Quem nunca sentiu um incômodo por ter algum tipo de dor inflamatória, atire a
primeira pedra. Dor de cabeça e nas articulações, depois de praticar algum
exercício ou, claro, depois de se machucar. Os sintomas são praticamente os
mesmos em toda situação: vermelhidão, calor, inchaço, dor e dificuldades em mover
a zona afetada do seu corpo com normalidade. Interno ou externo, o que muda é se
você estará vendo a região começar a inchar ou não.
O fato é que pode incomodar. E muito. O uso de medicamentos convencionais pode
causar efeitos colaterais e, quando usados massivamente, dependência. Tomar
aquele remedinho para dor de cabeça todo dia após o trabalho pode fazer muito
mais mal do que se pensa. Existe claramente uma necessidade de se
desenvolverem alternativas para o alívio da dor aguda e crônica sem precisar fazer
o uso dos opioides, já que estes se tornam ineficazes, quando o seu uso é
corriqueiro.
Algumas possibilidades vêm se concretizando durante os últimos anos, a fim de
evitar essa prática. Massagem, acupuntura e meditação são opções que aliviam
dores inflamatórias pontuais. Estabelecimentos foram, inclusive, criados para suprir
esse mercado que conta com uma demanda cada vez maior.
Outro caminho viável é o uso de canabidiol. Extraído da Cannabis sativa, a
substância tem um grande potencial analgésico. Nos últimos anos, há a legalização
do uso medicinal da planta em muitos locais ao redor do mundo, possibilitando a
realização de vários estudos acerca do tema.
Em 2019, um trabalho publicado na revista Phytochemistry1, realizado por um grupo
de cientistas da Universidade de Guelph (Canadá), revelou que existem moléculas
da Cannabis que ajudam a combater a dor e que ela pode ser até 30 vezes mais
poderosa do que a aspirina, por exemplo. Sem contar que seu uso é natural e muito
menos aditivo do que os medicamentos convencionais.
A pesquisa combinou bioquímica e estudos genômicos para entender como o uso
da substância pode trazer esse tipo de resultado. A descoberta foi que a produção
das moléculas canflavina A e canflavina B atuam diretamente como analgésicos e
anti-inflamatórios potentes no organismo do ser humano. Elas atingem diretamente
a dor e não são psicoativas, não permitindo que o sistema nervoso central seja
afetado, efeito colateral causado pelos opiáceos ou pelo THC (outra substância
encontrada na Cannabis).
O estudo aborda a possiblidade de usar essas moléculas para criar uma classe de
analgésicos que não causem dependência. E isso chegou inclusive no mundo dos
esportes: atletas de alto rendimento estão trocando o ibuprofeno anti-inflamatório
pelo CBD. As dores musculares recorrentes, provocadas pelos exercícios físicos
intensos, são a principal queixa desta classe que convive com a dor e deseja parar
de abusar dos comprimidos.
A grande novidade é que, desde 2018, a Agência Mundial Antidoping (WADA)
excluiu o CBD da lista de substâncias proibidas para consumo dos atletas. É um
caminho longo, mas essas aberturas ocorridas ano após ano deverão trazer mais
confirmações positivas sobre o tema.
1 – https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0031942218303819?via%3Dihub