O aumento da expectativa de vida no Brasil trouxe junto um crescimento dos números de doenças típicas causadas na velhice. Responsável por cerca de 70% dos casos de demência em idosos¹, a Doença de Alzheimer é uma delas. Ela afeta principalmente pessoas acima dos 65 anos e é classificada como neurodegenerativa, causando uma progressiva perda de memória. Agitação psicológica e motora, depressão, transtornos afetivos com isolamento social; falha no reconhecimento facial e até aumento de agressividade são alguns dos sintomas mais frequentes.
É uma doença difícil de ser diagnosticada, uma vez que muitos dos sintomas podem estar atrelados ao próprio processo de envelhecer ou relacionados à demência senil. Mesmo assim, quando identificada, ela representa inclusive um alto custo econômico para o Estado por impossibilitar que o doente consiga levar sua vida normalmente.
Como tratamento, a maioria dos medicamentos são poucos eficazes e apresentam muitos efeitos colaterais. Na procura por alguma substância que consiga retardar o processo da progressão da doença, a Revista Brasileira de Neurologia publicou em 2019 uma revisão² que confirma que alguns compostos da Cannabis – o tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) – podem proporcionar efeito restaurador neurológico.
Em termos gerais, a Doença de Alzheimer afeta o sistema nervoso por meio de uma perda progressiva da função mental, degenerando o tecido do cérebro, causando a perda de células nervosas, a acumulação de proteína beta-amiloide, que é anormal no organismo, e o desenvolvimento de tranças neurofibrilares. Essas partes do cérebro degeneradas destroem as células nervosas, deixando a capacidade de resposta das células, que sobraram, muito danificadas. Os sinais emitidos pelos neurotransmissores, principalmente o que ajuda na memória (acetilcolina), ficam comprometidos, resultando nos sintomas de baixo aprendizado e concentração³.
Segundo publicação na PubMed, apenas 20% dos remédios vendidos no Brasil para o tratamento de Alzheimer apresentam alguma eficácia, mesmo possuindo uma função neuroprotetora⁴. Os efeitos colaterais ainda incluem vômito, perda de peso, insônia, infecção urinária e diarreia. E são nessas adversidades que o uso da Cannabis medicinal para o tratamento dessa doença ganha espaço.
Os dois principais compostos da Cannabis, THC e CBD, foram testados em laboratório nos estágios iniciais da doença. O CBD apresentou propriedades neuroprotetoras, antioxidantes e anti-inflamatórias e atua diretamente na diminuição da formação de emaranhados neurofibrilares. O THC alivia os sintomas que o Alzheimer causa, como a insônia. O desempenho desses fitocanabinoides estão diretamente relacionados à amenização e retardamento dos sintomas, diminuindo consideravelmente o rápido efeito progressivo da doença. Quando manipulados e indicados ao tratamento, observa-se uma melhora no bem-estar emocional, mobilidade, sintomas psicóticos e no sono, tudo isso sem haver relato de mais efeitos adversos no uso dessas substâncias, comparado aos medicamentos não naturais.
Com a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da venda do primeiro medicamento de Cannabis em abril de 2020⁵, essa alternativa positiva pode ganhar ainda mais relevância no cenário nacional para o tratamento da Doença de Alzheimer e muitas outras.
2- http://neuro.org.br/site/wp-content/uploads/2019/07/revista552-v2.2-1.pdf