Cada vez mais está sendo possível enxergar uma saída com medicamentos à base de Cannabis para determinados tipos de doenças. Este tipo de medicamento, composto de canabidiol, pôde ser importado para o Brasil depois de publicação da RDC nº 17 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 6 de maio de 2015. Com isso, enfermidades como Alzheimer, autismo, dores crônicas, epilepsia, ansiedade, entre outras, receberam alternativas aos opioides e comprimidos.
Em dezembro de 2019, a Anvisa publicou a RDC nº 327, autorizando a venda de produtos à base de Cannabis em farmácias e, em janeiro de 2020, a RDC nº 335 que facilita a importação individual para fins terapêuticos de quaisquer produtos importados.
A aposentada, Emilze Pereira Gambardella, de 81 anos, é uma das pessoas que se beneficiaram dessas novas normas. Diagnosticada com a Doença de Alzheimer, ela começou a usar a Cannabis medicinal três meses atrás. Conversamos com seu filho, Osman Gambardella, para nos contar como está sendo esse processo, se houve alguma mudança na vida de Emilze e para os que convivem com ela.
Confira:
Entrevistador: Sua mãe usa o medicamento de CBD? Desde quando ela o utiliza? Qual o produto e dosagem?
Osman Gambardella: Ela usa o CBD Calm (podendo ser encontrado em https://cbdfastlane.com/produtos/) há mais ou menos uns três meses. No primeiro mês, ela tomou o de 3.000mg e depois passou a tomar o de 1.500mg.
Entrevistador: Houve melhoras após o uso da medicação?
OG: Ela teve uma melhora sim. Ela está com Alzheimer e tem um processo inicial de esclerose. Afeta um pouco a mente. Ela estava extremamente confusa, já não tinha mais memória recente e lembrava apenas de coisas mais antigas. Após o diagnóstico, começou a ter perda de apetite, não comia. Era uma dificuldade para dar comida para ela. Diante desse quadro, resolvi falar com médicos que já tinham lido muito sobre o CBD e resolvi tentar. Ela teve uma melhora substancial, a memória da minha mãe melhorou muito. Ela passou a ter uma alimentação e um sono normal. Mais ou menos depois de um mês, eu indiquei para a minha sogra também, que não estava com um quadro tão debilitado, quanto à minha mãe, mas que estava sofrendo também de perda de memória recente. Por ter perdido meu sogro há três ou quatro anos, ela ainda vivia uma fase muito difícil, morando sozinha. Eu poderia dizer que minha mãe, que eu acompanhei diretamente e minha sogra também tiveram uma melhora muito boa. Foi muito bom.
Entrevistador: Que boa notícia! Normalmente as pessoas apresentam uma melhora significativa mesmo. A pergunta foi no sentido de saber o grau da melhora dela.
OG: Ela está muito mais animada. Antes ela dormia muito, ficava muito tempo deitada. Depois do medicamento, ela mudou da água para o vinho. Agora se levanta, vai para a sala de televisão, desce, dá uma volta no condomínio… mudou bastante.
Entrevistador: Em algum momento, ela teve alguma reação ao medicamento?
OG: Elas – tanto minha mãe quanto à minha sogra – tomam outros remédios. Mas elas não apresentaram nenhum efeito colateral, nenhuma interação com qualquer outra medicação que faz uso: continuaram os remédios de forma normal e houve uma melhora efetiva, notadamente por todos, pela família toda, tanto do meu lado quanto ao lado da minha esposa que fica mais com a minha sogra. Todos notaram que houve uma evolução boa. A minha irmã, que cuida constantemente e fica o dia inteiro com a minha mãe, falou que a mudança foi muito grande. Todas elas querem e continuam tomando: quando percebem que está acabando, já avisam que precisa trazer o “remedinho”.
Entrevistador: Do seu ponto de vista, quais são os fatores que mais atrasam o início do tratamento dos pacientes com este tipo de medicamento?
OG: O que é mais difícil é a legalização. A Anvisa e os órgãos regulamentadores poderiam facilitar a vida, fazendo uma divulgação maior, com uma orientação de maior impacto. Muita gente não tem conhecimento nenhum do que é, muito menos de como usar. Ouve falar, não sabe se está falando de canabidiol ou se está falando de maconha… não tem conhecimento nenhum. Inclusive no meio médico, entre os profissionais da saúde, falta muita informação. Eu acho que muito disso é por conta de uma restrição muito violenta na divulgação desses produtos. Se houvesse uma liberação e uma flexibilização maior para que se pudesse fazer um trabalho mais amplo, isso poderia ter muito benefício, quebrar o tabu de muita gente. Estamos falando de um remédio e não de uma droga. Mas acho que falta um pouco de esforço ainda dos nossos governantes para liberarem uma campanha maior no sentido de orientação. Falta informação para as pessoas. Não digo nem que é uma questão de ter a cabeça aberta: o fato é que não tem conteúdo, onde as pessoas possam buscar para se informar melhor.