Por Ana Claudia Marques
Falar sobre Cânhamo Industrial é discorrer sobre o enorme potencial reciclável dessa variável de Cannabis sativa. É também tentar reeducar uma população inteira sobre o mito de que toda planta nomeada como “cannabis” é alucinógena.
Nos juntamos ao coro de profissionais bem informados para explicar, mil vezes se preciso for, que o Cânhamo possui menos de 0,3% de THC (que confere o potencial alucinógeno de outras espécies de cannabis, que chegam a ter de 4 a 20% de THC).
Só esse fato seria o suficiente para que a legislação brasileira saísse do obscurantismo e regulamentasse o plantio dessa espécie, para que o Brasil pudesse, literalmente, colher os benefícios já amplamente verificados, documentados e convertidos em capital circulando e melhorando a economia de outros países.
Além disso, a espécie Cânhamo é aproveitada integralmente por dezenas de indústrias.
O alto teor de canabidiol (CBD) em suas raízes possibilita a confecção de remédios essenciais para pacientes que sofrem de diversos males.
Suas sementes, que não tem potencial alucinógeno, são ricas em nutrientes e usadas largamente na indústria alimentícia em outros países.
Suas fibras, altamente resistentes, servem para inúmeras indústrias: cordas, lonas, tecidos, mantas térmicas ecológicas, concreto biossustentável, plástico biodegradável, e muitas, muitas outras utilidades.
Já falamos disso em outro artigo, mas repetimos novamente: o Brasil está perdendo uma grande oportunidade de crescimento econômico ao manter embargos absurdos e retrógrados ao plantio do Cânhamo Industrial.
Hoje vamos falar sobre o uso da planta para a produção do Bioplástico.
Plástico comum versus bioplástico
Seja na praia, no campo ou nas ruas da cidade, pode observar, o que mais se encontra é resíduo plástico. Saquinho voando, garrafa pet boiando, copos descartáveis, pedaços de brinquedos, embalagens de cosméticos… tudo jogado, largado, indo para o mar, para o mangue, para os rios, para o estômago de animais que não conseguem distinguir plástico de alimentos.
São muitos pontos negativos para o plástico comum. Produzimos lixo plástico que não é reciclável, não retorna à natureza e se acumula também em lixões, nas periferias das grandes cidades – ironicamente, nas bordas de reservas de matas nativas.
A produção de plástico a partir do petróleo descarrega CO2 na atmosfera, comprometendo a qualidade do ar que respiramos. Sua decomposição só vai acontecer depois de 100 anos – e até lá, já fez muito mais estrago, poluindo o meio ambiente.
O bioplástico, por sua vez, não é chamado assim somente por vir da planta, mas porque, sendo feito de celulose vegetal, se decompõe na natureza em apenas 6 meses, alimentando o antigo ditado: “nada se perde, tudo se transforma”.
É óbvio que o bioplástico, dessa forma, se torna interessante para o uso de descartáveis, como copos, canudos, garrafas pet, que não se juntarão às suas companheiras tradicionais ocupando espaço em lixões.
Mas o bioplástico também pode ser mais resistente e durável, quando combinado com outros elementos – e diversas indústrias já vêm experimentando este uso, inclusive a automobilística, em carros elétricos modernos, como a BMW.
Bioplástico a partir do Cânhamo Industrial
O bioplástico produzido a partir da celulose das fibras do cânhamo, além de 100% biodegradável, é bastante resistente, possui estabilidade térmica e não se desestabiliza com a ação do sol (não amarela, não trinca, não descora…).
Mas as vantagens não param por aí.
Comparação de bioplástico de cânhamo e de outras fontes
Os bioplásticos que encontramos aqui no Brasil são, em sua maioria, feitos a partir de celulose obtida da madeira, do algodão, da cana-de-açúcar. A grande diferença entre eles é lá no início: no plantio dessa fonte renovável de matéria-prima.
O plantio de Cânhamo Industrial consome quatro vezes menos água do que o plantio de algodão. Um hectare de Cânhamo produz praticamente cinco vezes mais que um hectare de algodão.
Como se não bastasse, o cânhamo é uma planta bastante resistente à pragas e não desgasta o solo. Ou seja, não é necessário o uso de agrotóxicos em grande quantidade, poluindo nossos lençóis freáticos, como é o caso da cultura do algodão – uma das maiores consumidoras de agrotóxicos.
O algodão e a cana-de-açúcar são culturas que empobrecem o solo, que, novamente, precisa ser preparado com compostos químicos para novas safras – mais impacto nos lençóis freáticos. Já o Cânhamo não desgasta o solo, ao contrário, ajuda a renová-lo, e é ótimo para rotacionar com outras culturas, até porque ajuda a combater ervas daninhas naturalmente.
A cereja do bolo é que as abelhas amam polinizar o cânhamo e isso é vital para a manutenção da cadeia alimentar da natureza.
Quanto ganha quem já planta o cânhamo industrial?
Os países que já permitem a plantação de cânhamo industrial vem movimentando um volume de bilhões de dólares anuais. Segundo estimativas da Reports and Data, o mercado movimentará 27 bilhões de dólares até 2027.
O Brasil, terra do agronegócio, está perdendo divisas importantes, devido a um entrave jurídico, a estas alturas, irresponsável. Sem leis que tirem o Cânhamo Industrial do estigma de “droga ilícita” e o controle do plantio dessa espécie das mãos da ANVISA, continuaremos à margem da história e dos países economicamente desenvolvidos e em busca de soluções sustentáveis para o planeta.
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Ana Claudia Marques é redatora da CBD Fast Lane, escritora, Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Medicina Tradicional Chinesa e terapias integrativas, além de estudiosa sobre o potencial terapêutico das plantas.