importação dos produtos junto à Anvisa – além de garantirmos uma entrega mais rápida.
Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.